10/12/2018 - Bancos cobram 5% de spread pelo dólar no cartão
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Por: Nathália Larghi
A decisão do Banco Central de obrigar os emissores de cartões de crédito a cobrarem a cotação do dólar no dia da compra feita no exterior trará mais transparência para o usuário. Segundo especialistas, porém, o spread do câmbio - diferença entra a cotação do câmbio comercial, que envolve grandes valores, e aquele cobrado do cliente - deve continuar elevado. Segundo um levantamento do site Melhores Destinos, o spread médio de Santander, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Caixa Econômica e Nubank é de cerca de 5%.
Esse valor cobrado pelos emissores pode fazer com que o "dólar do cartão" eventualmente saia mais caro do que o dólar turismo segundo Leonardo Cassol, economista responsável pela pesquisa. "A moeda vendida nas casas de câmbio é o dólar turismo, que é mais caro. Já a do cartão de crédito é o comercial, um pouco mais barato. Porém, um spread de 5% é um valor considerável, então, pessoas que moram em grandes centros como São Paulo podem acabar encontrando o dólar nas casas de câmbio mais baratos do que o do cartão", afirma. Ele lembra que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - que tributa em 6,38% compras pelo cartão internacional - também encarece o uso do plástico no exterior.
Para calcular o valor do spread cobrado, o economista analisou as faturas dos emissores e checou o valor do dólar cobrado pelos bancos. Depois, verificou qual era o valor da Ptax - média do dólar comercial calculada pelo Banco Central - na mesma data de referência e encontrou o spread conferindo qual era a diferença entre as duas cotações.
A mudança proposta pelo Banco Central, porém, pode não ser suficiente para fazer com que os bancos diminuam o spread cobrado dos clientes. Segundo Cassol, hoje a maioria dos emissores dos cartões de crédito - Caixa Econômica e Nubank são exceções - cobram do cliente a cotação do dólar no dia do fechamento da fatura, o que permite que eles façam compras de dólar ao longo do mês. Após a nova regra, o economista diz que os emissores precisarão fazer a conversão com mais frequência, o que pode aumentar seus custos e isso ser repassado ao cliente por meio do spread.
"Hoje, eles sabem quanto terão de despesa em dólar e vão comprando em determinadas datas. Com essa mudança, eles precisarão comprar o dólar no dia em que a compra for feita, para usar a mesma cotação cobrada do cliente. Então, eles perdem um pouco a conveniência e gastam um pouco mais, já que as compras diárias podem sair um pouco mais caras. Isso pode contribuir para aumentar o spread", afirma. Segundo o economista, caso os bancos não façam essas compras diárias, eles podem correr o risco de precisar comprar a moeda por um valor maior do que o que será cobrado do usuário na fatura, o que também pode fazer com que eles aumentem o spread para se proteger.
Edson Santos, especialista em meios de pagamentos e ex-executivo de empresas como First Data e Redecard, afirma que a mudança não trará queda no spread. Ele não acredita, porém, que possa ter uma alta. "Os emissores já compram dólar muitas vezes no mês, porque o lojista do exterior recebe em um prazo menor. Não acho que a nova regra mude algo nesse sentido. Os emissores continuarão cobrando spreads altos", diz.
Cassol, por outro lado, não descarta a possibilidade de uma queda no spread. Para ele, esse cenário dependeria da propensão dos usuários a usar mais o cartão de crédito nas viagens. "O spread hoje não é pequeno, mas a transparência que a cobrança vai trazer para os usuários pode incentivá-los a usar mais os cartões internacionalmente. Então aumenta o volume movimentado pelos bancos e eles poderiam diminuir o spread."
Uma fonte ouvida pelo Valor afirmou que, agora, os emissores estão preocupados com as adequações sistêmicas para cumprir a nova regra. A discussão do spread, segundo o interlocutor, ainda não foi levantada.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Santander informou que está avaliando a mudança proposta pelo Banco Central. Já o Itaú disse que está "empenhado em promover as mudanças". O Nubank afirmou que já cobra a cotação do dia da compra desde setembro e que "manteve a mesma taxa de câmbio cobrada anteriormente". Procurados pela reportagem, os demais emissores não se manifestaram.