10/07/2020 - PagSeguro pode ficar com Wirecard no Brasil
VoltarPor Valor Econômico | Talita Moreira e Flávia Furlan
A PagSeguro, do grupo UOL, é a credenciadora mais cotada até o momento para a compra da operação brasileira da empresa de pagamentos alemã Wirecard, disseram ao Valor fontes com conhecimento do assunto. A proposta feita, segundo interlocutores, gira em torno de R$ 400 milhões. A processadora americana Fiserv corre por fora na disputa.
O Valor já havia antecipado que a unidade brasileira foi colocada à venda, na esteira do escândalo contábil que envolveu a Wirecard na Alemanha. O processo inicialmente atraiu cerca de 20 competidores, incluindo nomes como Cielo, Getnet, Stone e Mercado Pago, mas nenhum demonstrou até o momento o mesmo apetite que a PagSeguro, que está em busca de expandir sua operação digital.
A cifra oferecida pela credenciadora do grupo UOL surpreendeu concorrentes. Segundo fontes do setor, a Wirecard estaria avaliada entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões - o grupo alemão chegou ao Brasil em 2016 ao adquirir a Moip por R$ 165 milhões. Grandes credenciadoras chegaram a oferecer um valor inferior a esse, devido ao receio com a crise de imagem e potencial fuga de clientes.
O escândalo da Wirecard, embora seja localizado na Alemanha, respingou na subsidiária. Segundo fontes do setor, a crise deteriorou a imagem da empresa brasileira, levando lojistas a pedir a antecipação dos recebíveis de pagamentos com cartões feitos por meio da Wirecard. Esse movimento, por sua vez, vem pressionando a liquidez da companhia. Algumas credenciadoras restringiram o funding a ela e pediram que a empresa redirecione o fluxo para outros fornecedores diante do aumento do risco.
A dianteira assumida pela PagSeguro não significa que a credenciadora fechará negócio nem que a transação será rápida. A expectativa é que, agora, a empresa faça uma due diligence detalhada das operações. A matriz alemã também não estaria demonstrando pressa, apesar da situação, de acordo com um interlocutor.
O Valor apurou que a PagSeguro mantinha conversas para processar as transações da Wirecard, em uma parceria comercial. Uma eventual compra da empresa, no entanto, representa uma oportunidade de melhorar sua operação digital, que, segundo fonte do setor, hoje é pequena e não vai bem.
A PagSeguro decidiu há alguns anos priorizar o mundo físico, uma estratégia revista em meio à pandemia e ao aumento das compras on-line. “Com a Wirecard, a empresa deixaria de ter uma oferta para o comércio eletrônico baseada em preços para ter uma oferta baseada em serviços”, diz outra fonte próxima da companhia. A Wirecard oferece um serviço de ‘split’ de pagamentos, que separa o valor da transação para diferentes vendedores ou prestadores de serviços, considerado entre os melhores do mercado.
Um interlocutor que conhece a PagSeguro diz que o e-commerce ficou em segundo plano na empresa dona da “Moderninha”, e agora a credenciadora busca formas de crescer na operação. “Dependendo do preço, é melhor comprar a Wirecard do que deixar que outro consolide”, afirma um interlocutor. A PagSeguro, no entanto, ainda pode enfrentar concorrência.
A processadora americana Fiserv, considerada uma candidata forte, analisa fazer uma proposta. A seu favor, está o fato de que ela permitiria um crescimento na América Latina para a Wirecard e não restringiria a empresa a passar suas transações com apenas uma credenciadora. A Fiserv também tem uma vertente de credenciamento, mas 90% dela corresponde à prestação de serviços para outras empresas do mercado. “O modelo da Fiserv é mais aberto, tem ‘fit’ com a Wirecard e possibilitaria um forte crescimento regional”, diz uma fonte.
Contatada, a Wirecard disse que a Wirecard AG, na Alemanha, é a responsável por conduzir todo o processo de venda e que não poderá falar das propostas enquanto estiverem em fase de negociação. A PagSeguro não comentou e a Fiserv não respondeu até o fechamento desta reportagem.