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09/11/2021 - Zogbi vai transformar Credz em financeira

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Por Álvaro Campos | Valor Econômico

Em 2003, a família Zogbi vendeu o banco que levava seu sobrenome para o Bradesco, por R$ 650 milhões. Em 2011, criou a emissora de cartões Credz, e agora pretende transformá-la em uma financeira, voltando quase 20 anos depois a controlar uma instituição financeira propriamente dita. O negócio vem crescendo fortemente e deve chegar ao fim do ano com 3 milhões de cartões emitidos.

Fábio Zogbi conta que no ano passado a Credz ultrapassou o limite de volume estabelecido pelo Banco Central e, assim, teve de entrar com um pedido de licença de instituição de pagamento. Nesse meio tempo, no entanto, decidiu mudar e há dois meses aplicou para uma licença de financeira. Ele diz que muitas fintechs evitam se tornar instituição financeira por causa dos custos de observância, mas a Credz, até mesmo em razão da experiência da família com o banco, já tem uma governança bastante elevada.

Ele afirma que virar uma instituição financeira tem duas grandes vantagens. A primeira é a diversidade de instrumentos de funding. Se hoje a emissora de cartões depende da estruturação de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC), como financeira poderá emitir CDBs e letras financeiras, que têm uma distribuição mais simples. A segunda vantagem é fiscal, já que, como instituição financeira, poderá deduzir determinados custos da sua base de PIS/Cofins.

A Credz nasceu como emissora e bandeira de cartões, mas em 2018 fechou acordo com a Visa e deixou de atuar como bandeira. Ela trabalha com o modelo “private label”, no qual o cartão tem o logo das varejistas parceiras. Atualmente são cerca de 550 parceiros, que operam quase 5,2 mil lojas. Entre as parcerias recentes estão a rede de lojas de cosméticos Sumirê, as cadeias de vestuário Cattan e Kidstok, as clínicas odontológicas Sorridents e outras.

Zogbi diz que a Credz tem emitido cerca de 950 mil faturas mensais e deve terminar o ano com 11 milhões de faturas enviadas. “Não nos interessa emitir cartão pura e simplesmente por emitir, se ele não será usado. Só emitimos em parceria com os varejistas, quando o cliente chega na loja e precisa do cartão para comprar algo. No passado, com o banco, chegamos a ofertar cartões que não estavam vinculados com a necessidade de realizar uma compra naquele momento, e claramente a inadimplência era pior”, conta.

Ele afirma que no segundo trimestre a empresa passou a oferecer uma conta digital, que era uma demanda dos clientes, mas diz que o objetivo não é gerar receita. A ideia é aumentar o engajamento do cliente, mantendo ele dentro do ecossistema. “Não abrimos conta sem o cliente ter o cartão. Nosso objetivo é bem claro, temos um negócio de formação de ativos de crédito. Fazemos uso de um meio de pagamento, mas nosso negócio é concessão de crédito”.

Como os tíquetes médios nos varejistas parceiros não são muito altos - especialmente no chamado ramo “mole” (moda, tecidos e calçados) -, o limite dos cartões geralmente fica em torno de R$ 800. A inadimplência, que caiu na pandemia, voltou a subir um pouco agora, mas está dentro do patamar normal, entre 7,5% e 8%.

Zogbi diz que o cliente médio tem uma renda entre R$ 2 mil e R$ 3 mil e muitas vezes o cartão da Credz é o único da família. Além disso, a parceria obviamente também é vantajosa para os varejistas, com dados mostrando que, no cartão, o tíquete médio é entre 80% e 100% maior. No programa de fidelidade da Credz, os pontos são trocados por mercadorias na loja que originou o cartão. “Não adianta oferecer passagem aérea, estadia em hotel, porque os pontos que os clientes precisam juntar são quantias inatingíveis”, conta.

Apesar da nova licença de financeira, Zogbi diz que o foco principal continuará sendo o negócio de cartões. “Temos uma fatia de 0,5% nesse mercado. Estamos crescendo de forma fenomenal, fechando novas parcerias com varejistas, mas ainda temos muito para expandir nesse segmento. Temos muito chão ainda para conquistar. Se você me perguntar se eu voltaria a oferecer financiamento automotivo, como tínhamos no banco, eu diria certamente que não.”

Em 2020, a Credz teve receita bruta de R$ 468,384 milhões e lucro de R$ 14,980 milhões. Este ano, deve emitir 940 mil cartões e processar um volume de pagamentos de R$ 6 bilhões, com alta de 66% sobre 2020. A família Zogbi tem uma fatia de 82,9% na companhia, e José Renato Borges, os outros 17,1%.  Zogbi diz que tem sido assediado por alguns investidores, mas que são conversas muito incipientes e, por enquanto, não prevê qualquer mudança na composição acionária. “Temos funding de sobra para bancar todo nosso crescimento.”

A família Zogbi já teve um amplo grupo, com presença em muitos setores, como nos ramos têxtil e de varejo, em uma história que começou no início do século XX com o imigrante libanês Antônio Elias Zogbi. Em 2004, venderam a participação na Ripasa para a Suzano e a Votorantim Papel e Celulose, e no ano passado se desfizeram da Usina Rio Pardo. Atualmente, além do setor financeiro, atuam também no imobiliário, com a construtora Taquaral.

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