23/08/2019 - SumUp pretende virar banco digital para público de baixa renda
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NEOFEED
Por: Carlos Sambrana
O executivo Igor Marchesini, fundador da empresa de adquirência SumUp no Brasil e atual responsável pelo crescimento global da companhia presente em 31 países, já mapeou a próxima fronteira de expansão da fintech: virar um banco digital para o público de baixa renda.
Com 500 mil clientes no Brasil, quase 100% deles microempresários individuais, a SumUp vai entrar nas próximas semanas com um pedido no Banco Central para virar Sociedade de Crédito Direto (SCD) e, assim, receber autorização para oferecer empréstimos, conta de pagamentos, cartão de crédito e, mais para frente, investimentos.
“Isso é uma necessidade. Estamos no processo interno e deveremos entrar com o pedido nas próximas duas semanas”, diz Marchesini, com exclusividade ao NeoFeed. Trata-se de uma medida ambiciosa, mas que, segundo o mercado, faz sentido.
Daniel Miranda, gerente-geral da Azulis, que tem um serviço de comparação de maquininhas de cartão, enxerga a medida com bons olhos. “Eles têm uma base grande de clientes e se relacionam bem com eles. As chances de tracionar esses novos produtos são grandes”, diz Miranda.
Ao receber o sinal verde do BC, a ideia é começar a atuar oferecendo crédito para a sua base de clientes. E dinheiro não falta para a SumUp. Em julho, a empresa recebeu um aporte de 330 milhões de euros, o equivalente a cerca de R$ 1,5 bilhão, da Bain Capital Credit, Goldman Sachs Private Capital, HPS Investment Partners e TPG Sixth Street Partners. Deste total, R$ 500 milhões serão injetados na operação brasileira.
A fintech, que faturou R$ 250 milhões no Brasil em 2018, conhece bem a necessidade dos clientes que movimentam um tíquete médio baixo, de no máximo R$ 2 mil por mês. É o microempresário que vende coco, o dono da barraca ou a pessoa que vive de artesanato.
“Esse cara é desesperado por crédito, a conta bancária dele está travada, ele está fora do mercado financeiro”, diz Marchesini. “Tem uma série de coisas que ele precisa como serviço e podemos desenvolver várias soluções para ele.”
O primeiro passo da companhia passa pela modelação do produto de empréstimo. “Estamos dispostos a queimar uma grana para aprender. Preciso chegar no que chamamos de Product Market Fit”, diz Marchesini. Trata-se de achar um jeito de emprestar dinheiro para esse microempreendedor, conseguir cobrar uma taxa justa e fazer o negócio ficar de pé.
Depois disso, diz ele, é “só jogar gasolina na máquina”. O executivo explica que o modo de gestão da SumUp é descentralizado e, por isso, é mais fácil conseguir investimento para a operação. Não há um budget aprovado, se ele consegue mostrar que o negócio faz sentido, recebe o aval para investir rapidamente.
“Podemos começar com US$ 100 milhões e vamos trazendo mais. Brincamos aqui que queremos criar o banco do bem”, diz Marchesini. E a expectativa é alta. Os executivos da SumUp acreditam que metade de sua base buscará esse tipo de empréstimo.
O caminho escolhido pela empresa é igual ao de muitas fintechs que começaram com um único produto e foram expandindo suas atuações à medida que cresciam o número de clientes.
O Nubank, por exemplo, iniciou suas operações com cartão de crédito e hoje oferece conta de pagamentos. A Creditas oferece empréstimos e hoje já estrutura investimentos. Os concorrentes diretos da SumUp também adotaram o mesmo caminho.
O Mercado Pago tem maquininhas, contas de pagamento, cartão de crédito e pretende criar uma plataforma de investimentos. O PagSeguro também partiu das maquininhas para operações bancárias.