04/08/2017 - Ações da Cielo caem 5% após resultado
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Por: Nathália Larghi
O aumento da concorrência no setor de cartões segue tirando mercado das grandes credenciadoras e prejudicando a rentabilidade do negócio. As ações da Cielo, no primeiro pregão após a divulgação de resultados, amargaram queda de 5%, com giro superior a R$ 600 milhões, mais de quatro vezes a média diária dos últimos três meses.
A queda nas receitas de aluguel de maquininhas de captura de cartões (POS) foi um dos fatores que puxaram a piora operacional da companhia. No segundo trimestre houve uma retração de 14,9% na base de POS, para 1,76 milhão de terminais. Segundo analistas do mercado, essa foi uma das principais razões para a redução de 7,8% na receita operacional líquida, para R$ 2,8 bilhões, em relação ao mesmo período do ano passado.
A Rede, credenciadora pertencente ao Itaú Unibanco, já tinha mostrado menor presença no balcão do lojista, tendo encerrado junho com 1,3 milhão de maquinas instaladas, 21,9% menos do que um ano antes.
O fim da exclusividade entre bandeiras e credenciadoras, regulado pelo Banco Central no fim de 2015, permitiu não só a chegada de novos participantes, como o crescimento da fatia de empresas que já atuavam no setor, antes dominado por Cielo e Rede. Fernando Chacon, presidente da Rede, calcula que os novos concorrentes já detetenham 20% do mercado, com destaque para a Getnet (do Santander), Stone, Bin e PagSeguro.
A perda de participação se refletiu no retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) da Cielo, que caiu de 52% para 38% na comparação anual. No segundo trimestre o lucro líquido ajustado foi de R$ 1,061 bilhão, uma alta de 0,5% em relação ao mesmo período no ano passado.
Nem mesmo o corte de despesas, iniciativa para compensar a perda de receitas, foi suficiente para melhorar as previsões dos analistas. Apesar de verem como positiva a queda de 8,9% dos gastos totais em relação ao ano anterior, analistas de instituições como Deutsche Bank, Credit Suisse, BTG Pactual e UBS mostraram preocupação com o ritmo de queda da base de POS da credenciadora.
O UBS, por exemplo, prevê que o número de maquininhas seguirá encolhendo no segundo semestre. A retração também foi destaque da avaliação do BTG Pactual, que afirmou que a queda tem sido mais rápida do que o esperado. O Credit Suisse prevê uma menor afiliação de lojistas e um ambiente mais competitivo do que o esperado no futuro. Uma evidência disso, segundo análise do banco suíço, foi a revisão que a Cielo fez de sua projeção de custos e despesas operacionais. A empresa atualizou as estimativas de crescimento de 4% a 6% para uma faixa de zero a 2%.
O presidente da Cielo, Eduardo Gouveia, minimizou o impacto da redução da base de POS nos resultados. Segundo o executivo, a queda foi inevitável, também em função do cenário econômico de maior retração, que fez muitos negócios fecharem as portas. A expectativa é, porém, que comece agora um ciclo de maior estabilidade, uma vez que as credenciadoras e lojistas já se adaptaram. "O pior já passou, todos os adquirentes já credenciaram praticamente todas as bandeiras."
Apesar das preocupações relativas às mudanças no setor, a Cielo segue com alguns destaques positivos. A capacidade de geração de fluxo de caixa é um deles. A característica, inclusive, permitiu um aumento do pagamento de dividendos aos acionistas, que saiu de 30% para 70%. "Essa é a grande notícia do trimestre. Isso faz com que a companhia agregue valor ao investidor na conta", disse Gouveia.
O aumento da parcela do lucro distribuída, no entanto, não foi unanimidade. Para o Deutsche Bank, a reação do mercado pode seguir negativa com as ações se as receitas continuarem fracas. (Colaborou Daniela Meibak)