17/10/2018 - Nubank lança ´trava´ para dólar em compra no exterior
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Por: Nathália Larghi
A fintech de cartões de crédito Nubank estreia hoje a chamada "trava" para o dólar. O mecanismo permite que o valor de uma compra feita no exterior seja convertido em real na mesma hora, pela cotação da moeda naquele dia. A mudança surge em um momento em que a divisa americana oscila na casa de R$ 3,70 depois de ter atingido a cotação máxima histórica de R$ 4,19 em setembro.
Hoje, ao usar o cartão de crédito no exterior, o brasileiro paga o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), fixado em 6,38%, mais o valor da compra convertido em reais. Na maioria dos cartões, a conversão acontece no dia do pagamento da fatura, ou seja, o cliente corre o risco de ter um aumento nos gastos se o dólar subir no período entre a compra e a quitação da compra.
Foi o que aconteceu com o engenheiro agrônomo Rodrigo Spechoto no mês de maio. Em viagem ao Canadá, ele aproveitou para comprar um celular no cartão de crédito. Não esperava, no entanto, que a moeda americana subisse 6,65% naquele mês. "Quando fui comprar, comparei a cotação do dia com a cotação que eu tinha colocado anteriormente em um cartão pré-pago e vi que estava parecida. Mas, no fim de maio, o dólar subiu muito e a fatura veio muito alta", diz.
Em casos como esse, a "trava" funcionaria como uma forma de diminuir riscos, afirma o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fábio Gallo. "Fixar o dólar no valor daquele dia é uma saída para o brasileiro lidar com a volatilidade", afirma o professor. "A desvantagem é que você pode travar na alta e depois vir a baixa, ou seja, você poderia pagar mais barato lá na frente, mas esse é o risco para não tomar susto", diz.
No caso da fintech, o mecanismo será acionado assim que o cliente usar o cartão no exterior. Na mesma hora, ele receberá no aplicativo o aviso do quanto foi gasto em reais, já com a conta do IOF. Segundo a empresa, o valor só deve passar por oscilações até o estabelecimento comercial processar a compra. Antes da mudança, era considerada a taxa do dólar no dia do pagamento da fatura.
Além do Nubank, a Caixa Econômica Federal oferece a trava desde o primeiro semestre do ano passado. Nos cartões do banco estatal, a conversão pela data da compra é opcional; quem preferir, pode continuar usando a conversão no dia do pagamento da fatura. A escolha deve ser feita quando o cliente desbloquear seu cartão para uso internacional. Após 90 dias, no entanto, o usuário pode mudar a data de conversão pelo aplicativo ou na central de atendimento.
A possibilidade da "trava" foi oferecida pelo Banco Central (BC) em novembro de 2016. Na época, o regulador permitiu que o emissor do cartão ofertasse a opção de converter a moeda estrangeira na data da compra ou na data do pagamento da fatura. Essa não é, porém, a única forma de "proteger" o cliente de eventuais oscilações no câmbio.
A opção encontrada pelo Itaú, por exemplo, foi o serviço de carregamento do cartão de crédito em dólar, euro ou libra. Nele, a conversão é feita pela cotação de câmbio da data da "recarga". O mecanismo funciona como um cartão pré-pago: o cliente compra a moeda estrangeira pela cotação daquele dia e, assim, terá aquele valor disponível para uso no cartão de crédito ou para saques no exterior.
Mesmo em bancos que não desenvolveram um meio específico para conter a oscilação cambial, como Bradesco, Santander e Banco do Brasil, o cliente pode fazer o pagamento antecipado da fatura. A ideia nesse caso é usar a cotação do dia em que o cliente fizer aquele pagamento.
A principal estratégia para mitigar riscos de gastar além do previsto com viagens para o exterior, segundo Gallo, é usar mais de um meio de pagamento e tentar aproveitar cotações diferentes. Ele sugere, por exemplo, o uso de cartões pré-pago. Outra ideia é manter aplicações em fundos cambiais, que acompanham a variação da moeda estrangeira. Nesse caso, porém, é preciso ficar atento às taxas de administração.