15/06/2017 - Em um ano, app chinês soma mais clientes que todos os bancos do Brasil
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Por Roseli Loturco | De São Paulo
O exemplo do WeChat, da China, é sempre lembrado quando o assunto é quebra de paradigma no sistema bancário. Nasceu como um aplicativo para concorrer com o WhatsApp, Kik e Viber e hoje rouba clientes dos bancos chineses. No início era usado como um simples sistema de comunicação, para trocar mensagens, chamadas de voz ou vídeo. Mas na China virou uma poderosa ferramenta para pagamentos, transferência de dinheiro e até aplicações em fundos de investimentos.
Hoje são mais de 600 milhões de usuários ativos de serviços financeiros. Isto significa que ele tem mais clientes de serviços financeiros do que todos os bancos brasileiros juntos. "São US$ 16 bilhões aplicados em fundos de investimentos por meio do WeChat após um ano de sua abertura", lembra Guga Stocco, sócio da Domo Invest, consultoria responsável pelo aconselhamento de bancos. O consultor acredita que em cinco anos a forma como os bancos se relacionam com os clientes vai mudar radicalmente.
Uma transformação que, na realidade, já aconteceu. "A internet está em todo lugar. Na TV, no telefone, no relógio, no carro, na geladeira. Estamos todos conectados, gerando e consumindo dados em rede, de modo ininterrupto, em ritmo vertiginoso", avalia Sérgio Rial, presidente do banco Santander no Brasil.
A velocidade com que tais mudanças ocorrem e afetam o comportamento do consumidor implica desafios para o que Rial classifica como 'mundo pós-digital'. Para o executivo, o cliente virou consumidor e os bancos têm que entender como acelerar seus processos a fim de se adequar a isso. "A tecnologia agora começa na primeira interação com o cliente e o maior risco nesse processo é o 'reputacional'. Não o tecnológico", indica o presidente do Santander.
Atualmente, 75% das operações do Santander são feitas pelos canais internet banking e mobile, um crescimento de sete pontos percentuais em 12 meses. São 6 milhões de clientes, 67% dos pagamentos, 73% das transferências e 65% do crédito pessoal do banco feitos nos canais digitais.
Mas, apesar dos avanços da plataforma on-line, o Santander não tem planos para lançar um banco totalmente digital, com plataforma e linguagem diferenciadas, como o fez o Bradesco. "Nós temos empresas com características de fintech, como a Super Digital e vamos buscar caminhos diferentes", considera Rial, que irá lançar em julho aplicativo para agilizar a liberação do crédito imobiliário, uma operação que costuma demorar 90 dias nos trâmites atuais.
As diferentes respostas dadas pelos grandes bancos chegam depois, na realidade, dos movimentos mais ousados feitos por instituições menores. O Banco Intermedium e o Original são exemplos disso. Nos cinco primeiros meses de 2017, o Intermedium transacionou cerca de R$ 803 milhões por meio dos correntistas digitais, enquanto no ano todo de 2016 essas operações atingiram R$ 655 milhões. "Acreditamos que nosso potencial é de terminar o ano com cerca de R$ 2,5 bilhões de transações", afirma João Vitor Menin, presidente do Intermedium.
Dos bancos virtuais, este é o único que tem tarifa zero no pacote completo de transações financeiras, desde a abertura de conta, transferências via TED ou DOC, SAC no caixa 24 horas e anuidade nos cartões de débito e crédito.
O Intermedium possui 170 mil correntistas digitais e quer chegar a um milhão ao final de 2018. O banco tem sob gestão patrimônio líquido de R$ 4,8 bilhões em investimentos, volume de crédito de R$ 3,5 bilhões, e acaba de lançar a conta digital para pessoa jurídica com o mesmo pacote de gratuidade.