08/11/2023 - Rentabilidade é prioridade, diz CEO da Getnet
VoltarPor Mariana Ribeiro | Valor Econômico
O CEO da Getnet, Cassio Schmitt, afirma que a companhia segue focada em rentabilidade e não está abrindo mão de receitas para ganhar participação de mercado. De acordo ele, a credenciadora, que faz parte do grupo Santander, poderia estar “tranquilamente ganhando mais ‘market share’ neste ano” se tivesse assumido uma postura mais agressiva. “E não estamos fazendo isso”, disse em entrevista ao Valor.
Schmitt afirma que, embora uma análise de curto prazo sugira que a companhia vem ganhando espaço, uma perspectiva mais longa mostra que a participação tem se mantido na casa de 15% nos últimos três anos. “Perdemos um pouco de mercado no ano passado e isso está se ajustando. Mas não estamos buscando contratos com aquela agressividade que já tivemos no passado. Passamos por um período de construção e estamos agora, de fato, em um momento de busca de rentabilidade.”
Os números dos últimos trimestres mostram que Rede e Getnet vem ganhando participação de mercado enquanto a Cielo tem perdido. Analistas e participantes de mercado têm citado uma postura competitiva mais agressiva de credenciadoras não listadas em bolsa, especialmente em grandes contas. Segundo dados compilados por analistas do BTG Pactual, a Rede ficou com um market share de 28,6% no segundo trimestre. A credenciadora do Itaú assumiu a liderança do segmento, tradicionalmente ocupada pela Cielo (que ficou com 26,9%). A Getnet, terceira maior adquirente, ficou com 18,2%. Os dados do terceiro trimestre ainda estão sendo divulgados.
O CEO da Getnet destaca que as negociações em grandes contas sempre são duras, mas que os movimentos de reprecificação seguem acontecendo na cadeia. “Temos perdido alguns clientes, inclusive, pelo tema de rentabilidade e conquistado outros dentro de uma oferta de valor mais completa. Esse é o nosso grande desafio, como a gente diferencia a nossa oferta para, de fato, não ter que discutir pura e simplesmente margens extremamente apertadas.” O crescimento, segundo ele, tem se dado principalmente nos pequenos e médios negócios (PMEs).
Em um segmento altamente competitivo como o de adquirência, crescimento sem a rentabilidade adequada não é mais defensável, diz o executivo. Ele também nega a avaliação de que, por não ser mais listada em bolsa, a Getnet pode abrir mão de receitas em busca de ganho de clientes. Schmitt lembra que, desde que fechou capital, há um ano, a Getnet Brasil responde à PagoNxt, empresa do grupo que reúne as soluções de pagamento, e não ao Santander Brasil. A companhia precisa dar resultado, acrescenta.
O volume de pagamentos processados pela Getnet Brasil cresceu 15% de janeiro a setembro na comparação anual. Há desaceleração nos resultados no ano, em linha com a indústria de cartões, mas a expectativa é a de que o crescimento da credenciadora siga na casa dos 14% a 15% em 2023, diz Schmitt. A previsão é de avanço acima da indústria. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) espera que o volume transacionado por cartões suba de 9% a 11% no ano.
O CEO afirma que a estratégia da companhia não mudou desde a saída da bolsa, mas que está em curso um processo de integração cada vez maior com a plataforma global da PagoNxt. Os principais objetivos são ganhar velocidade e escala e reduzir custos, acrescenta. “Se a gente quiser prestar serviço para um cliente regional, que queira operar em vários países da América Latina, por exemplo, a ideia é que ele consiga fazer uma integração única”, exemplifica.
A PagoNxt oferece serviços de adquirência também no Uruguai, Chile, Argentina, México, além de em países da Europa, e conta com outras frentes de atuação em pagamentos. A integração em curso envolve áreas como arquitetura na nuvem, tokenização, câmbio e ferramentas de atendimento. As mudanças são graduais, mas a ideia é que grande parte do processo esteja concluída até 2025.
Schmitt frisa que a empresa está focada na construção de uma oferta completa aos lojistas. “Se eu não consigo entregar uma solução de valor agregado aos clientes, a competição fica muito no serviço básico de adquirência, que as empresas conseguem precificar pouco hoje. É preciso diferenciar o serviço em qualidade, robustez de plataforma, níveis de aprovação, antifraude e dados.” Segundo ele, a base de clientes tem se mantido estável. A empresa optou por sair um pouco do segmento de autônomos, até pelo avanço do Pix no grupo, e focar mais em PMEs.