05/09/2023 - Embate sobre rotativo e parcelado marca setor de cartão
VoltarPor Álvaro Campos e Mariana Ribeiro, Valor
Os debates sobre como reduzir o juro do rotativo no cartão de crédito levaram o setor a um clima de guerra. Os bancos defendem que haja reequilíbrio dos riscos entre os diferentes participantes da estrutura, o que, para eles, envolveria mudanças no parcelado sem juros. Já credenciadoras independentes alegam que a receita dos bancos em compras parceladas é maior do que no formato à vista, cobrindo com folga os riscos, e que não há relação entre as altas taxas do rotativo e os parcelamentos. Enquanto isso, as bandeiras — que são “players” internacionais — se veem no meio do fogo cruzado e adotam uma postura mais discreta.
No que está se tornando uma “batalha de estudos”, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou um levantamento afirmando que as credenciadoras independentes são contra mudanças no parcelado sem juros porque criaram um modelo de negócios baseado na antecipação de recebíveis. Já a Associação Brasileira de Internet (Abranet) e a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), que representam empresas como PagBank e Stone, alegam que os bancos sempre quiseram acabar com o parcelado sem juros e usam o rotativo como desculpa. Além disso, dizem que a tarifa de intercâmbio no parcelado é mais do que suficiente para compensar os riscos de inadimplência.
Os debates sobre como reduzir o juro do rotativo no cartão de crédito levaram o setor a um clima de guerra. Os bancos defendem que haja reequilíbrio dos riscos entre os diferentes participantes da estrutura, o que, para eles, envolveria mudanças no parcelado sem juros. Já credenciadoras independentes alegam que a receita dos bancos em compras parceladas é maior do que no formato à vista, cobrindo com folga os riscos, e que não há relação entre as altas taxas do rotativo e os parcelamentos. Enquanto isso, as bandeiras — que são “players” internacionais — se veem no meio do fogo cruzado e adotam uma postura mais discreta.
No que está se tornando uma “batalha de estudos”, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou um levantamento afirmando que as credenciadoras independentes são contra mudanças no parcelado sem juros porque criaram um modelo de negócios baseado na antecipação de recebíveis. Já a Associação Brasileira de Internet (Abranet) e a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), que representam empresas como PagBank e Stone, alegam que os bancos sempre quiseram acabar com o parcelado sem juros e usam o rotativo como desculpa. Além disso, dizem que a tarifa de intercâmbio no parcelado é mais do que suficiente para compensar os riscos de inadimplência.O presidente da Febraban, Isaac Sidney, cita um estudo comparativo entre taxas cobradas por credenciadoras independentes e aquelas vinculadas a grandes bancos na antecipação de recebíveis. A declaração ocorre após a Abranet ter veiculado anúncios na TV no fim de semana afirmando que os bancos querem acabar com o parcelado sem juros. “Quero deixar muito claro que os bancos não defendem o fim do parcelado sem juros. O que defendemos é um reequilíbrio da dinâmica do cartão de crédito para, de um lado, termos um redesenho do rotativo e, de outro, um aprimoramento das compras parceladas”, diz Sidney.
A Febraban argumenta que as credenciadoras independentes tornaram parcela relevante do varejo refém da antecipação de recebíveis. E diz que esse é um modelo totalmente artificial que estimula compras pelas famílias com prazo longo de financiamento, para “sufocar os lojistas com taxas altíssimas de descontos”. E quanto maior o prazo para o consumidor pagar, mais ele se endivida e mais dependentes os comerciantes ficam da antecipação de recebíveis para fazer fluxo de caixa. “Essa é a agenda oculta das ‘maquininhas’ independentes”, diz Sidney.
Já a Abipag divulgou um estudo elaborado pela Campos & Ribeiro de Lucinda Consultoria Econômica que mostra que a rentabilidade de toda a operação de emissão de cartão de crédito, considerando os clientes adimplentes, os que acessam o rotativo e o parcelado com juros é estimada em 29%. “A tarifa de intercâmbio é substancialmente maior para transações no parcelado, do que no crédito à vista — sendo mais do que suficiente para remunerar risco do emissor”, afirma o estudo. E a Febraban rebate: “O parcelado sem juros é deficitário e exige o subsídio cruzado das compras à vista. Quanto maior o prazo, maior o subsídio”.
Em apresentação à qual o Valor teve acesso, credenciadoras destacam que o aumento da competição em adquirência gerou custos menores aos lojistas, com queda nas taxas da antecipação de recebíveis. De acordo com dados exibidos, a modalidade tem hoje taxas na casa de 1,4% ao mês, representando um spread de 0,31 ponto percentual, enquanto em 2011 (antes da abertura do mercado), esses números eram de 2,5% e 1,6 ponto, respectivamente.
Dizem ainda que a “competição reduzida” na emissão de cartões gerou aumento de custos aos adquirentes e que os grandes bancos querem limitar o parcelamento sem juros para reduzir concorrência do mercado de maquininhas.
Elas destacam que, de 2011 a 2023, o perfil de uso do parcelado sem juros não se alterou, com o número médio de parcelas permanecendo abaixo de quatro. Acrescentam que o que aumentou no período foi a concessão de crédito e a quantidade de cartões, gerando “inadimplências recordes”. Para eles, esse é o principal fator por trás dos altos juros no rotativo.
Procurada, a Abipag afirmou que embora não haja dados públicos, a afirmação de que maquininhas independentes cobram mais que bancos não é correta. “Os perfis de clientes que utilizam maquininhas e serviços auxiliares são bastante variados, e essa heterogeneidade se reflete em condições distintas. Para um dado perfil de cliente, no entanto, as condições tendem a ser parecidas e o rápido ganho de ‘market share’ das independentes sugere a incorreção da afirmação feita pelos bancos.”
A PagBank diz desconhecer os dados compilados pela Febraban. “Utilizamos dados oficiais, divulgados mensalmente pelo BC, que mostram que as taxas médias de antecipação de recebíveis estão em 1,4% ao mês, ou 19% ao ano, sendo 23 vezes menores que os 445% cobrados pelos bancos no cartão de crédito rotativo”. Stone direcionou o questionamento para Abipag.