28/08/2023 - Parcelamento sem juros e sem cartão cresce em compras on-line
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Por Luiz Antônio Cintra — Para o Valor, de São Paulo
Velho conhecido do parcelamento com crediário e cheque pré-datado, o varejo nacional tem usado cada vez mais as plataformas de e-commerce para oferecer parcelas sem juros e a um clique de distância, nas chamadas operações do tipo BNPL. Sigla em inglês para “buy now, pay later”, o BNPL também chama atenção em vários países mundo afora. Disponível entre as opções de pagamento, esse instrumento digital de crédito rápido tem sido impulsionado por fintechs, bancos e varejo on-line para atrair consumidores desbancarizados, sem acesso a cartões de crédito ou que possuem limite baixo no cartão, para vendas sem juros, desde que o consumidor não atrase o pagamento das parcelas.
Segundo a consultoria Juniper Research, em 2027 essa ferramenta deverá movimentar US$ 437 bilhões, contra US$ 112 bilhões estimados para 2022. Ivan Habe, da consultoria EY, considera que o principal combustível do crescimento desse nicho do crédito está relacionado à comodidade proporcionada pelas compras na internet, em um ambiente ampliado pela presença de um número cada vez maior de meios de pagamento.
“Como consumidor, quero produtos e serviços, e o pagamento não pode ser um ponto de fricção, como ocorre quando é preciso esperar na fila [para abrir o crediário na loja], ou mesmo no e-commerce, quando pedem para aguardar um ou dois dias até a aprovação da transação”, avalia o consultor. De acordo com ele, o BNPL pode ser vantajoso ao varejista por ter reduzido o índice de abandono, que é quando o consumidor desiste durante o processo de pagamento. “No caso dos boletos, as desistências chegavam a 70%. Por outro lado, o consumidor precisa tomar cuidado com os custos que surgem quando há atraso no pagamento das parcelas”, destaca Habe.
Presente no e-commerce de mais de 2.500 varejistas, incluindo Ri Happy, Olympikus e Tok&Stok, a Pagaleve é uma fintech que facilita o parcelamento compras via Pix, sem custos administrativos adicionais, em até quatro parcelas quinzenais, sem juros, em caso de pagamento na data correta. “Em vez de falar em crediário digital, preferimos falar em parcelamento inteligente para as pessoas que não possuem cartão de crédito, cerca de 38% da população, ou quem têm cartão, mas cujo poder de compra excede o limite. E ainda porque os brasileiros, especialmente aqueles da Geração Z, não gostam de usar cartão de crédito”, afirma Henrique Weaver, CEO da Pagaleve, que leva menos de dez minutos para disponibilizar a ferramenta em um site de e-commerce.
Weaver destaca os setores de calçados, vestuários, cosméticos, eletrônicos e saúde, com um tíquete médio por operação de cerca de R$ 300. “Chegamos no fim de 2022 com 1.700 marcas disponíveis aos consumidores, em um crescimento muito forte, puxado principalmente pelo boca a boca”, afirma.
Há uma revolução no crédito e no acesso aos meios de pagamento”
— Eduardo Dotta
Para o advogado Eduardo Dotta, professor do Insper, trata-se de uma ferramenta que deve seguir ganhando espaço. “O usuário final consegue parcelar, mesmo sem possuir cartão de crédito, enquanto o varejista tende a receber à vista, ainda que haja algum desconto combinado com a fintech ou a plataforma de e-commerce, e sem risco de inadimplência. Estamos vivendo uma revolução no crédito e no acesso aos meios de pagamento, com concorrência crescente, o que é muito positivo”, avalia.
Dotta considera que as operações de tíquete mais elevado deverão ganhar espaço aos poucos, a partir da maior oferta por parte do varejo, com destaque para os segmentos de bens duráveis, vestuários e calçados. “Para o varejo também é interessante porque ele consegue avaliar em detalhe o perfil dos consumidores que alcança com o BNPL e eventualmente pensar em campanhas direcionadas a esse público”, diz.
No exterior, vários países procuram rever suas legislações diante do crescimento acelerado das vendas por meio do BNPL, como no caso do Reino Unido. “Desde a pandemia, temos visto um crescimento da digitalização no sistema financeiro, além da conjuntura macroeconômica, com a inflação prejudicando a renda das famílias”, diz a pesquisadora Morgana Tolentino, do Instituto Propague, ligado à Stone.
“Por não estar regulamentado, o BNPL tende a crescer com mais rapidez, porém vários países discutem a regulamentação. No Reino Unido, as autoridades estão preocupadas com o crescimento do endividamento familiar e discutem um projeto de lei para dar maior transparência a essas operações", afirma a pesquisadora.