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30/11/2017 - Sem diversidade, não há inovação

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ÉPOCA NEGÓCIOS 

Por: Fabiano Candido 


Quer um processo de inovação eficiente para sua empresa? Tenha uma equipe diversa e com salários iguais entre homens e mulheres. Se a empresa seguir essa receita, certamente vai construir produtos e serviços inovadores, diz Paula Paschoal, diretora-geral do PayPal Brasil. A executiva, de 36 anos, não faz a afirmação à toa. Ela acredita que, graças à política, a empresa de meios de pagamentos digitais alcançou 3 milhões de usuários no Brasil – há um ano, eram 2,7 milhões. 

No PayPal, 54% dos cargos de gerência são ocupados por mulheres, há um transexual na equipe e, além disso, não há diferença de salários entre os gêneros que ocupam uma mesma posição. “A política de diversidade não cria somente um ambiente harmônico e de bem-estar na empresa. Ela traz para a empresa pessoas que nos mostram novas culturas e mercados para criar produtos e serviços”, diz a executiva.

Paula, que assumiu o principal posto da filial brasileira há quase sete meses, falou com a Época NEGÓCIOS sobre o tema diversidade em um evento em São Paulo. Confira os melhores trechos da entrevista. 

O quanto a diversidade ajudou no desempenho do PayPal nos últimos anos?
Sem diversidade, não há inovação. Só conseguimos oferecer novos serviços e tecnologias com equipes com pessoas diferentes e que entendem as necessidades de todos os públicos. Vou dar um exemplo. Recentemente, o PayPal desenvolveu uma tecnologia com a Shell para o consumidor pagar pelo combustível pelo celular sem sair do carro. A gente fez isso baseado numa sugestão de mulheres que não gostavam de lidar com possíveis situações de machismo em postos de gasolina. Se fosse uma empresa só de homens, talvez o serviço nem existisse. Com base nessas inovações, a empresa quer ter mais jovens trabalhando com pessoas experientes e de gêneros diversificados para ser mais criativa. 

Você acredita que a diversidade, então, é o caminho para empresas inovarem daqui em diante?
Sem dúvidas. A diversidade aumenta o respeito entre as pessoas do time e cria um ambiente harmônico de trabalho – ninguém se sente mal de não seguir os padrões impostos pela sociedade. Os funcionários têm liberdade para serem o que são e, por essa causa, a criatividade flui. É uma conquista, acredito, pois a criatividade é um dos principais ativos de um negócio, independentemente do ramo.

A diversidade consegue dar fim às diferenças salariais entre homens e mulheres?
Resolve a questão quando é levada a sério. No PayPal, por exemplo, funcionou muito bem e não há diferença salarial entre gêneros. E na disputa final por uma vaga ou promoção, seja o cargo qual for, sempre terá gêneros diferentes. A política de diversidade também traz lições. Eu aprendi com ela que a mulher deve sempre estar pronta para os cargos mais altos e não se contentar apenas com a média gerência. Eu tinha esse preconceito.

Qual preconceito?
É um reflexo da sociedade. As mulheres, desde pequenas, escutam que não vão conseguir equilibrar com sucesso a vida profissional e familiar num cargo de direção - e transformam isso numa verdade. Há três anos, quando eu engravidei da minha primeira filha, eu demorei mais de três meses para contar ao meu chefe.

Por causa do tabu da gravidez nas empresas?
Sim, eu temia que seria o fim de uma carreira brilhante aqui no PayPal e que estaria fora de qualquer disputa por um cargo maior. Mas, quando contei ao meu chefe, foi felicidade pura e ele disse que era a melhor coisa que podia ter acontecido para mim e para a empresa. Assim que voltei da licença-maternidade, engravidei de novo e, novamente, fui muito bem acolhida por ele e por todos – mas juro que ainda temia pela minha carreira. Ao voltar para a empresa, fui promovida para diretora-geral. É um caso raro, eu sei, até porque o PayPal é uma empresa diferente nestas questões. Mas foi uma grande lição para mim sobre o preconceito que a mulher tem consigo mesma. E eu tenho a missão de tentar acabar com esse preconceito, replicar a chance que tive para minha equipe e estimular isso no mercado.

Como as empresas que ainda não tratam do tema diversidade e igualdade de gêneros devem começar a fazer suas políticas nos temas?
Não existe solução mágica. As duas questões devem ser abordadas no dia a dia da empresa. A direção tem que colocá-las como estratégicas nas reuniões mais importantes. E as mulheres têm que deixar claro que não é certo ganhar menos do que um homem numa posição similar.

Quais são os desafios para o gestor ser eficiente nessa questão de diversidade e igualdade de gêneros?
O desafio é diário e não está escrito numa cartilha com vencer. A gente aprende na prática a implementação da política. A única regra que existe, creio, é ter humildade para consertar um eventual deslize durante a implementação da política de diversidade. Vou dar um exemplo: recentemente, uma funcionária que voltou da licença-maternidade não tinha um espaço para tirar o leite e enviar ao seu bebê. Ela precisava fazer uma logística interna dentro do escritório para ter privacidade. Quando soube do problema, imediatamente criei um espaço para isso. Não teve discussão se devíamos ou não criar, teve ação para resolver o problema. O gestor tem que estar apto resolver essas questões o mais rápido possível para ter o ambiente acolhedor.

Como você lida com machismo e preconceito no ambiente de trabalho?
Eu fui criada para não tolerar e repudiar o machismo. Numa situação de machismo ou preconceito, eu serei bem dura e enérgica em qualquer que seja o ambiente. Felizmente, aqui no PayPal, temos um número de telefone para que o funcionário, de forma sigilosa, denuncie se for vítima de alguma forma de preconceito. Os funcionários podem denunciar qualquer coisa, inclusive se ele for vítima de chacota política, por exemplo. O PayPal leva muito a sério o serviço porque crê que a igualdade entre gêneros e a liberdade são coisas inegociáveis. A matriz já deixou de abrir filiais em alguns estados americanos porque eles são contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. A empresa não vai ficar onde leis retrógadas do passado ainda valem.

Se uma mulher trabalha numa empresa machista, com ela deve enfrentar o risco de sofrer eventuais represálias ao pedir igualdade salarial?
Por problemas assim, eu sempre acho que é necessário que executivas nos cargos mais altos liderem os movimentos de diversidade e igualdade de gênero, denunciem os problemas de machismo, questionem e não aceitem as regras impostas. As mulheres também não podem ter medo de crescer na organização. Só ocupando os cargos mais altos elas podem trabalhar para deixar as coisas, como os salários, iguais e justos.

Você acredita que o mercado de trabalho será mais justo quando suas filhas forem trabalhar?
É meu objetivo de vida apostar na diversidade e fazer o que puder agora para deixar as condições entre mulheres e homens iguais. Só com muito empenho os negócios vão aprender que a igualdade é o melhor caminho para um mundo melhor a cada ano.

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