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21/12/2017 - Economia em 2018 pode ser vento a favor

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VALOR 

Por: Gustavo Brigatto 
 

Quando o Nubank enviou os primeiros cartões de crédito de cor roxa a seus clientes em 2013, o Brasil vivia os primeiros momentos de incertezas na economia, mas ninguém imaginava que uma de suas piores crises se aproximava. Quatro anos depois, o Produto Interno Bruto (PIB) acumula queda de 7% e outros indicadores apenas começam a dar sinais de recuperação.

Apesar do cenário desfavorável dos últimos anos, esta startup do mercado financeiro, ou fintech como é chamado esse tipo de empresa, cresceu. Chegou a 3 milhões de clientes e foi copiada por outras startups e grandes bancos. A expectativa é que 2018 seja um ano de mais crescimento.

"A gente vê 2018 como um ano em que a macroeconomia deixa de ser um dos maiores riscos e talvez comece a ser um vento a favor, um ano que vai nos ajudar a crescer com inadimplência caindo, emprego aumentando", diz o colombiano David Vélez, fundador do Nubank.

Nascido em uma família de empreendedores - os pais tinham uma pequena fábrica de botões e etiquetas para calças jeans -, Vélez demorou a encontrar um segmento para investir. Foi só depois de passagens pelos fundos General Atlantic e Sequoia Capital que ele percebeu uma oportunidade no mercado financeiro brasileiro - altamente concentrado, regulado e com um alto índice de insatisfação dos clientes.

Para financiar sua empreitada, ele só conseguiu recursos de investidores estrangeiros, o que, pelas regras do Banco Central, faz do Nubank uma instituição financeira de capital estrangeiro. Foram mais de US$ 180 milhões obtidos de fundos como Sequoia Capital, Tiger Global e DST Global.

O cartão de crédito é seu principal produto, mas a startup já pediu aval ao BC para atuar como banco e ampliar o portfólio.

A primeira captação feita no Brasil, de R$ 250 milhões, só foi concluída no começo de dezembro por meio de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC). Segundo Vélez, a oferta atraiu cerca de 40 investidores, o dobro do esperado, e apresentou um custo mais baixo que o estimado inicialmente -sinal de que o cenário melhorou e de que o mercado passou a confiar mais na companhia. "A gente terminou fechando a segunda série a 130% do CDI. A avaliação era que seria 139%, ou até mais. Estamos finalmente mostrando ao mercado que, de fato, dá para fazer".

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: A recuperação em 2018 depende de quem vai disputar as eleições e de quem será eleito para a Presidência da República?

David Vélez: A gente pensa que, independentemente do espectro político, se você é esquerda, direita, ou centro, o denominador comum é que todos os partidos concordam que mais concorrência em serviços financeiros, menos concentração em cinco bancos é bom para o Brasil. Então a gente realmente não vê isso como um risco. Vemos um BC que é muito independente, com pessoas muito técnicas, muita continuidade. É uma instituição que funciona muito bem. E não deveria mudar.

Valor: Qual o cenário que o senhor tem trabalhado para os juros?

Vélez: Normalmente não vemos muito isso, não somos um grande banco que precisa olhar isso com muito cuidado. Mesmo se o PIB cresce 1% ou 2%, se a Selic [taxa básica de juros] é 6%, 6,5%, ou 7%, mais pessoas vão ter internet, smartphones. Mais 'millennials' [consumidores dos 18 aos 34 anos] vão querer alternativas fora dos bancos. As tendências em que estamos surfando são tão grandes que quase não se relacionam com o mercado. Não que a gente não acompanhe esses indicadores. Mas, o ponto é que somos tão pequenos em comparação com os grandes bancos que é como se estivéssemos no fundo do oceano subindo para a superfície. Independentemente da variação da maré lá em cima, a gente avança. Um upgrade na nota do Brasil, que viria se as reformas forem aprovadas, seria ótimo pra gente.

Valor: O sr. acha que a reforma da previdência é o fator mais fundamental para o Brasil no momento?

Vélez: Precisa de algum tipo de reforma. Não sei exatamente qual, se a reforma atual é a certa. Mas a reforma precisa ser feita pela sobrevivência do país nos próximos 10 ou 20 anos.

