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30/01/2020 - Setor de cartões desenvolve sua própria plataforma

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Valor Econômico | Finanças - Por Flávia Furlan e Talita Moreira

O setor de cartões prepara um modelo próprio de pagamentos instantâneos, que vai funcionar em paralelo ao sistema em desenvolvimento pelo Banco Central.

A medida é, em parte, defensiva. De um lado, a plataforma em criação pelo BC poderá se tornar um concorrente relevante das transações com cartões de débito. De outro, a experiência com aplicativos de pagamentos na China mostra uma situação em que a indústria de cartões foi ultrapassada sem nunca ter sido relevante naquele mercado - um cenário diferente do brasileiro, mas que deixou suas lições.

Numa etapa inicial, a plataforma dos cartões vai permitir transações em tempo real entre pessoas. Porém, há estudos para que também seja possível fazer operações de crédito - parcelar uma compra, ou pagá-la em outra data.

Um dos apelos do setor de cartões é se colocar como opção para brasileiros que não são clientes de um banco tradicional, mas usam contas de pagamentos. Essa modalidade, mais simples, vem sendo oferecida principamente por fintechs e bancos digitais. “Queremos oferecer uma alternativa, uma outra forma de pagar”, afirma Percival Jabobá, coordenador do comitê de transformação digital da Abecs, associação das empresas do setor de cartões. “Nem todas as pessoas têm conta em banco”, diz.

A plataforma preservará o desenho tradicional da indústria de pagamentos, que inclui bandeira, emissor, adquirente e varejista. Com isso, segundo Jatobá, o modelo também terá o apelo da segurança, com as bandeiras fazendo o papel de garantidoras das transações. Às credenciadoras, caberá comprovar se há fundos na conta. As empresas ainda vão definir como será o modelo de negócios. “A forma de remuneração será diferente, até porque as transações [instantâneas] têm um tíquete médio menor.” Segundo Jatobá, a tecnologia vai coexistir com a plataforma desenvolvida pelo BC. Um dos atrativos dos cartões, para ele, são benefícios como pontuação e “cashback”. “As pessoas vão optar por um ou por outro não só pela tecnologia, mas pelas vantagens.”

O sistema está em desenvolvimento pelos associados da Abecs há cerca de um ano. A primeira etapa, de pagamentos entre pessoas, deve ser concluída até a metade deste ano. O executivo não revela os próximos passos, mas diz que evoluções são naturais, como pagamentos de consumidores para estabelecimentos comerciais.

O Valor apurou que também estão sendo estudados mecanismos para concessão de crédito de maneira instantânea, a partir do uso de carteiras digitais com os plásticos cadastrados. Para isso, está sendo padronizado o “crediário” no cartão, produto lançado no ano passado pelo setor.

Estudo da Moody’s mostra que se um volume de R$ 150 bilhões a R$ 250 bilhões de transações com cartões for transferido para uma plataforma em tempo real, a perda de receitas ao sistema tradicional de pagamentos deve ser, em média, de R$ 4 bilhões.

“As empresas de cartões demoraram para se colocar como solução. As bandeiras construíram soluções de pagamentos instantâneos fechadas para seus clientes. Agora, o setor está tentando correr para ter um sistema interoperável”, afirma um interlocutor próximo ao assunto. Um executivo da área de cartões de um banco, porém, afirma que o setor ainda tem muitas oportunidades a explorar com a oferta de serviços atrelados aos pagamentos instantâneos.

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