20/05/2019 - PayPal vai às compras para diversificar negócios
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Por: Flávia Furlan
Sem a clareza de qual será o modelo dominante de pagamentos no futuro, a plataforma de transações on-line americana PayPal, co-fundada pelo bilionário Peter Thiel, tem usado seu robusto caixa para comprar participações em empresas que atuam em diversas frentes de negócios. A ideia é ampliar a exposição a diferentes produtos, estratégias e regiões, sendo que a América Latina e o Brasil estão entre as prioridades dessa agenda.
"A forma como nos relacionamos com os pagamentos deve mudar mais nos próximos três anos do que mudou nos últimos 20", diz Paula Paschoal, diretora-geral do PayPal no Brasil desde julho de 2017, que recebeu o Valor no escritório da empresa em São Paulo um dia depois de receber autorização do Banco Central (BC) para atuar como instituição de pagamento.
Fundado no fim dos anos 90 e pioneiro em pagamentos on-line, o PayPal foi comprado quatro anos depois pelo site de comércio eletrônico eBay, sendo separado em 2015. Dados do primeiro trimestre deste ano mostram que a empresa tem em caixa o equivalente a cerca de US$ 9,5 bilhões. Publicamente, o presidente da companhia, Dan Schulman, diz que a empresa tem a intenção de gastar US$ 3 bilhões por ano em aquisições.
As compras dos mais variados tipos de negócios têm ficado mais evidentes desde o ano passado. No total, foram quatro contratos fechados, sendo o mais valioso o da empresa de pagamentos sueca IZettle por US$ 2,2 bilhões, no ano passado. Com ela, o PayPal entra no negócio de adquirência, responsável por cadastrar os varejistas para aceitar pagamentos.
Neste ano, foi anunciada a compra por US$ 750 milhões de uma fatia no Mercado Livre, que desenvolveu a carteira digital Mercado Pago e tem forte atuação na América Latina. Segundo Paula, grupos de trabalho com representantes de ambas as empresas estudam a melhor sinergia para as operações. O PayPal aportou ainda outros US$ 500 milhões no Uber, para atuar em "negócios disruptivos".
"Há espaço para mais aquisições e oportunidades no Brasil fazem sentido", diz Paula. "Buscamos uma base de cliente engajada e diferentes setores, de inteligência artificial a microcrédito."
De acordo com a executiva, olhando para o futuro, é difícil prever quais tecnologias vão se destacar, embora compras via QR Code estejam ganhando espaço, assim como o uso do blockchain. Paula diz que é preciso considerar as particularidades de cada mercado. Um exemplo: no Brasil, um quarto das compras no comércio eletrônico ainda é feito por boleto bancário.
O PayPal vê o Brasil como uma das fronteiras para o crescimento, ao contrário de Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, onde a operação está mais madura. No Brasil, há 70 milhões de compradores digitais, enquanto a empresa tem 4 milhões de usuários ativos - no mundo, são mais de 270 milhões. Esse potencial se sobressai diante do cenário político e econômico que, segundo a executiva, é preocupante.
Em relação ao ambiente para os pagamentos no Brasil, a executiva diz que está cada vez mais competitivo. No entanto, a companhia vê com bons olhos a atuação do BC. Na última segunda-feira, o regulador autorizou o PayPal a funcionar como instituição de pagamento, na modalidade emissor de moeda eletrônica, resposta que a empresa esperava há cinco anos. Com isso, a empresa poderá gerenciar conta de pagamento do tipo pré-pago, na qual os recursos são depositados previamente. De acordo com Paula, não existe nenhuma mudança imediata na operação. "Tudo isso só reforça o fato de encararmos o Brasil como uma das grandes potências para a empresa."