04/07/2020 - Presidente da Cielo refuta barreira de entrada ao serviço de pagamento via Whatsapp
VoltarPor Valor Econômico | Sérgio Tauhata e Flávia Furlan
A Cielo monitora as deliberações do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para poder retomar a solução de pagamentos por meio do Whatsapp, em parceria com o Facebook, explicou o presidente da credenciadora controlada pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, Paulo Caffarelli, na Live do Valor desta segunda-feira.
"BC e Cade têm total direito de solicitar informações adicionais e temos de aguardar que tanto BC quanto Cade estejam satisfeitos com as informações que prestamos", disse.
Na semana passado, os reguladores decidiram suspender temporariamente o funcionamento do sistema de pagamento pelo aplicativo de mensagens instantâneas do Facebook. A preocupação alegada pelos órgãos foi com uma eventual inviabilização da concorrência devido ao tamanho da participação de mercado da credenciadora e da quantidade de usuários da rede social.
Caffarelli defendeu a parceria e refutou uma eventual barreira de entrada. "Nunca existiu exclusividade à Cielo nesse processo [de parceria com o Whatsapp]. Existem conversas e tratativas com outras adquirentes."
O presidente da Cielo também assegurou que as transações por meio do aplicativo de mensagens são seguras. "Esse processo todo está dentro de um arrranjo das bandeiras [de cartões] e é óbvio que é observado sob todas as óticas de risco e está em situação de normalidade [em termos de segurança]", disse.
De acordo com o executivo, outra preocupação do BC, de não ter informações sobre as movimentações realizadas pelo app, também estaria mitigada pelo fato de o sistema fazer parte do ambiente PIX, plataforma de pagamentos instantâneos desenvolvida pela autoridade monetária brasileira. "Já foi declarado pelo Facebook que estará conectado ao PIX. Nós da Cielo estamos preparados para, em novembro, [data oficial de lançamento do serviço do BC] fazer parte do PIX", afirmou Caffarelli.
De acordo com o presidente da Cielo, a credenciadora tem condições de aderir à plataforma mesmo se o BC antecipar o lançamento para setembro, conforme especulações de mercado. A companhia "vem trabalhando muito forte com foco em novembro, mas se antecipar vamos nos adaptar".
‘N’ soluções de pagamentos
A maquininha de cartões vai ser apenas mais uma solução entre vários meios de pagamentos disponibilizados pela Cielo, afirmou Caffarelli. “Junto com maquininhas teremos ‘n’ soluções de pagamentos providas pelo adquirente”, afirmou.
“Cada vez mais caminhamos para oferecer soluções [de pagamentos], onde a maquininha passa a ser um ente desse processo e não necessariamente tenha de ser utilizada”. Caffarelli citou os pagamentos por aplicativos, por QR Code e sem contato (contactless), como no caso do uso da tecnologia “Near Filed Communication” (ou NFC).
Na visão do executivo, “vamos cada vez mais conviver com volume grande de alternativas e quanto maior o número de alternativas pudermos disponibilizar aos clientes melhor”. Caffarelli acrescentou que “a decisão final de qual tipo final de pagamento caberá ao consumidor”.
O executivo vê impacto reduzido com uma eventual concorrência de novas soluções digitais de pagamentos, como o próprio Pix, a plataforma de pagamentos instantâneos desenvolvida pelo Banco Central.
“Tendemos a achar que vai estabelecer uma competição, mas, quando olhamos a Índia, que teve um processo muito parecido, vemos um aumento da inclusão digital”. Na análise de Caffarelli, no Brasil, “a gente vai ver muito mais um aumento de pessoas transacionando do que uma concorrência”.
O executivo citou o grande índice de informalidade no país. “O volume da economia informal demanda muito dinheiro físico e é preciso trazer esses pequenos empreendedores para o mundo digital, para o mundo da formalização.”
A pandemia de covid-19, na opinião de Caffarelli, tem despertado os clientes para a necessidade de uso de ferramentas digitais, o que aumentou o próprio protagonismo das credenciadoras. “A adquirência vem ganhando protagonismo nesse processo”, afirmou.
Para o presidente da Cielo, “quando a gente fala de Pix estamos falando, em um primeiro momento, de transações de débito, mas o volume das transações de crédito é muito relevante no varejo e a covid-19 trouxe um protagonismo forte das adquirentes”, com aumento da demanda pelas transações on-line.
“O que eu acredito é que a gente tem um empoderamento muito forte do consumidor e nossos produtos não se limitam às maquininhas.” Caffarelli elencou várias soluções que cresceram durante a pandemia. “Tivemos aumento de 10% em uso de QR Code e de 15% em pagamento por aproximação NFC”, disse.
Os dados mostram que a crise trouxe uma aceleração da entrada do consumidor e lojistas no processo de transformação digital. “Algumas soluções que estamos oferecendo aos clientes na pandemia já existem há alguns anos”, mas agora ganharam muito mais relevância. “Tivemos 700% de crescimento no credenciamento para utilizar o Superlink, por exemplo”, pontuou.
A companhia também passou a oferecer treinamentos aos clientes lojistas interessados em estrear no comércio eletrônico. “Fizemos uma série de aulas em parceria com o Sebrae sobre, por exemplo, como aproveitar a transformação digital e a empresa passar a vender pelo e-commerce”, afirmou o presidente da Cielo. Os cursos atraíram até o momento 1,5 milhão de pessoas. “Chegamos a ter 60 mil em sala de aula virtual.”