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17/10/2022 - Pix dispara no e-commerce e deve sentenciar o fim dos pagamentos de compras por boletos

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Por Lucas Agrela | Estadão

O Pix chegou ao mercado em 2020 como uma opção que daria fim às transferências bancárias por DOC e TED, facilitando os pagamentos entre pessoas. Com isso, as opções de envio de recursos, que antes garantiam receitas com tarifas aos bancos, viram sua importância cair bastante. Agora, o Pix pode fazer outras vítima, desta vez no e-commerce: o pagamento em boleto.

Segundo dados do Banco Central (BC), o Pix cresce consistentemente nos pagamentos entre pessoas e empresas, como as varejistas. Em setembro de 2022, o número de transações desse tipo era de 430 milhões, ante 130 milhões no mesmo período no ano passado – um salto de 225%.

O valor das transações cresceu menos, indicando maior participação de compras de pequeno valor. Ainda assim, o total quase dobrou em 12 meses e foi de R$ 48,9 bilhões para R$ 91,7 bilhões. No acumulado do ano, até setembro, o valor pago por Pix entre pessoas e empresas chega a R$ 680 bilhões e pode atingir R$ 1 trilhão até dezembro.

Por que o Pix é atrativo para o varejo

Para as varejistas, o Pix não só tem potencial para reduzir e até substituir integralmente o boleto, como também pode aumentar o número de vendas no comércio eletrônico e diminuir o abandono de compras. Os pagamentos com boletos bancários não são realizados em 50% das vezes, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Além disso, a falta de flexibilidade nos pagamentos pode levar a um carrinho abandonado. Segundo relatório da empresa de pagamentos Adyen, 52% dos consumidores brasileiros dizem que desistiram de fazer uma compra porque não podiam pagar do jeito que queriam.

O uso do Pix como meio de pagamento tem benefícios tanto para o consumidor quanto para as empresas. O processo de aprovação de compras é imediato, como acontece no cartão de crédito e geralmente há desconto no pagamento à vista. O crédito chega às companhias instantaneamente e com menos taxas.

Segundo dados do Estudo de Pagamentos GMattos, apenas dois anos após o lançamento, o Pix já divide o segundo lugar nas formas de pagamento, ao lado dos boletos. A aceitação do Pix tem potencial para chegar a 92% nos próximos anos, prevê a consultoria. Em janeiro de 2021, o Pix apresentava 16,9% de aceitação entre os comércios virtuais do Brasil; em julho deste ano, o índice alcançou 76,3%.

Tirando espaço do boleto

No Mercado Livre, a adoção do Pix teve expansão em torno de 130% e causou uma redução de 33% no uso de boleto no segundo trimestre deste ano, ante igual período no ano passado. Na plataforma, lojas oficiais de marcas como Samsung, Nike e Hering já aceitam pagamentos via Pix.

Com 30 milhões de usuários ativos e 10 milhões de vendedores, o Mercado Pago, banco digital do mesmo grupo da varejista argentina, fornece sistema de pagamento para lojas físicas e digitais. Hoje, o serviço já tem um quarto de todas as transações feitas via Pix. Além de diversas lojas online, a empresa faz os pagamentos via Pix das farmácias da rede Pague Menos e das lojas físicas da C&A.

Daniel Davanço, líder de pagamentos para empresas do Mercado Pago no Brasil, avalia que as vendas dos lojistas que aceitam Pix subiram de 20% a 25% mais do que as daquelas que ainda não tinham o Pix como meio de pagamento neste ano. “A conversão do Pix hoje é de acima de 75%. O mundo online abraçou o Pix de forma muito rápida, porque melhora a experiência para todos os lados”, diz.

Gigantes dos eletrodomésticos: aposta no Pix

Varejistas como a Via (ex-Via Varejo) já oferecem pagamentos com Pix desde o ano passado, inclusive nas lojas físicas de Casas Bahia e Ponto. Recentemente, a companhia passou a usar o Pix também para facilitar os acertos em casos de renegociação de dívidas.

Já o Magazine Luiza oferece pagamentos via Pix em seu site e aplicativo, mas também investe em uma alternativa a ele. A empresa criou, dentro da Fintech Magalu, sistema de pagamentos que promete ser mais veloz e prático do que o Pix porque não requer que o consumidor acesse aplicativo de banco ou copie e cole códigos de barras.

As transferências são feitas por meio do Iniciador de Transação de Pagamento, modalidade oferecida pelo Banco Central que permite a integração dos sites e aplicativos de empresas de varejo com os sistemas bancários, dentro do conceito de “open finance”. O método de pagamento foi implementado inicialmente no site KaBuM, que vende eletrônicos e foi comprado pelo Magazine Luiza em 2021 por cerca de R$ 3,5 bilhões.

Para Robson Dantas, líder da operação do Fintech Magalu, o fato de o iniciador de pagamentos ser mais simples do que o Pix pode reduzir ainda mais a desistência de compras. “A experiência facilita muito a vida do usuário, mas essa ferramenta ainda tem um caminho a percorrer até chegar ao ponto que estamos com o Pix. No fim deste ano, devemos ver uma consolidação do uso do Pix”, afirma. O Mercado Pago e outras grandes varejistas do País também já fazem testes com o iniciador de pagamentos.

O Pix domina a economia como um todo

O uso do Pix para pagamentos extrapola o comércio eletrônico. De acordo com estudo da consultoria Capco, feito com 2 mil pessoas via internet, o Pix é usado por 94% das pessoas entrevistadas, principalmente para pagamento de compras online (67%), pagamento de prestadores de serviço (66%), em cafés e lanchonetes (60%) e em supermercados (43%).

O boleto bancário ainda deve ter uma sobrevida, mas pode virar uma opção de nicho. “O boleto ainda vai continuar a coexistir, mas com cada vez menos uso. Muitas empresas incentivam a migração do boleto para o Pix. O varejo vai se sentir mais confortável em restringir o boleto”, afirma Lorain Pazzetto, líder de open finance da empresa de tecnologia para varejo Grupo FCamara.

Além de reduzir a desistência de compras, o Pix deve ser estimulado por ter menores taxas para as varejistas do que outros meios de pagamento. “Tirar 0,1% do valor de uma venda para um varejista pode significar ganhos milionários”, diz Pazzetto.

E as parcelas?

Quando chegar a todas as instituições financeiras, o Pix parcelado permitirá aumentar os valores das transações entre pessoas e empresas – hoje, essa fatia de mercado ainda é dominada pelo cartão de crédito. Segundo dados do BC, o gasto médio de janeiro a setembro de 2022 em transações entre pessoas e negócios foi de R$ 264.

Algumas empresas já permitem o Pix parcelado via cartão de crédito, como é o caso do RecargaPay. Desse modo, quem recebe tem acesso ao dinheiro na hora, enquanto o consumidor paga o valor a prestação. Entre setembro de 2021 e setembro deste ano, o uso do Pix com cartão entre seus clientes triplicou, segundo a empresa.

Caso o cliente queira realizar um pagamento com Pix para aproveitar uma promoção em uma loja que oferece descontos nos pagamentos à vista, por exemplo, é possível selecionar o pagamento com o Pix e parcelar a compra no RecargaPay. Ainda que haja juros na transação, esse é um caso de uso comum entre os clientes da empresa.

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