28/06/2015 - "Gift card" virtual enfrenta resistência cultural no Brasil
VoltarPor Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo
Apontado como forte tendência no e-commerce em 2013, o mercado de "social gifting" ainda procura um lugar ao sol no Brasil. O conceito se refere às compras realizadas por meio de perfis de redes sociais e sites de intermediação de transações. Com eles, os usuários podem presentear seus contatos virtuais com produtos ou serviços.
Esperava-se um aumento dos negócios no segmento por conta da utilização crescente das redes sociais, mas o número de empresas que explora o serviço ainda é pequeno, alguns projetos não saíram do papel e outras startups do nicho fecharam.
Entre as razões da pouca adesão apontadas por especialistas, estão a baixa penetração das compras com cartão de crédito e a falta de hábito do internauta em dar presentes virtuais. Para especialistas, o social gifting pode dinamizar as vendas eletrônicas e aumentar o fluxo de consumidores em lojas físicas. Varejistas como o Flores Online já fazem 10% das entregas via vale presentes.
Criada há quase dois anos, a Serengifty permite presentear pessoas com apenas três cliques, garante o CEO Pedro Wilson Silveira. "Fazemos a intermediação entre o comprador, o presenteado e e-commerce onde ele adquire o produto", explica. A receita é gerada por meio das comissões dos varejistas.
O site possibilita comprar produtos para contatos do Facebook. Basta escolher um item de acordo com as listas de "desejos" criadas pelos contatos. Quando a compra é concluída, um aviso é feito via e-mail ou "inbox", com dados sobre o presente e quem o enviou. A mercadoria é entregue, pelo correio, no endereço físico cadastrado.
Com cinco funcionários, a empresa carioca tinha 200 clientes nos dois primeiros meses de operação e hoje tem dois mil usuários. Em 2015, Silveira pretende internacionalizar os serviços e está à procura de investidores. "Recebemos aportes de R$ 500 mil de investidores-anjos, no começo do negócio, e agora pretendemos captar até R$ 2 milhões, para expandir a empresa para os Estados Unidos, Europa e América Latina", conta.
Para Felipe Morais, coordenador do MBA de gestão estratégica de e-commerce da Faculdade Impacta, o social gifting é mais uma opção para elevar as vendas nas lojas, principalmente em um país com mais de 94 milhões de usuários de redes sociais. "No Brasil, um dos principais aplicativos em crescimento no setor é o DropGifts, que já atua em mais de 13 países", lembra. A plataforma tem mais de 40 empresas cadastradas, como Polishop e Dafiti. "Além do aumento nas entregas, a prática pode divulgar as marcas de varejo envolvidas e aumentar no volume de fãs nas páginas das lojas."
O site Flores Online, de entrega de flores e presentes, oferece "gift cards" virtuais desde 2012, segundo o CEO Carlos Miranda. No modelo, o cliente pode trocar pontos por itens ou presentear alguém. Atualmente, 10% do total de entregas estão relacionados com a facilidade. No primeiro ano da oferta, esse índice era de apenas 2%. "Estamos buscando novos parceiros de vale presentes", diz. No ano passado, o Flores Online faturou R$ 40 milhões e estima crescer cerca de 25%, em 2015.
Na Viva! Experiências, de venda de passeios ligados a aventura, esportes e gastronomia, a entrega de "gift cards" representou cerca de 10% do faturamento total, em 2014. "A expectativa para 2015 é crescer 50% nesse nicho, com o aumento da presença em varejistas e o lançamento de uma plataforma própria, em estudo para o segundo semestre", diz o sócio-diretor André Susskind. "Mas precisamos de mais maturação do mercado de 'social gifting' antes de fazer um investimento maior. O consumidor brasileiro ainda gosta de presentes mais 'pessoais'."
A prudência do empresário é justificada. Nos últimos anos, alguns projetos de empresas não decolaram no mercado nacional. Em 2012, Niklas Zennström, CEO da Atomico, venture capital internacional de tecnologia, anunciou no país a chegada da sueca Wrapp, companhia de "social gifting" investida pelo fundo, com operações nos Estados Unidos e Europa. A ideia não prosperou.
"O mercado brasileiro não se mostrou atrativo, naquele momento, para o modelo de negócios da empresa", declararam ao Valor representantes do Atomico no Brasil. Felipe Morais, da Faculdade Impacta, afirma que o social gifting ainda não "pegou" por aqui. "Falta mais divulgação e aculturamento dos consumidores", diz.
A Joyfu.us, do empreendedor Marcelo Alemi, funcionou de 2011 até o ano passado. Por meio do site, era possível comprar presentes de estabelecimentos físicos para amigos das redes sociais. A ideia era trabalhar com itens de baixo valor, como doces ou cafés. "Era uma estratégia interessante para os estabelecimentos porque gerava visitas de clientes, uma vez que o presente precisava ser retirado na loja pelo presenteado", diz Alemi, que chegou a ter mais de cinco mil internautas no site.
O empresário afirma que suspendeu a operação porque a margem entre gastos com mídia e o ganho com as comissões de vendas não se mostrou atrativa e houve problemas com a retirada de produtos nas lojas. Fora da empresa, também percebeu outros obstáculos, como a baixa penetração do cartão de crédito nas compras e a falta de visão do comércio. "Batemos na porta de grandes marcas de franquias e percebemos que as lojas vivem muito o varejo físico, sem tempo para inovações."