14/05/2020 - Cielo já sente impacto da pandemia
VoltarPor Valor Econômico | Flávia Furlan
A pandemia da covid-19 ocorre justamente em um momento que a credenciadora de cartões Cielo, dos acionistas Banco do Brasil (BB) e Bradesco, coloca em prática uma nova estratégia, o que trouxe queda em volume transacionado e número de clientes no primeiro trimestre. A empresa teve lucro líquido de R$ 166,8 milhões no período, recuo de 69,4% em um ano e de 24,6% no trimestre.
“Estamos intimamente relacionados ao varejo, e não sabemos a extensão nem o tempo dessa crise”, disse ontem a jornalistas o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli. “Queremos garantir que o varejo opere, mesmo de portas fechadas.”
Dados do ICVA, indicador da credenciadora com estimativas para o mercado, mostram que entre fevereiro e março o faturamento nominal do varejo caiu 21,1%, enquanto houve queda de 11,2% do volume transacionado pela Cielo. “A pandemia interrompeu uma trajetória de crescimento no volume financeiro da companhia”, disse Gustavo Sousa, diretor financeiro da Cielo.
Para conquistar a participação de mercado perdida para as concorrentes, a Cielo avançou nos últimos anos em clientes de menor porte, das categorias empreendedores e varejo, e manteve na carteira grandes varejistas, mesmo que com baixa rentabilidade para o negócio. No entanto, desde o fim do ano passado, mudou a estratégia.
“Em 2019, vendemos 1,5 milhão de maquininhas, mas neste ano vamos vender bem menos. Não estamos dispostos a continuar subsidiando”, disse Caffarelli, sobre a estratégia para os clientes de varejo e empreendedores. O subsídio custava em média R$ 350 por aparelho, sendo que apenas seis eram ativados, em média.
Há um ano, a Cielo tinha na carteira de clientes 70% de grandes empresas e 30% de varejo e empreendedores. Hoje, são 66% e 34%, na ordem. Para Caffarelli, a mudança de mix não ocorre na velocidade pretendida, uma vez que está baseada em contratos a serem renovados. Mas, é natural que, à medida que avance, ocorra perda de volume e de máquinas.
A companhia, no entanto, também registrou queda da quantidade de clientes totais. No fim de março, a base ativa somava 1,5 milhão - alta de 6,9% em um ano, mas queda de 6,6% em relação ao quarto trimestre do ano passado.
Como estratégia para lidar com a crise, a Cielo quer elevar a exposição dos clientes de produtos de crédito, a exemplo do Receba Rápido, em que os valores são depositados na conta do cliente em dois dias, em vez de 30 dias. “Em que pese a queda do volume financeiro, tivemos crescimento em produtos de crédito, que foi recorde no varejo, de 24%”, disse o executivo. Segundo ele, a meta é chegar a 50%.
Durante a crise, foi lançado o programa Cielo Movimenta, para antecipar, num primeiro momento, R$ 5 bilhões às empresas. Cerca de 900 mil estão aptas, independentemente de estar com portar abertas ou fechadas. Os dados do ICVA mostram que 75% do varejo brasileiro está transacionando nessa crise, mesmo que por meio de vendas on-line ou delivery.
A Cielo ainda avançou em soluções de pagamento à distância, como por exemplo com o “link de pagamento”. Entre fevereiro e março, houve crescimento de 620% na procura pela solução, disponível a 1 milhão de clientes. No mesmo intervalo, houve crescimento de 14% no pagamento por aproximação e 10% no QR Code, que estão disponíveis em 1,3 milhão de maquininhas.
Analistas viram como positiva a postura da Cielo de olhar finalmente para os clientes de melhor margem, o que deve melhorar a rentabilidade (preço médio sobre o volume capturado). Mas esperam uma recuperação lenta após a crise, por isso reduziram fortemente as expectativas de lucro.