20/08/2024 - Stark Bank recebe aval do BC para atuar como instituição de pagamento
VoltarPor: Valor Econômico
Pouco mais de dois anos depois de ter atraído para o seu capital o Bezos Expedition, veículo de investimentos da gestora de fortunas de Jeff Bezos, fundador da Amazon, o Stark Bank obteve a licença do Banco Central (BC) para atuar como instituição de pagamento.
O aval permite à fintech alçar voos mais altos no seu intuito de ser um banco corporativo completo e morder um quinhão mais expressivo das transações do setor bancário tradicional. A autorização contempla emissão de moeda eletrônica, credenciador de cartões, emissor de instrumentos de pagamento pós-pago e iniciador de pagamentos.
O banco já havia anunciado em abril a sua estreia no mercado de credenciamento de lojistas do universo do comércio eletrônico, tendo a Rede, do Itaú, como parceira. Estuda incrementar a ferramenta “tap to pay”, de pagamento por aproximação com o uso de aplicativo de celular, e assim chegaria ao mundo físico.
Escalar no crédito via cartões é o passo para que o grupo dispute a preferência das companhias brasileiras em suas necessidades de pagamentos e recebimentos, da velha ou da nova economia. A base, com mais de 600 clientes, inclui nomes como Gol, Localiza, Ultragaz, Loft e Daki.
Como já atingiu o equilíbrio financeiro, roda com lucro e tem disponibilidade de caixa, não está no radar levantar mais dinheiro com investidores, diz Rafael Stark, que fundou a empresa como é conhecida hoje em 2018. Mas num horizonte de cinco a dez anos ele considera uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), seguindo o caminho de outras fintechs como Nubank e Stone, que listaram ações no exterior.
Esse é um plano para quando o negócio atingir uma avaliação de mercado na casa dos US$ 10 bilhões, ainda longe dos US$ 250 milhões da capitalização de 2022, quando recebeu US$ 45 milhões, numa rodada liderada pela Ribbit Capital e que teve a participação do family office de Bezos. No início do ano, mapeamento da plataforma de inovação Distrito colocava o Stark Bank como uma das 20 startups da América Latina que poderiam alcançar o status de “unicórnio”, com um valor de mercado de US$ 1 bilhão.
“[A saída dos investidores] Provavelmente vai ser num IPO porque vender a empresa, a gente não vai. Não tem um prazo específico, tem muito o que crescer ainda”, diz Stark, ao compartilhar sua visão para o negócio com o Valor. “Por ora, o capital é suficiente para fazer os investimentos que precisa, a gente não está procurando novos investidores, mas se encontrar durante a jornada alguém que possa ajudar a acelerar esses planos, trazer sócios que agreguem algum conhecimento, é possível avaliar.”
No ano passado, o Stark Bank movimentou R$ 155 bilhões em pagamentos, três vezes mais que em 2022 e o lucro líquido somou R$ 71,5 milhões, saindo de R$ 6,6 milhões no exercício anterior. Trata-se de um desempenho pouco comum a novatas, que costumam levantar recursos, investir na operação, mas que gastam mais do que faturam nos anos iniciais e rodam no vermelho, descreve Stark. É justamente o perfil que não sai queimando caixa que gestoras de “venture capital” têm privilegiado em tempos de juros altos.
Stark começou desenvolvendo aplicativos para iOS e Android, criou a sua empresa de software em 2014, a Hummingbird Product Studio, no mesmo CNPJ do que viria a ser a Stark Instituição de Pagamento. Foi uma demanda da Colgate, de criar um sistema para reembolsar clientes por qualquer defeito em seus produtos, a semente para o negócio atual. Ele criou um fluxo de aprovação para que os bancos depois fizessem o pagamento para diferentes contas. “Não encontrei nenhum banco que permitisse a conexão entre o sistema que estava desenvolvendo e o banco”, lembra.
Antes de inovações como o Pix ganharem o mercado durante a pandemia, já estava embutido ali o conceito do “open banking”, que permite olhar as movimentações financeiras e saldos como um todo. “Ninguém fazia, decidi montar”, diz Stark. No Pix, ele calcula ter uma fatia de mercado entre 8% e 10%, expurgando da conta a parcela que seus pares fazem na pessoa física.
O cartão de crédito corporativo vem casado com a conta empresarial e permite, além do Pix, a emissão de boletos de cobrança, recebimentos, pagamento de contas e a definição de limites e regras de uso para cada colaborador por tipo de despesa. A companhia cria a política e o Stark Bank garante que seja respeitada.
A ferramenta de fluxo de caixa permite programar pagamentos e identificar pessoas e centros de custos que mais gastam. “Em resumo, além do transacional que todo o banco tem, a gente dá um software muito melhor do que qualquer outro sistema que a empresa tenha”, diz Stark.
Está em teste a operação para que os clientes possam receber pagamentos via cartão de crédito. Com esse dinheiro, as companhias podem pagar a folha, impostos e fornecedores. Todo banco tem, mas Stark assegura que a experiência no seu sistema é diferente, permitindo, por exemplo, quitar contas com a foto de um boleto, jogando-o no internet banking, mesmo que a imagem esteja ruim, em vez de digitar o código de barras.
No crédito, a intenção é avançar na linha de cartões, já que a base é composta por grandes empresas e startups que estão capitalizadas, diz Stark. “Não é um gargalo. A gente está muito mais na tese de aumento da produtividade, eficiência, controle e gestão, que é o que todo mundo sente falta.”
Outro serviço que pretende incorporar é o de operações de câmbio e, eventualmente, adicionar o bitcoin - “que podem virar uma reserva de valor em alguns países”, ao lado do dólar e do ouro, e ser usado em transações de pagamento internacionais. Na base de clientes já há corretoras “cripto” como Bits, Transfero e Mercado Bitcoin, cita. Uma possibilidade seria integrar o seu internet banking com cada uma delas, servindo como um marketplace de moedas digitais.
Em investimentos, a oferta é restrita a títulos do Tesouro Direto e não há intenção de ampliar muito a grade, já que o banco só atende empresas e não vai atrás do público de varejo. Os laços financeiros com Bezos abrem portas no relacionamento. Ele conta que levou ao camarote do banco no Allianz Parque o empresário britânico Richard Branson, fundador da Virgin, que tem negócios que vão do turismo espacial a banco digital, para o show do tenor italiano Andrea Bocelli.
Mas é lógico que há também sinergias potenciais com a operação da Amazon no Brasil. “A gente vai chegar lá, mas está em ‘beta’ [fase piloto] ainda, precisa estar mais robusto para abordar a Amazon”, diz Stark. A oportunidade estaria em oferecer vantagens para os milhares de lojistas que vendem produtos pelo site.
No seu cartão de crédito Amazon Prime, a empresa usa o Bradesco como emissor, casado com a bandeira Mastercard, convertendo o seu uso num programa de recompensas para os clientes. Os pontos podem ser usados para qualquer compra na Amazon.com.br, mas não para assinaturas do serviço de streaming.