13/09/2019 - Anuidade de cartões de crédito aumenta mais que a inflação
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Com o surgimento de fintechs — empresas que prestam serviços financeiros (fin) de forma mais tecnológica (tech) — e bancos digitais, o número de emissores de cartões de crédito no Brasil tem crescido bastante. Mas se muitas dessas empresas oferecem cartões sem anuidade, ainda existe um número alto de clientes que ainda paga a tarifa anual para ter o produto. E a novidade ruim é: as tarifas estão ficando mais caras, contrariando a lógica de que quanto mais empresas oferecem algo, mais barato esse produto fica.
Segundo dados do Banco Central, somadas as seis principais bandeiras do país (Visa, Mastercard, American Express, Diners Club, Elo e Hipercard), a anuidade média praticada por elas ao longo de 2018 foi de R$ 139,45. E esse número é 13,4% maior do que a média de 2017 e 15,1% maior do que o registrado em 2016.
Sem o aumento da competição, porém, o cenário poderia ser ainda pior. Levando-se em consideração apenas as duas maiores bandeiras do mercado (Visa e Mastercard), a tarifa média da anuidade chegou a R$ 156,80 em 2018. No final de 2017, esse valor era de R$ 147,90. A alta foi de 6%. Apesar de o aumento percentual ser menor, em termos absolutos (dinheiro) é mais grana saindo do seu bolso.
Contando que a inflação ficou na média em 3,66% entre 2017 e 2018, a alta das anuidades foi muito maior do que o aumento geral dos preços. Os dados do Banco Central são informados pelos emissores dos plásticos e consideram a média de todas as anuidades efetivamente pagas, sem incluir na conta os casos em que houve isenção de 100% da tarifa.
E o meu cartão? Aumentou?
O levantamento feito pelo Banco Central mostrou que os cartões de quatro das principais bandeiras tiveram aumento no valor médio da tarifa de anuidade no ano passado. A média do preço praticada pela Visa em 2018 foi de R$ 146 ante R$ 138 de 2017. Na Mastercard, a média saiu de R$ 157 para R$ 167. Na Elo a alta foi de R$ 57 para R$ 75. Por fim, na American Express, o valor mais que dobrou: saiu de R$ 69 para R$ 144, o que explica parte da alta da média geral.
No caso da American Express, a mudança faz parte de um posicionamento da marca em voltar a atender apenas clientes de alta renda, explica Fabrício Winter, sócio da consultoria Boanerges & Cia (especializada no mercado de cartões). Segundo o especialista, esses usuários geralmente têm cartões de categorias mais altas e, consequentemente, anuidade maior.
Apenas Diners Club e Hipercard tiveram queda no valor médio de suas anuidades. Na primeira, a tarifa teve redução mínima, saindo de R$ 156,5 para R$ 154,9. Já na segunda, a anuidade saiu de R$ 158,3 para R$ 147,8.
O que justifica a alta?
Segundo Winter, a anuidade pode ter aumentado por causa de uma elevação da própria demanda. "No final do ano, que é época de compras, por exemplo, mais gente pede cartão de crédito, então são feitas emissões com anuidades mais altas. E como o cliente que pediu, ele precisa do produto, ele acaba pagando aquele valor", afirma. Ele explica ainda que, com a recuperação (ainda que gradual) da economia, mais pessoas passaram a usar o produto.
Outra explicação para a alta da anuidade média praticada é o que Winter chama de "platinização dos cartões", no qual o emissor oferece ao cliente trocar seu cartão por outro de uma categoria mais alta, como a Platinum, em troca de determinados benefícios, como um programa de pontos mais vantajoso. A anuidade, no entanto, aumenta. "Mas é claro que tudo depende de quanto a demanda aceita esse movimento e, nos últimos anos, estamos vendo que o cliente não tem se incomodado", afirma.
Cartões sem anuidade
O especialista reconhece que os emissores tradicionais, como os grandes bancos de varejo do país, têm oferecido produtos mais baratos, como cartões que "zeram" a anuidade se o cliente gastar mais de um determinado valor por mês ou até mesmo cartões sem taxas. Ele afirma, porém, que esses produtos são destinados a classes específicas de correntistas.
"Eles têm esses produtos para concorrer com empresas como o Nubank (fintech de cartões com anuidade zero). Mas o banco continua apostando no marketing dele. Para um cliente com outro perfil, de renda maior, por exemplo, ele continua oferecendo um produto com anuidade, que tenha outras características", afirma.
Ele acredita, contudo, que a tendência é que os cartões de crédito realmente barateiem. "Vamos ver um acirramento cada vez maior na competição. E é provável que com outros bancos, principalmente os digitais, e fintechs colocando mais produtos no mercado, os emissores tradicionais precisem baratear seus produtos", diz.
Apesar de os bancos não mostrarem em seus balanços trimestrais o quanto eles ganham apenas com anuidade de cartões de crédito, as receitas provenientes de "tarifas com cartões" não mostram uma tendência clara. Enquanto Itaú e Caixa Econômica mostraram uma queda no último trimestre de 2018 ante o mesmo período de 2017; Santander e Banco do Brasil tiveram alta. No Bradesco, o valor ficou estável.
Procurados, Banco do Brasil, Santander e Bradesco não comentaram. A Caixa Econômica afirmou que "tem na sua política de anuidade a cobrança de acordo com os benefícios ofertados", além de ter um "portfólio amplo atendendo desde os clientes que não querem pagar anuidade até os que desejam um cartão mais completo". Já o Itaú informou que "o valor da anuidade dos cartões varia de acordo com os custos envolvidos na operação do negócio - especialmente os relacionados aos serviços prestados aos clientes e uso pelos portadores".
Visa e Mastercard também foram procuradas. Mas disseram que os emissores falariam por elas.
Dicas para economizar com o cartão
Se você percebeu que seu cartão ficou mais caro nos últimos tempos, é preciso ficar atento. Segundo o professor de finanças Rafael Schiozer, da Fundação Getulio Vargas (FGV) a primeira coisa que o cliente precisa saber é o quanto ele gasta com o cartão. "Às vezes ele está pagando a anuidade ali, diluída mensalmente, e nem se deu conta de que ela é cara. Então, é preciso saber o quanto você está pagando para ter aquele plástico", afirma.
A segunda dica, segundo o professor, é negociar com o banco. "Muitas vezes o banco coloca aquela anuidade, mas se o cliente ligar e tentar negociar, ele consegue um bom desconto, às vezes até de 100% do valor, dependendo de quanto usa, do valor que ele tem investido, etc", diz.
A terceira sugestão do professor é cortar cartões "excedentes". "Se você tem vários cartões e não precisa de tanto, cancele. Tem gente que tem por segurança, caso precise de empréstimo. Mas é preciso lembrar que o cartão de crédito é a pior linha em termos de taxa de juros, então, acho que não é uma boa política ter cartão por segurança", sugere.
Por fim, Schiozer aconselha que o cliente calcule bem se o custo-benefício daquele cartão vale a pena. Ele explica que muitas vezes o cliente paga uma determinada anuidade por um programa de pontos mas, no fim das contas, não usa os benefícios. "Nesse caso, vale a pena trocar por um com anuidade zero, por exemplo", diz.