30/06/2021 - Elo será provedor de transações, diz novo presidente
VoltarPor Talita Moreira e Álvaro Campos | Valor Econômico
Recém-chegado à presidência da Elo, Giancarlo Greco tem pela frente um desafio triplo. Enquanto reposiciona a companhia para as inovações no setor de pagamentos, o novo presidente da bandeira de cartões precisa assegurar que ela continue crescendo no negócio tradicional e, ao mesmo tempo, cuidar dos preparativos para o IPO (oferta inicial de ações).
As três missões estão, de certa forma, interligadas - o que explica a agenda lotada do executivo. “Não consigo ver empresa nesse setor que não se transforme num grande provedor de transações, mais do que de pagamentos”, diz ele, que assumiu o comando da Elo em maio e concedeu ao Valor, por vídeo, sua primeira entrevista no cargo.
A percepção vem dos mais de 20 anos acumulados nos segmentos financeiro e de pagamentos. Nos últimos quatro anos, Greco trabalhou na consultoria Accenture, onde teve contato com novos modelos de negócios no setor e prestou serviços para a própria Elo.
Para o executivo, está claro que é preciso transformar a bandeira numa “companhia de alta tecnologia”. Segundo ele, há oportunidades de ocupar espaços em áreas como combate a fraude e soluções de autenticação, não apenas em transações com cartões, mas em qualquer serviço no qual seja necessário proteger os dados e assegurar a identidade usuários. “Temos uma agenda forte de olhar para novos negócios”, diz.
Exemplo disso é a parceria lançada em abril com o iFood, que resultou no desenvolvimento de um cartão que pode ser usado como vale-refeição e vale-alimentação em compras presenciais ou on-line. “Empresas de outros setores estão entrando em pagamentos. Posso participar disso.”
Com esse objetivo em vista, a Elo trabalha agora no desenvolvimento de uma estrutura interna de “venture capital”. Visa e Mastercard, as duas maiores bandeiras de cartões do mundo e do mercado brasileiro, já têm atuado dessa forma. O plano é que a companhia tenha um modelo de atuação pronto em cerca de 60 dias. Parcerias e aquisições estão no radar.
Ao mesmo tempo em que acelera, Greco mantém um olho no retrovisor. Não está nos planos do executivo (nem no mandato que recebeu dos acionistas) deixar de lado a operação convencional de bandeira. Embora o executivo veja algumas “fragilidades” nessa atividade, especialmente nas transações com cartões de débito, ele também diz haver espaço para crescer.
A Elo tem como principal forma de distribuição o balcão dos acionistas - Banco do Brasil (BB), Bradesco e Caixa. No entanto, segundo Greco, a empresa vem ampliando o leque e hoje trabalha com mais de 30 emissores, entre bancos e fintechs. A bandeira tem 140 milhões de cartões emitidos e movimentou cerca de R$ 292 bilhões em 2020. Esse volume tem crescido em torno de 30% ao ano e, segundo Greco, deve aumentar acima desse patamar nos próximos anos.
Na visão do executivo, a companhia superou em grande parte as dificuldades de aceitação que enfrentou quando criada - a Elo começou a emitir cartões em 2011. Porém, ainda precisa rebalancear a base. Dois terços dos cartões emitidos são de débito, a modalidade mais desafiada pelo Pix e por outras inovações no setor e que tem tarifas mais baixas que o cartão de crédito. Deve ajudar, nesse sentido, o plano da Caixa de aumentar a emissão de cartões de crédito entre seus clientes.
O banco estatal tem ganhado relevância para a Elo não apenas do ponto de vista comercial (no qual o pagamento do auxílio emergencial ajudou), mas também societário. Na semana passada, a Caixa confirmou que sua participação na companhia passou de 36,889% para 41,415% do capital, reflexo de uma revisão periódica das fatias de cada acionista.
É com essa fotografia que a Elo deve se apresentar aos investidores para seu IPO - assunto sobre o qual Greco não fala. Segundo fonte ligada a um acionista, a oferta está prevista para este ano e deverá ter uma tranche primária e outra secundária (com a venda de parte dos papéis dos acionistas atuais). Está no radar uma listagem no mercado americano, com o objetivo de atrair o investidor de tecnologia. No entanto, o objetivo dos sócios é que os brasileiros também possam participar de alguma forma desse processo.