05/08/2022 - Cielo tem nova troca de comando e vê reestruturação perto do fim
VoltarPor Mariana Ribeiro e Álvaro Campos | Valor Econômico
Pouco mais de um ano após anunciar o nome de Gustavo Sousa para a presidência da companhia, a Cielo passa agora por uma nova mudança de comando. A credenciadora informou ontem que o executivo deixou o posto e será substituído interinamente por Renata Daltro, atual vice-presidente comercial de grandes contas. A notícia veio um dia após a companhia divulgar os seus resultados do segundo trimestre, definidos por analistas como “muito positivos”.
O Valor apurou que a Cielo deve anunciar ainda nesta semana o sucessor definitivo de Sousa. De acordo com fonte a par da questão, o executivo saiu porque já tem um novo emprego acertado. Ele deve assumir em breve um cargo em empresa não ligada ao setor de pagamentos.
Segundo fontes a par das discussões, Banco do Brasil e Bradesco, que controlam a Cielo, teriam contratado uma empresa de “headhunter” para encontrar o novo CEO. “É alguém capaz de tocar esse tema e com experiência no setor”, afirma um interlocutor.
Sousa assumiu a presidência em maio de 2021, no lugar de Paulo Caffarelli. Antes, ele era vice-presidente de finanças da companhia. Em fato relevante, a Cielo afirmou que, como CEO, o executivo deu ênfase em desinvestimentos de ativos não estratégicos, eficiência de custos e melhoria de rentabilização de produtos. Agora, o próximo ciclo de gestão será focado “em transformação digital, expansão das linhas de negócios e continuidade de crescimento de market share com maior rentabilidade”.
A cada movimentação na Cielo surgem rumores de estremecimento na relação entre BB e Bradesco, inclusive com boatos recorrentes de que a companhia estaria prestes a fechar capital, sempre desmentidos pelos sócios. Desta vez, a troca no comando parece ter sido feita em um processo mais suave.
O diretor executivo de finanças (CFO) e diretor de relações com investidores da Cielo, Filipe Oliveira, disse a jornalistas, em teleconferência para comentar os resultados trimestrais, que a mudança no comando não afeta a companhia no curto prazo. “Esse time que foi construído aqui na liderança do Gustavo é muito forte e está extremamente alinhado e coeso”, disse. “Não vemos queda, degrau, salto, nada disso. Vemos continuidade no curto prazo.”
Oliveira afirmou que o segundo trimestre, quando a Cielo teve lucro líquido recorrente de R$ 383,4 milhões (crescimento anual de 112,5%), representou um “ponto de inflexão” na trajetória da credenciadora. Segundo ele, o processo de reestruturação em curso nos últimos anos está perto de ser concluído e a companhia pode começar a focar nos próximos passos.
Essa estratégia inclui investimentos em novos pagamentos digitais, em soluções que vão além de pagamentos, com oferta de produtos de valor agregado, e consolidação da companhia como um “hub” de contratações de serviços financeiros. A ideia é ser “o centro de ecossistema” para os pequenos e médios negócios. A Cielo anunciou ainda que contratará cerca de 400 executivos comerciais ao longo do segundo semestre.
O CFO afirmou que a Cielo deu continuidade à reprecificação de preços de produtos no segundo trimestre e no início do terceiro, na esteira do aumento da taxa básica de juros. Ele disse que talvez o “grosso” do ajuste já tenha sido feito, mas é preciso avaliar as condições macroeconômicas. A companhia também começa a avaliar a possibilidade de reprecificação em grandes contas, embora esse seja um movimento mais delicado.
Como a empresa deixou de focar em microempreendendores, é esperado que o número de clientes no segmento continue caindo, disse o executivo. Por outro lado, a expectativa é de alta entre pequenos e médios negócios.
Após a divulgação dos resultados, o Itaú BBA descreveu os números como muito positivos e afirmou que “o gigante decolou novamente”. Recentemente, a instituição subiu sua recomendação para os papéis para “outperform”, o que equivale a compra. O BTG Pactual também alterou sua recomendação para “compra”. O Bank of America, por sua vez, manteve recomendação “neutra” ao citar a forte alta de 94% que os papéis já tiveram no ano. “A ação subiu 9,73% nesta quarta-feira [ontem], então acho que não existe uma preocupação tão grande com a troca do CEO”, disse um especialista.