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21/11/2014 - BB busca eficiência em parceria com Cielo

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Por Felipe Marques | De São Paulo | Valor Econômico

Foi um encontro de necessidades que levou Cielo e Banco do Brasil (BB) a criarem uma nova empresa de cartões, avaliada em R$ 11,6 bilhões. O BB precisava ganhar mais eficiência e reforçar seu capital, duas áreas em que o banco público fica atrás de seus pares privados. Já a credenciadora de cartões, queria encontrar uma forma de diversificar suas receitas para além da captura de compras com cartão em lojistas, uma vez que a regulação do setor de pagamentos tende a pressionar seus resultados.

Não saiu barato, porém, desenhar essa solução. A aliança prevê que o BB abra mão da taxa percentual que recebe toda vez que é feita uma compra com cartão emitido por ele, a tarifa de intercâmbio, que passará a ser computada na nova empresa. Por outro lado, vai para a nova empresa também uma série de custos que o banco público tem dentro de casa, tais como o controle de segurança das transações com cartão, a gestão operacional das transações, e o pagamento de tarifas às bandeiras.

Já a Cielo vai pagar R$ 8,1 bilhões para ter uma participação de 70% na nova empresa. Com isso, se beneficiará da tarifa de intercâmbio dos cartões do BB, uma receita menos sujeita à competição com outras empresas e que pode ajudar a compensar perdas que mudanças na regulação do setor de cartões possam trazer para a companhia. Os outros 30% são do BB.

Conseguir levantar esse dinheiro vai exigir um salto no endividamento bruto da Cielo, de R$ 2,5 bilhões para R$ 10,1 bilhões.

Para suportar a nova carga de dívida, a Cielo vai propor redução do percentual mínimo pago em dividendos de 50% para 30%. Atualmente, a companhia distribui cerca de 70% do lucro. Segundo Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo, a mudança não "é para sempre" e não quer dizer que vá se distribuir apenas o valor mínimo.

Em troca dos ativos, o BB receberá debêntures de dez anos emitidas pela credenciadora. É uma estrutura curiosa, uma vez que a Cielo financia a compra de ativos do BB com as debêntures que serão compradas pela própria instituição financeira do governo.

A lei nº 4.695 de 1964 proíbe que as instituições financeiras concedam empréstimos ou adiantamentos a empresas de cujo capital participem com mais de 10%. Como o BB detém 28,65% da Cielo, não poderia financiar essa transação, mas a regra exclui os bancos públicos dessa proibição.

O BB ainda terá um impacto de cerca de R$ 3,2 bilhões no seu lucro líquido, uma vez aprovada a operação. Segundo Ivan Monteiro, vice-presidente financeiro do BB, a cifra é resultado da diferença entre o valor que a operação tinha nos livros do banco e a avaliação que foi feita da nova companhia. Também há efeito positivo - e não divulgado - no índice de Basileia do BB.

O Goldman Sachs classificou a operação como "incomum". "A transação proposta vai novamente enfraquecer a geração de receita principal do BB. O impacto no capital, apesar de positivo, será relativamente pequeno e os benefícios do lado dos custos ainda não são claros", escreveu Carlos Macedo, em relatório.

"No banco, vamos focar em novos negócios, distribuição de novos produtos e ganhos de participação de mercado", disse Raul Moreira, diretor de cartões do BB. Continuam com o BB o relacionamento com clientes, marketing, análise e concessão de crédito, cobrança, receitas de anuidade e financeira, além da operação de pré-pagos e de cartões feitos para programas do governo.

O acordo ajuda o BB a reduzir custos trabalhistas e operacionais. Como banco público, o BB tem dificuldade em demitir. Outro problema é a terceirização de serviços, que precisa ser sempre via licitação, pelo menor preço, não necessariamente o melhor serviço. Já a nova empresa, controlada pela Cielo, não tem tais amarras.

O lucro "pro-forma" da nova empresa no acumulado 12 meses encerrados em setembro foi de R$ 578 milhões. A nova empresa deve ter cerca de 500 funcionários. Trabalhadores e ativos físicos do BB não serão transferidos. (Colaborou Carolina Mandl)

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