04/10/2023 - Credz, com dívidas em atraso, pode ser vendida para DM
VoltarPor Álvaro Campos | Valor Econômico
A família controladora da administradora de cartões Credz negocia a venda da companhia para a DM (antiga DM Card), apurou o Valor. A empresa passa por uma situação financeira delicada.
No mês passado, a Credz deixou de pagar uma nota comercial junto ao BV, o que fez o banco entrar com um pedido de execução extrajudicial e pode desencadear o vencimento antecipado de debêntures da companhia e afetar também um FIDC da administradora.
Ontem, a S&P rebaixou os ratings das cotas seniores do FIDC Credz de ‘brAA’ para ‘brAA-’ e os colocou em revisão para possível novo rebaixamento. Segundo a agência de rating, a ação reflete o potencial impacto do risco operacional do FIDC em função das incertezas sobre a estrutura de capital e de liquidez da Credz, “decorrente do evento recente de não pagamento de parte de sua dívida na data de vencimento original, e potenciais impactos sobre as debêntures e outras dívidas da empresa”.
Já á Fitch afirmou que a suspensão de pagamento de juros e principal ("standstill") das dívidas bancárias da Credz não tem impacto sobre os ratings das cotas do FIDC. “Na opinião da agência, a dependência do FIDC em relação à originadora está adequadamente mitigada, pois a transação conta com a Fidelity como processadora independente e backup servicer. Além disto, a Credz opera sob a bandeira Visa. Estes fatores são suficientes para endereçar a exposição proveniente do relacionamento entre a Credz e os originadores no que tange seu papel como agente de cobrança. ”
Em agosto, o patrimônio líquido do FIDC era de R$ 1,59 bilhão e o veículo contava com disponibilidades equivalentes a R$ 56,6 milhões. A Oliveira Trust, administradora e custodiante do FIDC, reportou arrecadação de R$ 623,4 milhões, em linha com a média dos últimos 12 meses.
Segundo o Valor apurou, ontem foi assinado uma carta de intenções não vinculante entre a família Zogbi e a DM para a venda de 100% da Credz. Um acordo, no entanto, depende de alguns fatores, como adequação do fluxo de caixa, aprovações regulatórias e “waiver” (uma espécie de perdão) de cotistas e credores tanto de títulos de dívida como de empréstimos bancários. A gestora Vinci é acionista da DM e estaria participando das conversas, mas não está claro se faria um novo aporte na companhia para viabilizar a compra da Credz. O fechamento do acordo ainda deve levar alguns meses.
De acordo com fontes com conhecimento da operação, a Credz tem quase 1,2 milhão de cartões ativos e um volume de pagamentos processados (TPV) de R$ 8 bilhões. Já a DM, após a aquisição da FortBrasil em abril, teria 1,7 milhão de cartões. Ou seja, se forem mesmo combinadas, elas formariam a maior administradora de cartões independente do Brasil, com quase 3 milhões de plásticos e um TPV de R$ 20 bilhões.
A família Zogbi vendeu o banco que levava seu sobrenome para o Bradesco em 2003, por R$ 650 milhões. Em 2011 criou a Credz e mais recentemente pretendia transformá-la em uma financeira. A Credz nasceu como emissora e bandeira de cartões, mas em 2018 fechou acordo com a Visa e deixou de atuar como bandeira. Ela trabalha com o modelo “private label”, no qual o cartão tem o logo das varejistas parceiras.
Segundo fontes do setor, a companhia é bem administrada, mas sofreu em 2021 e 2022, assim como o mercado como um todo, em função da disparada dos juros e aumento da inadimplência. O segmento de cartões também viu um excesso de oferta no início da pandemia e, na virada de 2021, muitos players começaram a tirar o pé do acelerador.
Já a DM recebeu no início de 2022 um aporte de R$ 100 milhões da Vinci Partners, com a gestora ficando com uma fatia minoritária significativa na administradora de cartões. Fundada em 2002 em São José dos Campos (SP), por Denis Correia e Moisés Souza, a DM também tem foco em cartões white label, mas focada em supermercados, que são quase 90% da sua base e sofreram menos que outros segmentos do varejo na pandemia.
Procurados, Credz, DM e BV não se manifestaram.
