24/08/2015 - Aposta global
VoltarPor: Cláudio Gradilone | IstoÉ Dinheiro
Criada em 2011 como uma joint-venture entre Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco, a bandeira de cartões Elo sempre foi vista como pouco habilitada a a concorrer com as gigantes globais, como Visa, MasterCard e American Express. As razões para o ceticismo são fáceis de entender. Mesmo tendo três dos cinco maiores bancos de varejo entre seus sócios, a Elo teve de enfrentar as dificuldades próprias de quem está lançando uma operação a partir do zero. Entre elas, a necessidade de tornar sua marca conhecida no varejo, além de poder operar apenas no mercado local, em um momento de internacionalização crescente da economia brasileira. Na quinta-feira 20, a Elo deu um passo para superar esses obstáculos. Na presença de executivos, assessores e jornalistas, Eduardo Chedid, CEO da administradora, e John Hurley, vice-presidente sênior da processadora de pagamentos da Discover, dona da bandeira Diners Club, assinaram um acordo que transforma a empresa americana em uma processadora de transações da Elo para quem quiser usar o cartão fora do Brasil. “Com isso, poderemos ampliar nossos serviços para 185 países”, diz Chedid.
Os termos do acordo não foram divulgados, mas quem conhece o mercado sabe que, nessas parcerias, a empresa responsável pelas transações internacionais ficará com uma fatia relevante das tarifas cobradas dos estabelecimentos comerciais. “Essa parceria permitirá que estruturemos produtos específicos para nossos clientes, por exemplo, lançando uma promoção para quem viajar para a Argentina em um determinado período”, diz Chedid. Mais do que isso, a parceria permitirá a Elo ampliar sua abordagem de mercado. A bandeira brasileira começou emitindo cartões de débito e alguns plásticos específicos, como o Construcard, da Caixa, tornando-se conhecida, por isso mesmo, por atuar junto ao público de baixa renda. Agora, ela deverá disputar segmentos mais rentáveis do mercado. A Elo está lançando produtos segmentados, que possam não apenas ser usados no exterior como também permitam agregar serviços, programas de fidelidade e milhagem, tudo o que os clientes mais cobiçados pelas bandeiras desejam.
A parceria com a Discover pretende remediar esse problema. Fundada em 1986, a empresa surgiu como uma processadora de transações. Cresceu organicamente até 2003, quando iniciou uma série de aquisições de redes de caixas eletrônicos e processadoras fora dos Estados Unidos. Em 2008, ela comprou a Diners Club e ficou mais parecida com uma administradora de cartões tradicional. Atualmente a Discover possui 47 milhões de cartões nos Estados Unidos e é aceita em 35 milhões de estabelecimentos no mundo.
A parceria entre a brasileira e americana surge em um momento difícil para as administradoras. “Há alguns anos era fácil agregar benefícios, mas agora está mais caro e mais difícil, por isso as empresas devem ficar mais seletivas”, diz um experiente executivo do setor. Segundo ele, um bom exemplo são as passagens aéreas. A ideia de oferecer viagens “gratuitas” a quem usasse o cartão nas compras nasceu da necessidade de as empresas aéreas ocuparem assentos que ficariam vazios nos vôos. No entanto, a popularização dessa prática e o recente aperto no mercado de aviação comercial reduziram a vantagem para os portadores de cartões. Não por acaso, as bandeiras estão apertando os parafusos e exigindo o pagamento de anuidades, que até há pouco não eram cobradas. É o caso do cartão Black, produto premium da MasterCard. “ A tendência é que isso continue, pois os custos estão subindo, mas as margens vêm sendo bastante pressionadas”, diz o executivo.