28/03/2019 - Crediário atrai grandes empresas de cartões
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Por: Flávia Furlan
Exemplo da divergência nas prioridades dos participantes do mercado de cartões, apenas os grandes emissores e credenciadores devem disponibilizar o crediário no cartão de crédito, ao menos num primeiro momento.
Lançada ontem, a modalidade, que funciona como um parcelado com juros concedido nas "maquininhas", não deve contar por enquanto com a adesão das empresas mais novas do mercado, como as credenciadoras Stone e PagSeguro, do grupo UOL, e o banco digital Nubank.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o produto foi desenhado pelas bandeiras Visa, Mastercard, Elo e Hipercard, e está habilitado nas credenciadoras Cielo, Getnet e Rede e nos emissores Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil e Votorantim.
Os demais participantes estão no grupo de trabalho criado há um ano na Abecs para tratar do tema, mas até agora não pediram a habilitação para usá-lo. "Todas as empresas têm oportunidade de usar, depende da prioridade do negócio", disse Pedro Coutinho, presidente da Abecs, em entrevista ontem para lançar o crediário.
O PagSeguro confirmou que não pretende entrar na nova modalidade e disse que, no parcelado sem juros, antecipa o pagamento aos lojistas no dia seguinte à venda. "O PagSeguro não oferecerá o parcelado com juros para o consumidor (crediário) porque já oferece o parcelado sem juros, opção que atende melhor aos nossos clientes, sendo amplamente usada nas transações com cartão de crédito", afirmou, por meio de nota.
Há mais de um ano, o Banco Central pediu ao setor propostas para responder à queixa dos varejistas de que o pagamento das vendas com cartão é demorado - 30 dias após a transação. Ao mesmo tempo, os bancos alegavam que, no parcelado sem juros, a decisão de dar o crédito era do varejista, mas o risco ficava com eles. O crediário foi a sugestão apresentada.
Na nova modalidade, o varejista pode receber o dinheiro todo no segundo dia após a venda, considerando as condições lançadas por Rede, Getnet e Cielo. Os emissores ficam com o risco, mas são remunerados por isso.
É diferente do parcelado sem juros, em que o varejista precisa esperar as parcelas vencerem para ir recebendo. Ou então, antecipa o recebimento do todo, mas mediante uma taxa de desconto - que é repassada aos clientes, numa espécie de "juros disfarçados".
A antecipação é uma fonte importante de receita para as novas credenciadoras. Por isso, o crediário tem menos apelo para elas.
Na terça, o vice-presidente de atacado do Bradesco, Marcelo Noronha, criticou o parcelado sem juros, argumentando que, na verdade, há taxas embutidas. "Você entra no site de uma varejista e parcela dez vezes sem juros com juros. Isso se chama agiotagem".
Segundo Fabrício Winter, líder de projetos da consultoria Boanerges & Cia, empresas como PagSeguro e Stone não entraram ainda porque o produto é um negócio que transfere receita das credenciadoras para os bancos emissores. No parcelado sem juros, como o varejista recebe parcela a parcela, ele antecipa o pagamento mediante uma taxa cobrada pelo adquirente. No crediário, ele recebe de uma vez, mas as parcelas vão caindo para os emissores com juros.
De acordo com Winter, o fato de empresas como o Nubank não oferecerem a opção revela a diferença de prioridades entre elas. Os grandes bancos querem posicionar o cartão como instrumento de crédito com juros mais atraentes. A Abecs diz que os cartões devem atingir 40% do consumo das famílias neste ano, e a meta é chegar a 60% em 2022. O crediário seria uma forma de estimular o uso.
"Como a modalidade ainda precisa provar que vai vingar, outros emissores devem adotar após algum sinal positivo do mercado", afirma Winter.
Procurado, o Nubank afirmou que não tem planos para oferecer crediário agora, mas destacou que seu cartão permite parcelar a fatura em até 12 vezes, com juros e IOF.