05/08/2021 - Concorrência estimula a inovação em maquininhas
VoltarPor Martha Funke | Valor Econômico
A adoção de maquininhas para pagamento com cartões (POS) foi uma das condições para Gustavo Lopes abrir a loja física de peças de reposição para celulares Empório do Celular, há cinco anos. Até então as vendas eram só digitais.
Hoje o negócio movimenta R$ 30 milhões ao ano, com escritórios em São Paulo e na China. Depois de usar marcas ligadas a grandes bancos, facilidades como estorno de pagamento com um clique, aplicativo para facilitar a gestão dos recebimentos, capacidade de aproximação e Pix por código QR vinculado a número de venda levaram à adoção do Mercado Pago, do grupo Mercado Livre. “Ajuda a atender com agilidade”, diz Gustavo.
Já o grupo varejista e financeiro Zema, com matriz em Araxá (MG), faturamento de R$ 1,4 bilhão anual e comércio eletrônico nascido em 2019, prefere as redes ligadas a bancos tradicionais. Em 317 de suas 452 lojas, são 600 POS da SafraPay, do Banco Safra - as demais são atendidas pela Rede, do Itaú. “Taxa atrativa e credibilidade foram decisivas”, explica a gerente financeira Graziela Mateus. Pagamentos com cartão respondem por 41% do faturamento atual.
Os exemplos espelham a expansão dos POS no Brasil, com inovações nos meios de pagamento e maior concorrência. Hoje são 20 adquirentes (que se comunicam com bandeiras de cartão e bancos emissores para processar as transações) e cerca de 200 sub adquirentes (que ajudam a conectar lojistas às adquirentes).
Marcas dos grandes bancos - Cielo (Bradesco e Banco do Brasil), Rede (Itaú) e GetNet (Santander) - ainda dominam o mercado. Mas enfrentam desafiantes de empresas tradicionais, como Safra e Sicredi, e digitais, como Stone, PagSeguro (do grupo UOL) e Mercado Pago que, por sua vez, oferecem cada vez mais serviços bancários.
Além da diversidade das formas de pagamento, como cartões de crédito e débito, vouchers de alimentação, QR Code, Pix, aproximação (NFC) e link, as marcas disputam os lojistas com preços, facilidades e serviços atraentes. A Sicredi Vale do Piquiri, que atende norte do Paraná, São Paulo e ABCD (SP), criou adquirência para completar a oferta a seus clientes, com benefícios como devolução de 2% do movimento financeiro, diz o gerente de desenvolvimento, Maurício Guerra.
Já os clientes da Rede só precisaram atualizar o software dos POS para capturar transações pelo CaixaTem e pelo Pix. O uso de pagamento por link via e-mail, SMS, redes sociais ou Whatsapp é gratuito e a modalidade cresceu 35% ao mês no primeiro trimestre deste ano com o aumento das vendas a distância, diz o diretor Angelo Russomano. O modelo de POS mais recente da empresa é a Smart, com vários aplicativos agregados, e clientes com faturamento de até R$ 30 milhões anuais recebem vendas feitas no crédito à vista em até dois dias sem custos adicionais.
As empresas menores estão na mira do setor. Mesmo com crescimento de 17 pontos percentuais nos últimos cinco anos, só 56% dos micro e pequenos empresários adotam maquininhas, conforme pesquisa realizada pelo Sebrae, e 76% deles escolhem a taxa mais barata na hora da decisão.
De olho neles, a GetNet comprou a startup Eyemobile para integrar caixas registradoras (PDV) nos POS, com as vendas entrando diretamente no sistema de gestão do estabelecimento.
A Stone, por sua vez, já nasceu com foco em pequenos e médios empreendedores e registrou mais de 720 mil clientes ativos no primeiro trimestre de 2021. Criou um time de profissionais para ajudar os clientes a lidarem com os equipamentos e polos de distribuição em todo o país. Até profissionais autônomos são contemplados com ofertas como o TON, maquininha sem aluguel, mensalidade ou necessidade de conta bancária para uso.
O Mercado Pago somou no período 8 milhões de clientes no Brasil. Para os pequenos, oferece descontos em comissões e Pix sem taxa. O preço do POS parte de R$ 58 (ou 12 vezes de R$ 4,90), com uso do telefone celular e taxa de 1,99% para receber na hora pagamento por débito e 4,74%, no crédito. A líder do segmento de pequenos negócios, Gabriela Szprinc, conta que este ano 63% dos novos vendedores atendidos passaram a aceitar pagamentos eletrônicos pela primeira vez.
O PagSeguro atende 7 milhões de vendedores e traz novidades como o PagPhone, primeiro do mundo com smartphone, POS e banco digital no mesmo aparelho por 12 vezes de R$ 59,90 e dispositivos como câmera e biometria digital. O POS mais barato também custa 12 parcelas de R$ 4,90, apoiado por telefone.
Telefones e tablets são transformados em POS para pagamentos por aproximação (de cartões ou dispositivos como relógios e telefones) com tecnologia da Fiserv, lançada no começo do ano com especificações da Mastercard e da Visa. Já a Positivo disputa mercado com hardware (checkout) mais avançado em capacidade de processamento, impressão, imagem, memória e câmeras que viabilizam pagamento até por reconhecimento facial.