Valor: Qual seria a principal amarra a ser tirada, para melhorar o ambiente de negócios?

Vélez: A maior amarra é a questão de licenças bancárias. O Brasil é o único país da América Latina onde o presidente da República tem que aprovar com um decreto o investimento de capital estrangeiro em bancos. É um setor muito protegido, muito fechado ao capital externo. E nós não temos capital local, só estrangeiro. Se as pessoas concordam que mais alternativas e mais concorrência são boas para o país, que os spreads e os juros bancários são absurdamente altos pela falta de competição, então talvez o que ajudaria mais é remover algumas dessas barreiras. Parece que o BC está indo nessa linha, estudando algumas licenças novas de fintechs.

Valor: O Nubank aguarda uma licença para operar como banco há dois anos. Como está esse processo?

Vélez: Está caminhando. Não está parado. Mas é difícil falar para um investidor que você vai ter que aguardar mais de dois anos [para receber uma licença].

Valor: - Por que optou-se por uma licença nova, em vez de unir-se a uma instituição já existente?

Vélez: No nosso caso, comprar um banco teria que ter a mesma aprovação de criar um banco do zero. O próprio BC orientou que era melhor fazer o caminho desde o começo, porque a gente sendo novinho, estrangeiro, seria melhor não contaminar com alguma instituição que tivesse problema. Eles disseram que não seria rápido, que era para ter paciência. E é isso que estamos fazendo. A expectativa é que a licença saia muito antes de cinco anos [tempo médio estimado para a concessão de uma licença de banco]. Mas não temos muita visibilidade. Até porque precisa de um decreto presidencial.

Valor: Em outubro o Nubank lançou uma conta que permite fazer transferências a outros bancos. Como ela está indo?

Vélez: Estamos liberando aos poucos. Estamos ainda em versão de testes [abrindo primeiro para os clientes do cartão, com planos de liberação geral para o primeiro trimestre de 2018]. A gente preferiu colocar algo na rua e escutar clientes, o que realmente falta para virar uma conta completa do que passar outros seis, 12 meses construindo um produto antes de lançar.

Valor: Em 2017, a companhia também lançou o programa de fidelidade. O que virá em 2018?

Vélez: Nossa meta é ver como conseguir aprovar mais pedidos de cartão [de crédito]. A gente falou "não" (recusando fornecer o cartão] para mais de 10 milhões de pessoas [até agora]. Eu imagino que para mais ou menos um milhão a gente deveria ter falado "sim". Mas com o cenário macro, a gente falou "não". Com a melhora da economia, esperamos crescer. Estamos planejando produtos novos que nos ajudem a falar "sim" para mais pessoas. Um tipo de cartão diferente que nos permita tomar um pouco mais de risco. Mas ainda está bem cedo. Com a NuConta [que permite transferir dinheiro entre contas do Nubank e a outros bancos], a gente vê uma forma de conseguir crescer. É um produto que conseguimos aprovar 100% dos pedidos. Então, esperamos que a NuConta cresça muito em 2018, que ela permita todo tipo de funcionalidade e seja uma forma de criar relacionamento com clientes que hoje não têm Nubank, para daí oferecermos cartão de crédito a eles. A visão sempre foi e continua sendo ser uma plataforma de serviços financeiros, uma instituição nova oposta aos bancos.

Valor: O sr. vai precisar levantar mais dinheiro?

Vélez: A gente está em uma posição bem confortável agora, em termos de capital. A empresa está gerando caixa operacional. O fluxo de caixa já é positivo. A gente não precisa mais levantar capital para pagar contas. A captação de dívida continua, precisamos continuar na medida em que nosso portfólio vai aumentando. Com o FDIC e a linha de crédito do Goldman Sachs e do Fortress Investment Group [que chegou a R$ 455 milhões em agosto] estamos em uma posição muito boa.

Valor: Dá para atingir a rentabilidade em 2018?

Vélez: Com esse cenário de crescimento, queremos continuar investindo muito. Gerar lucro hoje seria uma oportunidade desperdiçada. Tem tanto para crescer em cartão de crédito, em Rewards [programa de fidelidade], outros produtos financeiros. Se eu vou ao meu conselho e falo que quero gerar lucro, eles me demitem no dia seguinte. "Quer dizer que não tem mais para crescer, investir?".
 

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