27/05/2024 - Débito ainda sofre no comércio eletrônico
VoltarPor: Valor Econômico
Apesar da recuperação recente do volume de compras on-line via débito, o meio de pagamento continua sofrendo em termos de aceitação e os valores transacionados seguem em patamares bem inferiores aos históricos. Edição mais recente do Estudo Gmattos de Pagamentos, antecipada ao Valor, mostra que só 20,3% das maiores lojas virtuais brasileiras ofereciam o meio de pagamento como opção ao cliente em maio, contra 28,8% um ano antes. Em 2021, essa aceitação ficava na casa dos 40%.
O setor de cartões vem adotando uma série de medidas para impulsionar o uso do débito. O meio de pagamento nunca foi plenamente aceito no ambiente virtual e foi o principal afetado desde o lançamento do Pix, em novembro de 2020. Para especialistas, as melhorias implementadas pela indústria podem ajudar o débito a ganhar espaço no comércio eletrônico, mas não é esperado um crescimento acelerado.
A análise do uso do débito no e-commerce feita pela Gmattos é dividida em duas frentes: há a oferta viabilizada diretamente pelos bancos e a disponibilizada pelas bandeiras.
O estudo mostra que há queda nas duas modalidades, mas com uma situação mais crítica no débito banco, que atingiu sua pior performance da série histórica, com oferta em somente 10,2% das lojas analisadas. Cofundador e CEO da consultoria, Gastão Mattos explica que a modalidade ligada aos emissores só sobrevive hoje devido à Caixa, que operacionaliza os pagamentos de benefícios sociais. Sem ela, a aceitação seria de pouco mais de 1%.
Já o débito bandeira era oferecido em maio em 11,9% das lojas analisadas (o cálculo consolidado exclui repetições). “O débito bandeira parece ter atingido um platô de aceitação, acho que até pode se recuperar um pouco em função dos investimentos que estão sendo feitos pela indústria, principalmente pelas bandeiras”, afirma Mattos.
Entre as ações já anunciadas, está a possibilidade de transações de baixo valor serem concluídas sem a necessidade de inclusão de senha. Está em implementação também o Click to Pay, uma carteira digital padronizada capitaneada pelas bandeiras. Por ora, a solução só funciona com o cartão de crédito, mas a ideia é incluir o débito ainda neste ano.
De acordo com o levantamento, tanto o cartão de crédito quanto o Pix eram oferecidos como opção de pagamento em 100% das lojas analisadas em maio. O boleto era aceito em 59,3% delas; as “wallets” (carteiras digitais), em 33,9%, e os parcelamentos alternativos ao cartão (“buy now, pay later”, BNPL, ou compre agora, pague depois), em 42,4%. A sondagem, que na edição de maio observou 59 lojas on-line de destaque no mercado brasileiro, é realizada bimestralmente desde 2021. Os dados, explica Mattos, mostram que o débito tem sido o grande prejudicado pelo avanço do Pix. O crédito continua sendo o meio de pagamento preferido no meio digital, enquanto o boleto se mantém resiliente.
O diretor executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e CEO da CertDox, Carlos Oliveira, afirma que as iniciativas tomadas pelo setor de cartões para melhorar a experiência de usuários com o débito on-line são importantes, mas não devem fazer com que a adesão ao instrumento de pagamento volte a crescer de forma substancial.
“O débito pode ser uma opção interessante para algumas transações virtuais, como compras de pequeno valor, por exemplo, mas tem uma arquitetura antiga”, diz Oliveira. “Além disso, é preciso considerar que a experiência com o Pix no ambiente on-line também está melhorando e há uma série de medidas que ainda devem ser implementadas”, acrescenta. A GMattos observa que, em maio, 47% nas lojas analisadas ofereciam descontos ou outras vantagens para o pagamento com Pix.
Na semana passada, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) divulgou que as compras pagas no débito no ambiente on-line tiveram forte alta no primeiro trimestre ao somarem R$ 3,6 bilhões, avanço anual de 19,6%. “O uso de cartão de débito em compras remotas vem crescendo acima do que esperávamos”, afirmou o presidente da entidade, Giancarlo Greco, acrescentando que a movimentação já é resultado das iniciativas de melhoria de experiência adotadas.
A análise de uma série mais longa, no entanto, mostra um encolhimento considerável do uso. Em 2023, foram transacionados R$ 14,3 bilhões via débito no on-line, enquanto em 2020 esse volume havia sido de R$ 43,9 bilhões.
Para Mattos, o Click to Pay, por exemplo, é um produto com grande potencial, mas ainda é preciso observar qual será a velocidade de implementação e da adoção disso pelo usuário. Oliveira, por sua vez, afirma que há um espaço interessante de uso, mas vê um “otimismo exagerado” da indústria em relação ao potencial de uso.
Em relação ao boleto, ele observa que se mantém resiliente no e-commerce tanto por atender a uma parcela da população que não tem acesso a outras formas de pagamentos quanto pelas melhorias que vêm sendo implementadas pela indústria na modalidade, como a liquidação de parte das transações no mesmo dia de pagamento e a inclusão do Pix também nos boletos.
Já em relação às “wallets”, chama atenção para a ascensão do NuPay, que já aparece na segunda colocação entre as carteiras mais usadas, atrás apenas do Paypal. A GMattos cita a base grande de clientes no Nubank e a usabilidade como pontos positivos do NuPay. Entre os pontos negativos, aponta a necessidade de integração específica e a possibilidade de desintermediação - ou seja, de o próprio Nubank ofertar o parcelamento, sem participação do lojista -, embora esse tipo de oferta não tenha sido observado.
A GMattos fez ainda uma análise de conteúdos de publicidade presentes nas lojas acompanhadas e concluiu que 27% apresentavam algum tipo de anúncio. Para a consultoria, esse é um instrumento ainda pouco utilizado pelo comércio, mas com potencial de crescimento.