05/07/2018 - Projeto da Visa quer estimular uso de cartões fora do Sudeste
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Por: Nathália Larghi
De olho no mercado de fora do eixo Rio-São Paulo, a bandeira de cartões Visa lança hoje o projeto "Cidades do Futuro", que busca incentivar o uso de meios eletrônicos de pagamentos em Estados além da região Sudeste.
Campanhas informativas e incentivos como prêmios e sorteios para quem fizer compras e vendas no cartão são algumas das apostas da companhia para fomentar o uso desse tipo de pagamento. As cidades escolhidas para essa primeira fase do programa são Campina Grande (Paraíba), Maringá (Paraná) e Belém (Pará). As cidades são consideradas polos de desenvolvimento regional, que podem incentivar toda a região onde estão inseridas.
O projeto foi baseado no estudo "Cashless Cities", encomendado pela Visa à Roubini ThoughtLab. O levantamento mostra o quanto consumidores, empresas e governos podem economizar ao diminuir o fluxo de dinheiro em espécie. Para chegar a essa conclusão, o estudo avaliou o comportamento de 10% dos usuários que mais usam os meios digitais de pagamentos naquela cidade. Após mapear os hábitos dessa parcela da população, os pesquisadores avaliam como seria se todo o resto da comunidade tivesse os mesmos costumes. A análise conclui que as cidades poupariam mais de R$ 500 milhões por ano.
Nessa lógica, os consumidores poupam o tempo e dinheiro usados para ir até bancos, além de pagar menos multas por atrasos de pagamentos. O estudo ainda supõe que há menos perdas devido a crimes como roubos ou falsificações. Para o governo, os benefícios vêm do aumento das receitas fiscais, devido à redução de sonegação e fraudes e crescimento econômico, já que a ampliação da aceitação de cartões tende a aumentar o número de vendas e serviços prestados.
Pelo lado das lojas, o estudo conclui que há uma economia de tempo no pagamento, que também pode aumentar o volume de vendas e diminuir o número de desistência de clientes na fila. As vendas também aumentariam conforme o estabelecimento passasse a aceitar mais formas de pagamento. Os gastos do lojista com segurança também diminuem, assim como as perdas com crimes.
Segundo a Visa, esses benefícios compensam os gastos que o lojista tem com a aceitação de cartões, que vão desde o aluguel ou compra da maquininha para processar os pagamentos até a chamada "taxa de desconto" (MDR, na sigla em inglês). Essa taxa é cobrada do lojista a cada transação que ele faz no cartão, e é justamente dela que sai a remuneração das empresas envolvidas na transação: uma parte vai para a credenciadora, dona da maquininha; outra, para o banco emissor do cartão; e, por fim, outra parcela para a bandeira. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), no ano passado a MDR média para compras no crédito era de 2,6% e de 1,45% no débito.
O projeto da Visa surge em um momento em que o Banco Central discute medidas para diminuir o uso do dinheiro, incluindo esforços para reduzir as taxas cobradas dos lojistas nas operações com cartões. Uma das ações mais recentes da autoridade foi a criação de um teto para a taxa de intercâmbio das compras feitas no débito. A taxa de intercâmbio é a fatia da MDR que é repassada aos bancos emissores.
Mas convencer um pequeno lojista a aderir e aceitar cartões não é fácil, admite Eduardo Barreto, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Visa do Brasil. O executivo explica que no cartão o comerciante enxerga os gastos, o que não acontece no dinheiro.
"Em dinheiro, ele não mensura as horas que perde indo ao banco, preparando depósito, buscando troco etc", diz. Na apresentação do estudo, Fernando Teles, principal executivo da Visa no Brasil, afirmou que as transações digitais custam, em média, 5% da venda para o lojista, enquanto as feitas em dinheiro custam 7%.
Por isso, a estratégia inicial usada pela Visa no novo projeto é baseada em ações de educação financeira, como peças teatrais e propagandas que explicam como os meios eletrônicos funcionam e quais são suas vantagens. Depois, a empresa vai promover "maratonas hackers" para desenvolver soluções no setor de meios de pagamentos. Por fim, a ideia é oferecer benefícios para quem for usá-los.
O projeto conta com parceiros como as credenciadoras Cielo, Stone e PagSeguro, que irão oferecer condições especiais aos lojistas para ampliar a aceitação de cartões na região. Para incentivar os consumidores, a Visa vai promover uma campanha que sorteia R$ 1 mil por dia durante dois meses em cada uma das três cidades para clientes que usarem plásticos da bandeira. A empresa ainda vai selecionar ONGs para fazer uma doação a cada pagamento realizado em cartão.
Segundo o estudo, o aumento do uso dos meios eletrônicos pode fazer Campina Grande ter uma economia de R$ 627 milhões por ano; Maringá, de R$ 1,1 bilhão; e Belém, R$ 2,26 bilhões. Os efeitos, no entanto, não se restringiriam às cidades escolhidas. Segundo a Visa, os locais têm potencial para influenciar também cidades do entorno.