17/06/2020 - Pagamento instantâneo pode girar R$ 16 trilhões
VoltarPor Valor Econômico | Jacilio Saraiva
Cento e quarenta instituições financeiras já solicitaram adesão ao sistema de pagamento instantâneo (PIX), desenvolvido pelo Banco Central (BC). A lista inclui os cinco maiores bancos do país (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil), além de fintechs e credenciadoras de cartão. Mais empresas poderão aderir em dezembro.
A estimativa de analistas é que, com a evolução do serviço e as novas opções de transações, a facilidade movimente mais de R$ 16 trilhões ao ano e abra janela de oportunidades no mercado financeiro. A fase de testes da ferramenta já começou e o plano do regulador é lançar o serviço em novembro.
O PIX vai permitir transferências e pagamentos entre pessoas, empresas e governos, a qualquer hora do dia, inclusive feriados, com o recebimento em poucos segundos, a partir da leitura de um QR Code ou informando apenas e-mail, número de celular ou CPF/CNPJ do beneficiário.
De acordo com pesquisa da consultoria Accenture, o setor de pagamentos instantâneos movimenta US$ 30 trilhões em mais de 20 países e pelo menos dez outros mercados estudam novas soluções no segmento. “O PIX inclui o rastreamento das transações, o que permitirá uma melhor visão dos bancos sobre os clientes, com a oferta de mais produtos”, analisa Edlayne Altheman Burr, managing director responsável por estratégias de pagamentos para a América Latina na Accenture.
A especialista acredita que a novidade também possa trazer economia de custos às operações financeiras. “O BC divulgou que cobrará R$ 0,01 a cada dez transações realizadas, valor competitivo e ainda não experimentado no mercado brasileiro.” Há um potencial para o corte de gastos, conforme o tipo de transação, como DOCs, TEDs e saques em ATMs, explica. “As reduções de despesas podem variar de 10% a 40%.”
Sobre as transações nos caixas eletrônicos, a consultora lembra que mercados que acolheram os pagamentos instantâneos observaram um recuo no uso das máquinas. “Em países como Suécia, Noruega e Reino Unido, a quantidade de retiradas em ATMs caiu em taxas de 4% a 16% ao ano, entre 2014 e 2018.”
Carlos Eduardo Peyser, diretor de estratégia de PMEs e open banking do Itaú Unibanco, espera que a economia apareça com a maior digitalização e com menos custos de logística nas agências, puxados pela redução progressiva do uso do dinheiro vivo. “Tudo dependerá da velocidade de adoção ao PIX.”
O banco desenvolve uma solução própria para o sistema, com recursos de computação em nuvem. Montou um time multidisciplinar, com integrantes das áreas de negócios e tecnologia. “Temos mais de 250 pessoas envolvidas, sendo 150 em dedicação integral”, diz. Nos próximos meses, a meta é treinar equipes comerciais para tirar dúvidas de clientes. “Além disso, faremos tutoriais para explicar aos correntistas como se beneficiar das soluções.”
Antônio Tokuriki, diretor da área de comercialização de produtos e serviços do Bradesco, afirma que a transparência será um dos pontos fortes do sistema do BC. “Quando um valor é transferido, pagador e recebedor recebem a informação em tempo real”, diz.
Em nota, o Santander informou que está fazendo “todos os esforços para atender as determinações do Banco Central.”
Cláudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), lembra que os bancos maiores, com mais de 500 mil correntistas e obrigados a oferecer a modalidade, já têm investimentos para expandir tecnologias de QR Code, empregadas no PIX. Uma preocupação da especialista é que os usuários deverão ter um smartphone para acessar o sistema.