06/09/2019 - Fintech tem ´licença para perder dinheiro´, diz Bracher
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Diante de um ambiente de queda no custo de capital e de aumento da competição, o Itaú Unibanco admite um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) menor no longo prazo. A concorrência no setor financeiro está vindo das fintechs, empresas que, segundo o presidente do banco, Candido Bracher, têm "licença para perder dinheiro".
De acordo com Bracher, enquanto as taxas de juros continuarem baixas no mundo todo, as fintechs vão encontrar um ambiente amigável para crescer sem gerar resultados.
"Se o Itaú fizesse a mesma coisa [perder dinheiro], o regulador ficaria preocupado", afirmou o executivo, em apresentação ontem a investidores na Apimec, mencionando a presença de um representante do BC na plateia. No entanto, Bracher disse que o banco está preparado para competir com as fintechs, o que vai fazer "com intensidade maior".
O ROE recorrente do Itaú Unibanco no primeiro semestre deste ano foi de 23,6% - o maior dentre os grandes bancos atuantes no país. O custo de capital da instituição financeira, por sua vez, caiu para 12,5% no segundo semestre, depois de ter chegado a 16% nos últimos anos.
"Se as condições de mercado estão mudando e a capacidade de gerar valor diminuindo, o ROE inevitavelmente deve cair", disse Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do banco. Segundo os executivos, a queda do custo de capital, aliada à capacidade do banco de gerar resultados, levou a um aumento no retorno aos acionistas. Mas a tendência é que esse retorno seja constante, o que abre espaço para um ROE menor.
A concorrência tem sido alta no mercado de credenciamento, responsável por capturar transações com cartões no varejo. A Rede, credenciadora do banco, reduziu o prazo de pagamento aos lojistas de 30 para dois dias e reduziu taxas nas transações com cartão de crédito, pressionando a receita nessa atividade.
Nesse segmento, a competição deve continuar, segundo o banco. A expectativa, nesse caso, é compensar a pressão em receita com um volume maior de operações e, se possível, queda da inadimplência. Nesse sentido, segundo Bracher, a economia brasileira tem "todos os elementos alinhados" para voltar a crescer, embora "naturalmente, temos um mundo que não ajuda."
Bracher afirmou que é impossível saber, neste momento, onde o banco estará daqui a cinco anos, diante das transformações tecnológicas, mas o norte tem de ser atender melhor os clientes. "Não temos todas as respostas sobre onde o mercado vai estar em cinco anos, mas temos um norte claro. Temos certeza de que vamos ter de estar muito mais próximos e atendendo melhor nossos clientes."
Segundo o executivo, é equivocada a crença de que, ao se colocar a satisfação dos clientes em primeiro lugar, a rentabilidade fica prejudicada. O executivo afirmou que os clientes satisfeitos geram dez vezes mais receita que os insatisfeitos e duas vezes mais que os neutros.
Pedro Moreira Salles, copresidente do conselho, disse que é importante criar um ambiente que favoreça o banco a se adaptar às novas tendências. "Não sei o que será uma instituição financeira daqui a dez anos. Suspeito que não seja o que é hoje elevado a menos um. Em vários aspectos será parecido com o que é hoje, mas com nova forma de atender o mercado", afirmou.
Setubal, por sua vez, disse que um caminho é ter associações com outras empresas. Como exemplos, citou os investimentos na Porto Seguro e na XP Investimentos, em que o banco é minoritário. "No mundo de hoje, bastante complexo, essa capacidade associativa nos abre portas muito interessantes para o futuro."