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15/10/2024 - As maquininhas de cartão vão desaparecer?

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Por: Valor Econômico

 

Há alguns anos, com o surgimento do Pix, da open finance e, mais recentemente, da tecnologia que permite usar o celular para receber pagamentos por aproximação, parecia que as maquininhas de cartão desapareceriam. No entanto, os equipamentos, conhecidos na indústria pela sigla POS (de “ponto de venda”, em inglês), estão se reinventando e conseguindo manter a onipresença nos estabelecimentos comerciais.

Não há um levantamento preciso sobre o parque de maquininhas no Brasil, mas participantes da indústria estimam que sejam perto de 20 milhões de unidades. Os principais fabricantes globais, e também no país, são a americana Verifone e a francesa Ingenico. Nos últimos anos, o mercado brasileiro sofreu uma invasão de terminais chineses, de nomes como Pax, Sunmi e Newland. Algumas indústrias locais também têm seus nichos, como Gertec, Positivo e Tectoy (a fabricante do antigo videogame). Para um novo modelo ser introduzido no mercado, precisa ser homologado e certificado pelas bandeiras de cartões, que são as orquestradoras do arranjo de pagamento.

Fabricantes de maquininhas ouvidos pelo Valor dizem que o mercado vem crescendo, a despeito dos prognósticos. Os POS têm se moldado às novas tecnologias, aceitando pagamento por Pix (via QR Code dinâmico, que é mais seguro que o estático) e por aproximação (NFC, na sigla em inglês). Os aparelhos também ganharam mais autonomia de bateria, memória e conectividade. O grande apelo, porém, são os serviços oferecidos pelas credenciadoras dentro da maquininha.

Para Gastão Mattos, da consultoria GMattos, o uso do POS está enraizado na cultura do varejo brasileiro e alguns tecnologias concorrentes, como o “tap on phone” (tecnologia que permite receber pagamentos por aproximação pelo celular), podem até atender a demanda de vendedores ambulantes e microempreendedores, mas não ameaçam o império das maquininhas. “Uns cinco anos atrás havia no mercado a visão da obsolescência dessa forma de captura de pagamentos [maquininha], mas isso não ocorreu. O fato é que é muito complexo implementar outra forma, são muitos milhões de estabelecimentos comerciais, e não há uma outra solução tão completa. Vai trocar a maquininha por o quê? O ‘tap on phone’ preenche uma lacuna, mas é um nicho muito pequeno, não deve ser nem 5% do total”, afirma.

Caetano Altieri, diretor da Verifone no Brasil, diz que a fabricante está trazendo um novo modelo para o país, mais ergonômico. O sistema é baseado no Android 10.x, facilitando o desenvolvimento e a gestão de aplicativos que melhoram a experiência do cliente. “Nossa estratégia global é focada em produtos ‘smart’, que têm um valor agregado mais alto”, afirma.

Segundo ele, com a fábrica em Sorocaba (SP), a empresa consegue customizar as máquinas para os clientes e agilizar a entrega. A Verifone terá uma nova regional para América Latina e designou Federico Villanova como vice-presidente executivo.

Marcella Klebis, vice-presidente de estratégia da Ingenico no Brasil, diz que há uma forte migração no mercado para máquinas com sistema Android, e o processo de substituição levará alguns anos. “Ainda existe muita maquininha tradicional, aquela que só faz pagamento. Na ‘smart’, o pagamento é só uma das funcionalidades, tem uma série de outras opções, com softwares de conciliação de pagamento, impressão de nota fiscal, nos restaurantes dá para tirar o pedido do cliente pela maquininha, até fazer gestão de estoque”, diz.

Ela lembra, no entanto, que fora das grandes regiões metropolitanas o Brasil ainda tem dificuldades de conectividade à internet e uma população um pouco menos digitalizada. “Nesse contexto, a captura física do pagamento ainda é muito importante”.

A pandemia levou à bancarização e à digitalização de dezenas de milhões de consumidores no Brasil, mas uma parcela significativa da população ainda não se sente confortável em fazer compras on-line, lembra Mattos. Ele explica que muitas tecnologias que tentam conciliar o mundo físico e o digital ainda têm uma grande fricção, ou mesmo não são escaláveis.

É o que acontece, por exemplo, em algumas lojas-conceito nos Estados Unidos, onde o cliente entra, colocar os produtos no carrinho e não precisa passar no caixa, já que na saída há um detector que registra os itens e gera uma cobrança automática no cartão dele. “É lindo, é uma experiência válida, mas por enquanto não é uma solução viável. Ali a compra física está sendo transformada em um pagamento online. Acontece que os pagamentos online historicamente são mais sujeitos à fraude e, historicamente, têm uma taxa de aprovação bem menor, de 70% em média, enquanto no físico a aprovação no cartão é de 95%. Então você está pegando algo mais barato e com uma conversão maior e transformando em uma transação mais cara e com conversão menor”, diz o consultor da GMattos.

Para o consultor, as maquininhas vão ser adaptadas para receber formas de pagamento que estão surgindo, como biometria facial ou da palma da mão, como já acontece na China. “Acho mais fácil isso prosperar com grandes credenciadoras tendo POS com essa capacidade do que em soluções proprietárias nichadas.”

Participantes da indústria destacam a questão da segurança. Em um país que lidera os casos de fraude, muitos clientes não se sentem seguros ao realizar um pagamento aproximando o cartão do celular do vendedor. E, no Pix, há a questão da conciliação das vendas. “Uma coisa é receber quatro, cinco pagamentos por dia e jogar isso manualmente no sistema. Mas um grande varejista que recebe mil Pix por dia vai fazer como para conciliar isso? As maquininhas vão continuar existindo porque se adaptam. Alguns Estados já exigem emissão da nota fiscal na hora da compra, e as maquininhas podem fazer isso. Ainda que surjam novas tecnologias, elas levam tempo para ganhar usabilidade”, diz Jorge Ribeiro, fundador e CEO da brasileira Gertec, que desde que entrou no segmento já vendeu 8 milhões de terminais.

Klebis, da Ingenico, compara os pagamentos com a música. “O consumo de música passou pela vitrola, depois a fita cassete, discman, MP3 Player e hoje está nos aplicativos de celular. O mercado evolui, mas sempre precisou de algum meio para levar a música ao ouvinte. Com o pagamento é a mesma coisa, sempre vai ser necessário algum método de captura.”

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