15/09/2020 - Bancos ampliam oferta e acirram disputa com fintechs
VoltarPor Valor Econômico | Sérgio Tauhata
A mesma combinação de tecnologia e regulação favorável que tem possibilitado aos bancos digitais fazerem sombra aos incumbentes agora ajuda na mão inversa: são as grandes instituições que começam a agir como fintechs.
O mais novo capítulo do movimento ocorreu ontem com a entrada do BTG Pactual no varejo bancário, por meio de duas plataformas digitais, e o lançamento pelo Bradesco de uma carteira digital de pagamentos, chamada Bitz, voltada a desbancarizados.
No caso do BTG, as plataformas BTG+, que atende pessoas físicas, e BTG+ Business, para micro, pequenas e médias empresas, representam a chegada do antigo Pactual no varejo bancário após quase quatro décadas como banco de investimentos. “É um momento histórico, desde meados dos anos 90 a gente discutia se o Pactual entraria no varejo e finalmente esse momento chegou”, disse o CEO, Roberto Sallouti. A casa ensaiava essa estreia desde a abertura a investidores de varejo do BTG Pactual Digital, sua plataforma de investimentos, em 2018.
Como pano de fundo, há uma crescente consolidação de fintechs, bancos e corretoras para integrar serviços digitais de “banking” e investimentos. A chegada do BTG+ ocorre em um momento no qual a XP corre para lançar seu serviço bancário aos clientes da corretora, com previsão de disponibilizar serviços de conta digital e pagamentos no quarto trimestre e o Nubank, maior banco digital do país com 30 milhões de clientes, acaba de adquirir a plataforma de investimentos Easynvest.
Na esteira das transformações tecnológicas, os grandes bancos de varejo também se movimentam para abocanhar tanto parte do público desbancarizado, quanto atrair clientes que demandam serviços virtuais. As maiores instituições lançaram contas digitais sem tarifas, com movimentação por aplicativos. O Bradesco foi além e criou fintechs, como o banco digital Next e a Bitz.
Para o BTG, a concorrência direta com a XP tem levado o banco a acelerar o passo na corrida das plataformas. A marcação é cerrada, tanto que os cartões de crédito que vão ser disponibilizados para os clientes do BTG+ contam com um benefício de fidelização muito parecido com aquele criado pela XP no lançamento de seu cartão de crédito em julho.
Trata-se de um “cashback” de investimentos, em que um percentual dos gastos com o plástico volta como um valor aportado em um fundo gerido pela asset do grupo. No BTG+, esse serviço foi batizado de Invest+. No caso da XP, o benefício ganhou o nome de Investback.
Segundo o sócio e chefe do BTG+, Rodrigo Cury, o cartão “black” terá 1% de cashback, enquanto os modelos “platinum” vão reverter 0,75%. “Mas teremos alguns tipos de recompensas e campanhas que podem elevar esse percentual para até 2%, no caso do black”, acrescentou.
A conta corrente transacional do BTG+ está disponível desde ontem aos clientes já cadastrados na plataforma de investimentos BTG Pactual Digital. A partir de janeiro, o banco pretende ofertar a abertura de contas a qualquer interessado. Em um primeiro momento, os clientes do BTG Digital poderão utilizar funcionalidades, como pagamentos de contas, boletos, transferências e portabilidade de salário. Ao longo dos próximos meses, outros produtos serão incorporados, como cheque especial, financiamentos de veículos, “home equity” e seguros.
O CEO do BTG vislumbra um potencial exponencial de crescimento para a nova plataforma de varejo do banco. “Em cinco anos, metade da receita do BTG Pactual poderia vir do varejo digital; mas não é uma meta, é um sonho”, afirmou.
Conforme Sallouti, apesar de ter citado esse “sonho”, ainda não há uma meta de crescimento, porque a plataforma acaba de ser lançada. Mas, conforme acrescentou Cury, sócio responsável pelo BTG+, a plataforma já está pronta para atender “milhões de clientes”.
Junto com o BTG+, o banco lançou uma segunda plataforma voltada às micro, pequenas e médias empresas. A BTG+ Business terá como cochefes os sócios Rogério Stallone e Gabriel Motomura. Em um primeiro momento, a plataforma vai focar em operações de financiamento para as MPMEs.
Segundo Motomura, “para a gente estava clara a decisão de começar pelo crédito”. Uma pesquisa da instituição, citada pelos sócios, indica que 54% das empresas de menor porte classificam os serviços bancários existentes como “ruim” ou “muito ruim”. As reclamações são várias: crédito caro, burocracia, dificuldade no atendimento e demora para os pedidos ser resolvidos. “Na plataforma 100% digital, as operações são contratadas on-line e liberadas no mesmo dia”, disse Stallone.
De acordo com Motomura, no início de 2021, o BTG+ Business vai lançar serviços de gestão financeira. “Não vamos ficar só no crédito, no primeiro semestre de 2021 vamos entrar no 'cash management' e trazer soluções de pagamento de fornecedores, de folha de pagamentos, transferências e outras.”