15/05/2015 - Agora, a briga é de Gigantes
VoltarDe Natália Flach | Finanças | IstoÉ Dinheiro, ano 17, nº 916
Antes de comprar um produto ou pagar por um serviço, era comum que o consumidor perguntasse se o estabelecimento aceitava Visa ou Mastercard, dependendo do cartão de crédito que carregava na carteira. O motivo era a parceria que essas bandeiras tinham com as empresas de adquirência Cielo e Rede, responsáveis por processar as transações. A exclusividade das maquininhas acabou e isso aumentou o interesse de entrantes por esse mercado. A disputa tem sido acirrada. O Santander adquiriu a GetNet, o Citi trouxe a Elavon, o Banrisul criou a Vero e o Banco de Brasília assinou um corado com a americana Global Payments. Outra americana, a FirstData, que desembarcou no Brasil, em 2012, decidiu, por seu turno, pisar no acelerador no fim do ano passado.
Agora, numa segunda etapa, é a vez das gigantes internacionais do comércio eletrônico desembarcarem no País. A britânica WorldPay, que em maio do ano passado adquiriu a Cobre Bem Tecnologia, por um valor não revelado, só passou a operar, de fato, neste mês com o lançamento da sua marca no País. A companhia, que processa diariamente 26 milhões de transações no mundo, em mais de 120 moedas, queria entender o mercado brasileiro e, claro, analisar os adversários antes de começar de fato a disputa. Nesse meio tempo, já conseguiu um feito e tanto: dobrou o faturamento da Cobre Bem. “Temos um plano de crescimento bastante agressivo”, afirma Juan Pablo D’Antiochia, gerente geral da WorldPay para a região. “A expectativa é de que a América Latina responda por 15% de nossas operações, em dois ou três anos.” Segundo ele, nesse contexto, o Brasil deverá ser o principal mercado. A aposta se explica não apenas pelo potencial de crescimento, mas também pelo fato de a rentabilidade obtida com as transações locais ser superior à do restante do mundo. Essa constatação leva D’Antiochia a prever a chegada de outras empresas de meios de pagamentos por aqui, aumentando ainda mais a concorrência. “Vamos ganhar a competição por sermos melhores e não por oferecermos o preço mais baixo”, afirma.
A gigante britânica, que processou US$ 500 bilhões no ano passado, decidiu operar primeiramente no mercado de varejo digital, para só depois expandir-se para outros canais, como o de call centers. “Vamos ampliando o leque aos poucos, porque o modelo de negócios é diferente”, afirma o CEO da WorldPay, Floris de Kort. “Além disso, as demandas são únicas, o que fazemos pela Emirates Airline, por exemplo, é diferente do que entregamos para o Google.” Atualmente, a companhia, que recebeu aportes dos fundos private equality Bain Capital e Advent International, conta com uma carteira de 300 mil clientes espalhados ao redor do mundo, com foco nas grandes empresas.
Outra grife de peso, e uma de suas principais concorrentes internacionais, desembarcou antes que a WorldPay, no Brasil. A holandesa Adyen, que recebeu um aporte de US$ 250 milhões dos fundos General Atlantic, Temasek e Felicis Ventures, para expandir as suas operações, cresceu 100% no mundo, em 2014. Hoje, conta em sua carteira de clientes com quatro das cinco maiores companhias de internet dos Estados Unidos.
“Esperamos crescer, no mínimo, 300% no Brasil, neste ano”, diz Jean Christian Mies, vice-presidente sênior da Adyen para a América Latina. Mas como isso é possível em uma economia em recessão? Segundo Mies, o crescimento do e-commerce acontece porque a base de consumidores ainda é pequena perto do potencial de mercado. “Os smartphones estão impulsionando esse avanço”, diz o executivo, que contabiliza 200 clientes, como a Azul Linhas Aéreas, Boticário, Hering e Avianca. Não por acaso, Rômulo de Melo Dias, presidente da Cielo, enfatizou, durante a teleconferência de divulgação dos resultados do primeiro trimestre, que a concorrência está cada vez mais acirrada. “A competição vem de todos os lados, desde os que já estão há mais tempo no mercado como dos novos entrantes”, afirmou Dias.