20/05/2014 - Santander ligará AmBev a fornecedor
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Por Felipe Marques | De São Paulo
Santander e Ambev fecharam um acordo inédito que promete levar a um novo patamar o negócio de captura de transações com cartões no varejo do banco espanhol. Juntos, criaram um sistema que vai permitir que bares, restaurantes e supermercados que compram produtos da Ambev usem a máquina POS (Point of Sales, em inglês) do Santander para pagar eletronicamente a encomenda. O projeto permite que o comerciante faça o pagamento para a fabricante de bebidas na mesma máquina que usa para aceitar cartões, sem pagar nada mais por isso.
Não se tem notícia de algo semelhante e de tal porte no mercado brasileiro. A Ambev tem cerca de 1 milhão de estabelecimentos clientes, de todos os tamanhos, espalhados pelo país. A novidade afetará os pequenos e médios clientes, justamente aqueles que atualmente pagam suas compras em dinheiro ou cheque. A fabricante de bebidas não divulga quantos são eles e nem o volume financeiro movimentado anualmente.
A partir da implementação do projeto, quando chegar a entrega, bastará que o cliente selecione, no menu da própria maquininha, a nota da encomenda e assim transferir o pagamento de sua conta bancária para a da Ambev. Não será usado um cartão. No lugar de o motorista do caminhão que fez a entrega sair com o dinheiro, ele receberá um comprovante impresso na hora. Um SMS será enviado ao dono do negócio para confirmar a transação.
A ferramenta, batizada de Santander Pague Direto, começou a ser oferecida há uma semana pelo banco aos clientes da Ambev atendidos por 10 centros de distribuição, localizados em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Isso corresponde a um universo de 17 mil estabelecimentos, afirma Patricia Espinelli, diretora financeira de vendas da Ambev. A partir de agosto, a oferta será expandida para o Brasil todo.
O volume transacionado não será contabilizado como compras com cartão, para efeito de rankings. O pulo do gato para o Santander é poder distribuir a suas maquininhas para os clientes da Ambev e, com isso, aos poucos convencer esses lojistas a usá-las também para receber pagamentos com cartões. Para efeito de comparação, a líder do mercado de credenciamento de cartões, a Cielo, atende hoje 1,4 milhão de estabelecimentos ativos com suas máquinas.
"Quando olhamos para os concorrentes, eles têm uma base de clientes de pequenas e médias empresas maior do que a nossa. O acordo com a Ambev é uma oportunidade de avançar", afirma Pedro Coutinho, vice-presidente executivo de novos negócios do banco. "Vamos conquistar clientes novos e com a chancela da Ambev."
Fisgar novos lojistas é um desafio fundamental para que a operação de captura de cartões no varejo do Santander ganhe espaço. No primeiro trimestre, o banco espanhol capturou R$ 12,5 bilhões em transações com cartões, o equivalente a 5,8% do mercado. Como o banco ainda está começando a avançar em grandes varejistas, esse volume veio basicamente de estabelecimentos menores. A participação do Santander ainda está longe da posição das líderes Cielo (de Banco do Brasil e Bradesco) e Rede (a antiga Redecard, do Itaú Unibanco). Até mesmo o banco espanhol esperava ter uma fatia de mercado maior e tinha meta de encerrar 2013 com 7%.
Para a Ambev, a ferramenta promete reduzir as monumentais despesas envolvidas na logística de todo o dinheiro vivo movimentado atualmente. São despesas que vão desde a instalação de dispositivos de segurança nos caminhões até a operação de transporte que precisa ser montada para levar o dinheiro do centro de distribuição da Ambev para um banco. "Esperamos uma redução entre 10% a 15% no custo da operação logística de transporte de dinheiro no médio prazo", acrescenta Patricia Espinelli. Nelson Jamel, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Ambev, cita ainda que, com o Pague Direto, a expectativa é "ter uma economia significativa na nossa operação logística de transporte de dinheiro".
A ferramenta levou um ano e meio para ser criada pelas duas empresas, sob o codinome de "Projeto Blond" e já passou pela fase de piloto, no começo do ano. "É uma solução que teve um custo pesado de desenvolvimento. O banco investiu muito e a Ambev também", afirma Coutinho, sem abrir valores. Isso não significa, porém, que o sistema vai funcionar apenas com a Ambev. A expectativa de Coutinho é que outros dois fornecedores sejam integrados até o fim do ano.
Se o sistema criado com o Santander vingar, a Ambev vai encerrar uma busca que já dura mais de cinco anos. "Fizemos vários pilotos que não deram certo com outras instituições financeiras para tentar resolver essa questão", diz Patricia, da Ambev.
Embora a Ambev não comente quais foram essas tentativas, o Valor apurou que uma delas envolveu a então Redecard por volta de 2007. Naquela época, um dos planos cogitados era instalar uma máquina POS na boleia do caminhão. O lojista, por sua vez, teria um cartão de débito com que pagaria a encomenda. Os custos envolvidos no esquema, além de outras variáveis de ordem tecnológica, fizeram com que o projeto não saísse do papel.
Fonte: Valor Econômico