01/03/2016 - Casa comigo?
VoltarPor: Cláudio Gradilone | IstoÉ Dinheiro, 24 FEV/2016 - Ano 17 - nº 955
Os cartões de crédito e débito tornaram-se onipresentes no cenário econômico brasileiro. Isso também ocorreu com as empresas que processam as transações realizadas com os plásticos. As adquirentes – empresas que instalam e operam as maquininhas de cartões – capturaram R$ 1,05 trilhão em compras com cartões de crédito e débito em 2015, um crescimento de 9% em relação ao ano anterior. Bastante concentrado, esse mercado está prestes a concentrar-se ainda mais. A Elavon, que no Brasil é uma joint-venture entre os americanos US Bancorp e Citibank, está procurando comprador, depois de ver frustrados seus planos de crescimento.
Esse será o desfecho para um processo que se iniciou em 2011. Naquele momento, a decisão do US Bancorp de disputar o trilionário mercado brasileiro fazia sentido. Os pagamentos com cartões cresciam a taxas próximas de 20% ao ano. O mercado era, como hoje, dominado por duas empresas. Cielo, controlada por Bradesco e Banco do Brasil, e Rede, controlada pelo Itaú, respondem por quase 80% das transações, num típico duopólio. A Getnet, do Santander, possui cerca de 10%, e os 10% restantes estão divididos entre pequenas empresas regionais e de nicho. A concentração garante belas margens de lucro.
Não por acaso, as ações da Cielo lideraram a alta na Bolsa, subindo 180% entre 2012 e 2014. A estratégia da Elavon também parecia imbatível. Para driblar seu desconhecimento do Brasil, o US Bancorp associou-se ao Citi, que ainda possuía a Credicard. Ao assinar os protocolos em 2011, a companhia liderada pelo engenheiro Antonio Castilho contava não só com o tamanho dos controladores americanos, como também oferecia tecnologias modernas, testadas e aprovadas nos Estados Unidos, como o parcelamento direto na máquina. No entanto, os resultados ficaram aquém do esperado. A meta era capturar 10% das transações.
Segundo a empresa, no fim de 2015 sua fatia de mercado era de 1,54%. O que aconteceu? A relação entre varejistas e adquirentes é das mais delicadas, por isso os cinco entrevistados por DINHEIRO só falam sem se identificar. Mas, caso raro, todos concordam que a Elavon fez tudo direitinho – para uma empresa americana operando nos Estados Unidos. Aqui, faltou jogo de cintura. “Eles tinham bons produtos e bons preços, mas pecavam por serem pouco flexíveis”, diz um empresário do setor de tecnologia. A Elavon apostou em um segmento do mercado menos explorado que o das redes varejistas, o dos pagamentos recorrentes por serviços on-line.
O melhor exemplo são as assinaturas de filmes pela internet. Há milhares de fornecedores, que vendem desde filmes e música, até encontros e jogos. Um excelente negócio, pois a tarifa cobrada pelos serviços chega religiosamente todos os meses. Porém, a Elavon derrapou. “Tudo tinha de ser autorizado pela matriz nos Estados Unidos, e isso demorava”, diz o empresário. “Até o processo correr, um concorrente chegava e fechava o negócio.” A paciência dos americanos acabou no primeiro semestre de 2015, quando a Elavon contratou consultores para buscar um comprador. No começo, a ideia era vender apenas os 49% pertencentes ao Citi, mas a proposta não prosperou.
Seis meses depois, a Elavon voltou à carga, desta vez oferecendo também os 51% do US Bancorp. Cielo, Rede e Getnet foram procuradas, diz um executivo que acompanhou o processo. No entanto, o pequeno porte da companhia e a necessidade de investimentos pesados em tecnologia para trazer para o Brasil as transações processadas nos Estados Unidos desanimaram os compradores, e as conversas não passaram das primeiras reuniões. “A Elavon não proporciona um crescimento significativo para a Getnet”, disse Sérgio Rial, presidente do Santander, ao comentar os resultados do banco no fim de janeiro.
“Para nós faz, mais sentido ganhar essa fatia de mercado investindo em crescimento orgânico.” A Elavon ficará sozinha no altar? O desinteresse dos compradores grandes poderá ser mitigado por uma redução de preços, mas quem conhece o setor não descarta a hipótese de uma associação com outra empresa de pequeno porte, a ser definida ainda no primeiro semestre. Por qualquer métrica, a margem das empresas de adquirência no Brasil é pelo menos o dobro da dos países desenvolvidos – e um dote tão polpudo torna qualquer noiva muito atraente. Procuradas, Elavon, Citibank, Bradesco e Banco do Brasil não comentaram o assunto.