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25/09/2014 - Novatas em cartões tentam derrubar barreira para crescer

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Por Felipe Marques | De São Paulo | Valor Econômico

As seis credenciadoras de cartão que entraram no mercado brasileiro desde 2010, quando Cielo e Rede perderam a exclusividade de capturar compras com cartões Visa e MasterCard no país, se uniram em um projeto comum para tentar derrubar o que consideram uma barreira para seu crescimento no Brasil. As credenciadoras capturam as compras com cartão no varejo.

A iniciativa é desenvolvida no âmbito da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), que pertence aos bancos, e pretende reduzir drasticamente os custos de operação das novatas, tornando mais equilibrada a concorrência com as gigantes Cielo (controlada por Banco do Brasil e Bradesco) e Rede (do Itaú Unibanco).



O projeto tem como objetivo facilitar a comunicação e as transferências de valores entre as credenciadoras novatas e os bancos que não são seus parceiros. Hoje, como essa comunicação não funciona direito, as novatas têm dificuldades - e acabam pagando mais caro - para realizar uma série de operações.

Os exemplos vão desde complicações para pagar os seus lojistas clientes (é a credenciadora quem paga ao lojista o dinheiro da compra com cartão) até impossibilidade de oferecer ao comerciante uma linha de crédito baseada na antecipação dos valores que o lojista tem a receber por conta das vendas com cartões.

O grande problema é quando o banco do lojista não é o mesmo banco que é parceiro da credenciadora, o que praticamente funciona como regra para essas empresas novatas. Cada uma das seis empresas têm seu banco parceiro: a Elavon atua com o Citi; a Global Payments, com o Banco de Brasília (BRB); a First Data, com o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob); e a Stone atua com Pan (ex-PanAmericano) e BTG Pactual. Santander e Banrisul completam a lista das empresas que ingressaram no mercado após 2010.

Quando um lojista que tem conta no Bradesco, por exemplo, quer ser cliente da Global Payments para aceitar cartões, os dois precisariam trocar uma série de arquivos sobre as movimentações do lojista para que algumas operações sejam possíveis. Para o Bradesco poder antecipar as faturas de cartão para lojistas da Global, ele precisaria ser capaz de ler uma espécie de cronograma do que o lojista tem a receber. Atualmente, porém, o Bradesco, assim como a maior parte das instituições grandes e médias, só é capaz de ler esse arquivo da Cielo e da Rede, que estão há mais tempo no mercado. Logo, a antecipação de recebíveis não ocorre.

Outro problema que as novatas enfrentam acontece na hora de pagar o lojista. As credenciadoras fazem, por dia, milhares de transferências para lojistas, clientes de diversos bancos. Rede e Cielo conseguem fazer isso de forma automatizada, por terem sido pioneiras do mercado. Com apenas uma transferência, são capazes de pagar todos os lojistas clientes de determinado banco. As novatas precisam fazer uma transferência para cada lojista - cujo valor pode variar de R$ 0,80 a R$ 3,00 por cada transferência.

O projeto que as seis novatas tentam colocar de pé tenta justamente eliminar essa vantagem de Cielo e Rede. A ideia é centralizar na CIP toda a troca de arquivos, facilitando a adaptação dos bancos aos sistemas das credenciadoras. Segundo o Valor apurou, o projeto levaria entre seis e oito meses para ser desenvolvido e o custo - que deve ser arcado apenas pelas novas credenciadoras - fica na casa dos R$ 800 mil. A CIP não comenta.

"Com o custo adicional que eu tenho hoje, atender lojistas de menor porte fica praticamente inviável. Um lojista que tenha pagamentos a receber todo dia, mas que movimente cerca de R$ 2 milhões em volume financeiro por mês, eu não consigo atender", afirma um executivo de uma das novas credenciadoras.



Para o presidente de uma outra credenciadora, porém, mesmo que o padrão da CIP fique pronto não significa que os bancos vão adotá-lo. "Na minha visão, isso é algo que o regulador teria que incentivar. O mercado precisa mudar para que haja mais equilíbrio entre os participantes", afirma. Ainda assim, ele se diz otimista sobre o fim dessas barreiras já em 2015. "Ao longo do ano que vem, entendo que veremos gradualmente uma nova realidade na indústria."

Desde o ano passado, o setor de cartões é oficialmente regulado pelo Banco Central (BC). Em diversos encontros com a indústria - públicos ou privados -, a autoridade deixou claro ter uma agenda de incentivo à concorrência, embora não tenha dado prazos para os ajustes.

Bolivar Moura, presidente da Banrisul Cartões, diz que o desenvolvimento de um sistema padronizado vai ajudar a criar um ambiente de competição mais igualitário entre as credenciadoras. "É algo que impedirá os bancos de beneficiarem suas próprias credenciadoras em detrimento das demais."

"A concentração bancária não pode ser usada para vedar a concorrência no mercado de captura de cartões. É preciso um equilíbrio entre os participantes", afirma Edson Santos, presidente da consultoria Co Link, autor de um recente artigo sobre a competitividade na indústria. Santos foi presidente da Global Payments no Brasil.

Na visão de Santos, além dessa questão tecnológica, a reserva de mercado que algumas credenciadoras têm para capturar determinadas marcas de cartão é outro obstáculo relevante ao avanço das novatas. Hoje, cartões Elo, Alelo e American Express são exclusivos da Cielo, ao mesmo tempo em que Hiper / Hipercard e Ticket passam apenas na Rede.

Para o consultor, o fim dessa reserva diminuiria as dificuldades de entrada em alguns segmentos, como de restaurantes, redes de supermercado e lojistas de luxo. A abertura da Hipercard, do Itaú, e da bandeira Banricompras, do Banrisul, também ajudaria na hora de crescer no Nordeste e no Sul.

A expectativa de fontes da indústria é que os acordos para essa abertura comecem a ser fechados até o fim de 2014. A implantação, contudo, deve ser feita ao longo de 2015 - e os efeitos práticos da mudança podem ficar só para 2016.

"Até conseguirmos resolver essas questões, nosso custo operacional será maior que o das grandes credenciadoras", afirmou a presidente da First Data, Debbie Guerra, em evento recente. Para ela, esse custo maior no começo era algo com que a empresa já contava para atuar no Brasil. Sua visão é que há uma pressão tanto para o fim das exclusividades como das barreiras tecnológicas. "As barreiras podem até ser altas, mas as promessas de crescimento da indústria brasileira de cartões também são grandes."

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