06/11/2013 - Setor de cartões terá disputa mais ferrenha em 2014
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Um cenário de competição mais acirrada começa a se desenhar para o mercado de cartões em 2014, ano em que o setor vai chegar perto de movimentar R$ 1 trilhão em transações. Depois de um 2013 que prometeu mais disputa entre as credenciadoras - o que não aconteceu - uma série de fatores indica que esse marasmo vai acabar no ano que vem. A depender do discurso das maiores empresas do segmento, porém, o esforço será para que mais disputas não resultem, necessariamente, em guerra de preços.
As principais credenciadoras do mercado, Cielo, Rede (ex-Redecard) e Santander, empresas que capturam a transação de cartão no varejo, vêm se movimentando para um 2014 mais agitado. A entrada em operação de novas empresas no segmento, como a credencidora que vem sendo criada por ex-executivos da empresa de pagamentos Braspag em sociedade com o BTG Pactual e Banco Pan, também acirrará a concorrência.
No rastro da mudança de nome, a Rede contratou 300 pessoas para reforçar sua equipe comercial e vem sendo mais agressiva em algumas grandes contas, afirma o presidente da credenciadora, Milton Maluhy. A nova leva de contratados vai sustentar também a busca por pequenos lojistas, que apesar do baixo volume, trazem mais rentabilidade, diz.
"Precisamos sair de uma discussão de preço, na direção do valor agregado que podemos trazer ao lojista", afirma Maluhy. Ele cita ainda as oportunidades de combinar, também para grandes clientes, a venda de serviços de credenciamento a outras ofertas do banco, como a gestão de recursos de fluxo de caixa das empresas ("cash management") e de folha de pagamento.
A mudança vira uma página na história da Rede, que, logo depois que passou a capturar cartões com a bandeira Visa, em 2010, promoveu uma agressiva rodada de cortes de preços para atrair grandes varejistas para o seu portfólio - e pagou por isso em seus resultados.
No universo dos novatos em credenciamento de cartões, a entrada em funcionamento do "Projeto Stone", como vem sendo chamada internamente a credenciadora gestada por BTG Pactual, Banco Pan e os criadores da Braspag, também terá seu impacto em alguns grandes comércios.
Segundo o Valor apurou, um dos objetivos da nova credenciadora é substituir as máquinas da Cielo e da Rede nas redes de varejo nas quais o BTG detém participação. Os principais nomes dessa lista são a varejista Leader, que hoje divide os pagamentos em cartões entre Cielo e Rede, e as drogarias da BR Pharma. Procurado, o BTG Pactual preferiu não comentar o assunto.
A Cielo, que hoje lidera esse mercado com cerca de 55% de participação, vem preparando analistas e investidores para um cenário mais "desafiador" no ano que vem, segundo afirmou Rômulo de Mello Dias, presidente da empresa, em teleconferência com analistas sobre os resultados divulgados na segunda-feira.
"Uma certa perda de 'market share' é normal", afirmou Dias, considerando que a companhia é a líder desse setor. No terceiro trimestre, a Cielo contava com 55,26% do mercado e a Rede com 40%. "Nosso compromisso com o investidor é continuar a entregar resultados na última linha", disse. Para ele, porém, a maior competição no próximo ano pode sim contaminar os preços cobrados dos lojistas.
Dias também reforçou projeção feita no início do ano de que, até o começo de 2015, o grupo de novas credenciadoras criadas desde a abertura do mercado, em 2010, tende a conquistar de 15% a 20% do mercado. Hoje, o Santander é o mais representativo desse time. Banrisul, Elavon e Global Payments sequer chegam a representar juntos 2% do mercado de cartões.
Se, por um lado a Rede vai tentar conquistar pequenos lojistas, por outro, o Santander planeja ganhar espaço entre os grandes. Com 5,3% de fatia de mercado, conquistada às custas de pequenos comerciantes, o banco espanhol se prepara para concluir o acordo de compra da fatia da gaúcha GetNet na "joint-venture" que os dois têm em credenciamento. Esse movimento promete servir para lhe dar mais força para brigar pelos grandes nomes do varejo, uma vez que vai criar uma estrutura de tomada de decisões mais ágil para o banco fazer ofertas a grandes clientes.
Em paralelo, o Santander já tomou algumas grandes redes de seus concorrentes, o que deve acelerar seu ganho de mercado no último trimestre, prometeu o presidente da credenciadora Cassius Schymura, em entrevista recente ao Valor. "Não houve mudança em nossa política de preços para conquistar essas contas", afirma. Para ele, pesou o relacionamento que o banco vem criando com grandes varejistas nos três anos desde a criação da credenciadora, além de facilidades tecnológicas que implementou para atrair o varejista.
Segundo Schymura, esse será um passo fundamental para que o banco atinja a meta que se propõe no fim do ano, de ter 7% do mercado, contando que a implantação tecnológica dessas contas corra dentro do esperado. O banco espanhol já havia revisado a meta que tinha no começo do ano, de 10% do mercado.
A disputa por grandes varejistas não é gratuita, uma vez que as grandes redes concentram grandes volumes de pagamentos em cartões e são a chave para ganho de escala. Segundo estimativas de executivos do mercado, as três maiores redes de varejo do país, o Grupo Pão de Açúcar, o Carrefour e o Walmart, respondem juntas por 6% de todo o volume movimentado em cartões. É mais do que um Santander nessa área.
Fonte: Valor Econômico