05/06/2020 - Original e PicPay lançam biometria facial para compras
VoltarPor Valor Econômico | Flávia Furlan
Passada a fase de isolamento social, o Banco Original planeja colocar em prática um plano para incluir o reconhecimento facial na autorização de pagamentos feitos por clientes de seu aplicativo e usuários da carteira digital PicPay, da qual é acionista. Conforme o projeto, cerca de 800 mil estabelecimentos comerciais estarão aptos a receber as vendas dessa forma até dezembro e 23,6 milhões de consumidores dos aplicativos terão a tecnologia à disposição. Será possível pagar mesmo usando máscaras, que farão parte do dia a dia.
A iniciativa é relevante se considerado que o reconhecimento facial ainda é embrionário quando se trata de pagamentos no país, sendo mais disseminado para abertura de contas ou acesso aos aplicativos de bancos digitais ou carteiras eletrônicas. Mas a mudança de hábito dos consumidores, que exigirão cada vez menos contato durante suas compras, em meio à pandemia de covid-19, tem feito as empresas despertarem para a adoção da tecnologia em pagamentos.
A transação funciona da seguinte maneira: no caixa do estabelecimento comercial, em vez de receber o cartão para fazer a transação em uma “maquininha”, o vendedor usa um tablet para tirar fotos do cliente do ambiente do aplicativo - do Original ou do PicPay. O próprio aplicativo encaminhará um “push” para o comprador, pedindo para que ele confirme a transação. A operação dura cerca de 30 segundos.
Essa jornada é diferente daquela que vem sendo usada até o momento. Bancos e fintechs estão aproveitando que o reconhecimento facial é exigido para ingresso nas carteiras eletrônicas de Apple, Google e Samsung para usar essa informação para autenticar transações com seus meios de pagamento nessas “wallets”. Nesse caso, o cliente ainda precisa cadastrar o cartão na wallet, abrir o aplicativo e aproximar o celular de uma maquininha.
“O modelo do negócio não está definido, mas estamos bancando o tablet num primeiro momento”, explicou Anderson Chamon, cofundador do PicPay. Questionado sobre o custo aos varejistas, que estarão em uma situação mais delicada com a queda das vendas durante o isolamento, ele disse que o tablet é mais caro e tende a ter uma escala menor, mas que a empresa investe para tornar a captura mais acessível. Dos vendedores, continuará a ser cobrada uma taxa a cada transação.
A PicPay fará o papel de cadastrar os estabelecimentos, começando por aqueles com alta recorrência, como supermercados e farmácias. A meta é atingir um terço dos 2,5 milhões de vendedores que já usam o aplicativo até dezembro. O primeiro local de implantação do reconhecimento facial será no café do escritório do Banco Original, com sede no Brooklin, em São Paulo, para os 2 mil funcionários. Deles, foi exigida uma autorização, uma vez que, segundo a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entra em vigor no próximo ano, o reconhecimento facial só pode ser realizado com consentimento do consumidor.
Desde 2019, o Banco Original adota o reconhecimento facial nas soluções de mobile banking, inclusive para transferência de altos valores. Com o avanço da inteligência artificial, isto é, do acompanhamento do comportamento do usuário, o banco decidiu não pedir nenhuma senha em algumas transações, apenas a “selfie”. Hoje, 1 milhão dos 3,6 milhões de clientes já fazem uso da tecnologia.
A expectativa é que ela possa ser adotada também para as transações no sistema de pagamento instantâneo do Banco Central, o Pix. “Alguns bancos usarão senhas para autenticação, nós usaremos a biometria facial”, diz Raul Moreira, diretor-executivo de tecnologia da informação, produtos e operações do banco. De acordo com ele, depois da leitura do QR Code, o aplicativo do banco pedirá para o usuário mirar a câmera do celular, olhar para os lados, fazer alguns movimentos e, com base em parâmetros, reconhecerá o usuário - inclusive se estiver usando máscaras.
A credenciadora de cartões Cielo, líder no setor do país, também está de olho na tecnologia. A empresa iniciou os primeiros testes em 2019. Agora, avalia duas possibilidades quanto ao reconhecimento facial: oferecer a solução propriamente dita aos varejistas e, também, ser o adquirente para parceiros que contarem com a ferramenta. Em nota ao Valor, a companhia disse que não vai estipular prazos para o lançamento das soluções.
As bandeiras têm poucas iniciativas no país, tendo em vista que mantêm o modelo de “chip e senha” e ainda estão migrando para a tecnologia sem contato. Consultadas pela reportagem, Elo e Mastercard disseram que não tinham experiências a compartilhar no país.
A Visa destacou uma parceria fechada com o banco Neon, em 2017, para uso nas compras feitas pela internet. A autenticação da transação on-line é realizada pela “selfie” cadastrada pelo usuário no aplicativo do banco, quando ele abriu uma conta digital. A tecnologia permite captar quando os usuários piscam, para verificar se está sendo usada uma foto por um fraudador.
Em pagamentos nos pontos físicos, Guilherme Rovai, diretor de design de produto do Neon, diz que pesquisas indicam que ainda há um leve desconforto dos clientes com a tecnologia e que a qualidade dos aparelhos celulares prejudica o uso. “Os celulares mais avançados, com mais espaço e memória, podem ajudar a disseminar a tecnologia”, diz.
O Itaú Unibanco - assim como o Neon - usa o reconhecimento facial das wallets Apple, Google e Samsung. No banco, 370 mil clientes estão usando a tecnologia para pagamentos, o que movimentou de janeiro a maio quase R$ 500 milhões em transações. O nível de fraude, segundo o banco, é baixíssimo. “Acreditamos mais na alavancagem do uso de reconhecimento facial através das wallets e das transações sem contato. O ecossistema está preparado para isso”, diz Rubens Fogli, diretor do Itaú. Segundo ele, 90% dos dez milhões de equipamentos no país aceitam tecnologia contacless.