20/12/2019 - Meios de pagamento: o fim da era do ´ou´ para o ´e´
VoltarFOLHA DE S.PAULO
Por: Pedro Coutinho
Participei de palestras em que debatemos dois temas bastante relevantes: perspectivas para o Brasil e o setor de meios eletrônicos de pagamento e o novo cenário competitivo no mercado de credenciamento.
Neste ano, percebi em diferentes momentos uma preocupação em torno dos “devices” (dispositivos) espalhados por todo o país, que somam mais de 10 milhões. A pergunta é a mesma de sempre: os dispositivos, as maquininhas, vão deixar de existir? Gosto de responder a essa pergunta de uma maneira muito simples: não estamos vivendo no mundo do “ou”, que determina ou a máquina de cartão ou o e-commerce, ou o pagamento instantâneo ou a TED bancária. Estamos em um mundo que respira o “e”, onde tudo se complementa e há espaço para todos os tipos de tecnologia, públicos e consumidores.
A tão comentada “guerra das maquininhas” trouxe ganhos significativos para os consumidores com mais opções, eficiência, digitalização e bancarização para a economia como um todo —e tem sido utilizada como exemplo de competitividade por alguns economistas.
Particularmente, não gosto de usar o termo “guerra” nesse contexto. O que estamos vivendo, sim, é um exemplo de concorrência, e quem está se beneficiando são os consumidores e os estabelecimentos. Um setor que saiu de duas empresas, em 2010, para mais de 20 credenciadoras e 200 fintechs relacionadas a pagamento em nove anos pode ser chamado de exponencial. Isso exige, claramente, investimentos pesados em infraestrutura, inovação, gente, esforços de todos e do órgão regulador para deixar esse jogo justo. Ou seja, para que os concorrentes possam, de fato, concorrer somente pelo consumidor, respeitando as regras de mercado e cuidando bem dos clientes.
A “guerra” da indústria de pagamentos eletrônicos é contra um único oponente, o dinheiro em espécie, que custa caro para os cofres públicos e também para as empresas, gerando ineficiência por todas as partes. Vejo um cenário muito positivo para 2020 em meios de pagamento, estimulado pela economia, influenciando todos os segmentos.
As projeções da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) para o crescimento do setor ainda neste ano estão entre 17% e 19%, podendo movimentar mais de R$ 1,9 trilhão em transações eletrônicas, o que representará 28% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Mais do que nunca, o mundo do “e” se conecta com negócios e com consumidores, com tecnologias e com diferentes experiências.
Para o futuro, as expectativas são relevantes: atingir 60% dos gastos das famílias (hoje em torno de 38%, chegando em 43% ao fim do ano que vem), ter a multicanalidade permeando todos os produtos de pagamento e a interoperabilidade de todas as formas. QR codes, wallets e, mais do que isso, deixar em primeiro plano o cliente, dando a ele benefícios reais, voz e preferência em todos os sentidos.