30/09/2020 - Agenda BC# moderniza processos em várias frentes
VoltarPor Valor Econômico | Roseli Loturco
Apesar de ser considerado pelo mercado o chute a gol do processo de modernização do sistema financeiro nacional, o Pix faz parte de uma agenda mais ampla. O BC# vem colocando em campo um conjunto de iniciativas de impacto, que tem no seu ápice o open banking, passando por inclusão das fintechs à indústria financeira, do sandbox regulatório, da circular 3952 dos recebíveis de cartões, das carteiras digitais, do pagamento por aproximação, do P2P, da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e das plataformas de investimentos com estratégias abertas.
“A agenda não é de hoje. A parte de digitalização do sistema financeiro vem desde 2006, passou também pela portabilidade de crédito, pela abertura das contas digitais, recebíveis do cartão e a duplicata eletrônica. A agenda BC+ veio organizar a discussão. Já a agenda BC# elevou tudo a outro patamar”, avalia João André Calvino Marques Pereira, chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central (BC).
Para a autoridade monetária, diante da mudança de comportamento do consumidor, não há outra forma de prestação de serviço senão dentro dessa experiência digital.
Os especialistas veem os próximos passos como definitivos para esta mudança. Pix e open banking fazem parte de uma combinação que alça esta indústria a outra dinâmica, colocando o Brasil em linha com o caminho que vem sendo adotado por Inglaterra, EUA, Austrália, China, Índia e México. Cada país, no entanto, construiu a sua própria regra e arquitetura operacional.
“Outros países já adotaram, mas o modelo que o BC está implementando aqui, tanto para o Pix quanto do open banking, é muito eficiente e privilegia a interoperabilidade. Todos os participantes serão tratados como iguais”, diz Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
E os lançamentos buscando proximidade com as novas formas de pagamento surgem a todo instantes. Este mês, o Bradesco anunciou sua nova empresa. A Bitz Serviços Financeiros vai atuar com carteiras digitais e contas de pagamento, por meio do aplicativo Bitz, que tem a Cielo como parceira. Com o dinheiro da carteira digital dá para fazer pagamentos de contas pelo celular, transferência de valores, recarga de celular, crédito, inclusão de cartões alimentação (Alelo) e refeição e pagamentos via QR Code em estabelecimentos com maquininhas Cielo.
O saldo que permanecer no Bitz terá rendimento diário de 100% do CDI. “A partir desta semana também será possível fazer a recarga do bilhete único dentro do aplicativo, sem pegar fila. Tudo isso só é possível com segurança devido à modernização do sistema pelo BC”, avalia Curt Zimmermann, CEO do Bitz.
“Na medida em que a infraestrutura vai se expandindo, os serviços acompanham. A carteira digital é exemplo. Com a combinação de IA (inteligência artificial), com os avanços das telecos virão mais novidades”, afirma Zimmermann, que tem como meta conquistar entre 20% e 25% deste mercado em três anos.
Os adquirentes não adotarão um padrão único. Alguns participarão de forma direta e outros, indireta do novo arranjo e pagamentos, já que as maquininhas terão a disponibilidade para todos os tipos de transação. “E terão os diferenciais competitivos tecnológicos. Vai dar para disponibilizar e receber nos meios de pagamentos, POS, capturar no terminal financeiro (TEF) e no e-commerce”, explica Pedro Coutinho, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e presidente da Getnet.
O executivo, líder de um setor que movimentou R$ 876,4 bilhões no primeiro semestre de 2020, lembra que a agenda de final de ano estará bem apertada. “Em outubro, entra em vigor a nova lei de compliance (circular 3978, que versa sobre lavagem de dinheiro). Em novembro, a LGPD. Tem a circular dos recebíveis de cartões para o dia três do 11. O Pix, em 16 de novembro, e, o open banking, em dezembro”, relata Coutinho.
A chegada do open banking irá permitir ainda novas formas de iniciação de pagamentos - como pelo Whatsapp - e tratamento dos dados que permitirá maior participação e inclusão de fintechs, com agilidade de colocação de novas tecnologias para os consumidores.
“O BC, com o open banking e o Pix, coloca o Brasil em outro nível. Apesar de China e Inglaterra já terem há mais tempo, o restante da Europa só vem adotando o Pix de quatro anos para cá, e o open banking, há uns dois”, avalia Ivan Habe, diretor executivo de consultoria em serviços financeiros da EY.
Para o especialista, a inovação que está acontecendo não é só mais um ‘drive’ tecnológico. “O que se discute agora são modelos de negócios e parcerias mais fortes com serviços e valores agregados. Ou faz parceria ou sai morto lá na frente”, acredita Habe.