17/11/2020 - PIX atrai interesse das operadoras
VoltarPor Valor Econômico | Rodrigo Carro
Santos, da Claro: “Não temos a pretensão de concorrer com os bancos, e sim de nos posicionarmos nesse mercado” — Foto: Divulgação
A popularização das tecnologias digitais combinada com um ambiente regulatório mais favorável tem impulsionado a oferta de uma nova leva de serviços financeiros pelas operadoras. A Claro lança hoje, ainda para um público restrito, uma conta digital grátis que permitirá pagamentos pelo PIX. O meio de meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central estará disponível em larga escala nesta segunda-feira.
A previsão é de que, a partir de janeiro, o Claro Pay esteja disponível tanto para clientes da operadora como para outros usuários. Diretor de soluções e produtos financeiros da Claro, Maurício Santos destaca o fato de instituições bancárias estarem avançando em nichos do mercado de telecomunicações e de as operadoras oferecerem uma variedade crescente de serviços financeiros.
“Eu não diria que vai ser o ‘core business’ [negócio principal] das operadoras, mas elas têm de atuar de forma cada vez mais holística”, diz o engenheiro, para quem o celular, principalmente o pré-pago, é um canal de inclusão financeira. “Não temos a pretensão de concorrer com os bancos, e sim de nos posicionar nesse novo mercado.”
Em maio, o Banco Inter lançou uma operadora móvel, com foco no consumidor final. Pelo lado das grandes operadoras de telecomunicações, a Oi acertou em julho a criação de uma joint venture com a fintech Conta Zap. E a TIM Brasil anunciou em março parceria com o banco digital C6.
“Queríamos surfar essa onda da supervalorização de mercado das empresas digitais de serviços financeiros”, diz Renato Ciuchini, vice-presidente de estratégia e transformação da TIM Brasil. O contrato com o C6 prevê uma comissão a cada conta criada por clientes da operadora e, também, futura participação no capital do banco digital à medida em que forem atingidas metas. A operadora vai usar o C6 para prestar serviços - inclusive o PIX - a seus clientes, sem a necessidade assumir o risco de atuar diretamente no mercado financeiro e o peso de se adaptar aos regulamentos do setor.
A Claro, por sua vez, optou por criar uma instituição de pagamentos própria, além de se associar ao banco mexicano Inbursa, que tem presença no Brasil. Naturalmente, a coincidência das datas de lançamento do novo serviço financeiro e do PIX - que estreia em larga escala também nesta segunda - foi totalmente intencional, frisa Santos, da Claro. “Não faria sentido lançar algo que não estivesse integrado ao PIX”, afirma.
A operadora negocia parcerias com fintechs e bancos para poder oferecer mais serviços via celular, como investimentos, câmbio e educação financeira. A ideia é que novos serviços comecem a ser ofertados gradualmente a partir do primeiro trimestre de 2021. É quando a deve ser lançado um cartão de crédito da operadora associado ao Claro Pay.
Em nota, a Telefônica, dona da marca Vivo, ressaltou que o PIX é uma oportunidade para trabalhar em parceria com instituições que estejam atuando neste mercado. “Estamos avaliando opções neste sentido”, acrescentou. A Oi informou, em comunicado, que trabalha numa solução que permite ao usuário realizar operações por diferentes meios de pagamento, seja PIX, cartão de crédito ou débito “num formato que vai além da carteira digital”.
A investida das operadoras móveis no nicho de serviços financeiros é muito anterior ao PIX. Ao longo da década passada, todas as quatro maiores operadoras móveis do país lançaram serviços que acabaram sendo descontinuados - Oi Paggo, TIM Multibank Caixa, Vivo Zuum e Meu Dinheiro Claro.
Ciuchini, da TIM, atribui a efervescência atual do mercado de serviços financeiros digitais a uma conjunção de fatores, como a democratização do acesso à internet via celular e a agenda pró-competição do Banco Central. Além disso, diz, “o setor bancário é altamente concentrado e rentável no país”.