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13/01/2020 - Competição ainda deve pressionar ganhos com ‘maquininhas’

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VALOR ECONÔMICO

Por: Flávia Furlan

 

Responsáveis pela captura de pagamentos com cartões nas “maquininhas”, as adquirentes continuarão a enfrentar um ambiente altamente competitivo em 2020. Os preços mais baixos reduzirão os ganhos obtidos em cada transação, o que, espera-se, venha a ser compensado por um aumento de volume movimentado decorrente da conquista de novos clientes.
 
Na visão de analistas que acompanham o setor, como consequência da acirrada disputa a líder Cielo, dos acionistas Bradesco e Banco do Brasil, tende a continuar a ter redução do lucro líquido em 2020, o que vem acontecendo desde que adotou a estratégia de proteger participação de mercado em detrimento de rentabilidade. Segundo o Valor apurou, após as quedas nos resultados dos últimos trimestres, a Cielo planeja mexer em sua estratégia e voltar a priorizar as margens.
 
Já a PagSeguro, empresa do grupo UOL focada em microempreendedores - fatia do negócio com margens superiores -, deve apresentar pela primeira vez lucro líquido superior ao da concorrente. Alguns analistas já preveem inclusive que a independente Stone, que deve se lançar no mundo dos microempreendedores neste ano, supere o resultado da Cielo.
 
“Haverá pressão nas taxas neste ano, porém num ritmo menor do que no passado recente”, disse Fabrício Winter, líder de projetos da consultoria Boanerges & Cia., especialista no mercado de pagamentos. “O ganho das empresas vai decorrer do volume de transações, e da oferta cada vez maior de serviços financeiros para os clientes.”
 
Analistas do banco UBS estimam que, na média das três empresas com capital aberto do setor de adquirência - Cielo, PagSeguro e Stone -, o ganho obtido com cada transação, a chamada “take rate”, que soma as taxas cobradas e desconta as despesas, deve cair 0,10 ponto percentual em 2020, para 2,07%. Esse é o mesmo ritmo identificado no ano passado. No entanto, é menor do que a redução de 0,12 ponto em 2018.
 
A competição atinge principalmente a taxa de desconto, a chamada MDR, cobrada cada vez que o cartão passa na maquininha. Nos cálculos da Boanerges & Cia., na média, essa cobrança deve cair de 2,5% em 2019 para 2,48% em 2020 no crédito, e de 1,25% para 1,22% no débito. Em um prazo mais longo, até 2024, deve ir a 2,28% no crédito e a 1,02% no débito.
 
O movimento decorre de promoções. Em dezembro, a PagSeguro zerou a taxa de desconto para compras com cartão de débito e crédito à vista para volumes até R$ 10 mil, para novos clientes, por três meses. Segundo analistas do Credit Suisse, a promoção é mais agressiva que a anterior, que considerava transações com volumes até R$ 1,5 mil. Eles acreditam que a promoção aumentará o número de clientes, mas contribuirá pouco para as receitas no início do ano.
 
A Rede, do Itaú Unibanco, estendeu em dezembro a todos os clientes com faturamento anual de até R$ 30 milhões a isenção da taxa que é cobrada para antecipar o fluxo de pagamentos com prazo de recebimento dos valores em dois dias - e não em 30, como é a praxe no mercado. Antes, a possibilidade estava disponível só a clientes com domicílio no Itaú, o que gerou processo administrativo em andamento no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
 
Outra fonte de pressão virá da queda da taxa de juros e a consequente redução dos spreads com a antecipação de recebíveis e o crédito “fumaça”, concedido conforme o histórico de vendas nas maquininhas. “Tudo isso vai acontecer num ambiente de aumento do uso de capital, uma vez que as adquirentes se movem para oferecer prazos mais curtos nos pagamentos com cartões de crédito”, dizem analistas do Bradesco, em relatório.
 
Algumas empresas conseguirão compensar a queda de preços com elevação de volumes. Segundo os analistas do UBS, no caso da Stone haverá aumento de 48% no volume de transações capturadas neste ano, mediante o aumento dos escritórios regionais, os “hubs”, dedicados a capturar e reter clientes. A PagSeguro terá elevação de 34%; já a Cielo, de apenas 11%, pressionando os resultados.
 
O Bradesco estima lucro líquido total de R$ 4,018 bilhões neste ano para as adquirentes com capital aberto - Cielo, PagSeguro e Stone -, com alta de 4,7% frente ao ano anterior. Os analistas, entre eles Victor Schabbel, ex-diretor de relações com investidores da Cielo, estão pessimistas com a adquirente, projetando queda anual de 37% no lucro líquido, para R$ 1,021 bilhão, enquanto outros analistas estimam algo perto de R$ 1,5 bilhão. Para o Bradesco, deve haver aumento de 46,5% do lucro líquido da Stone, a R$ 1,141 bilhão, e de 33,2% no da PagSeguro, a R$ 1,856 bilhão.
 
“Mais importante do que a receita da atividade de adquirência será o relacionamento de longo prazo com o varejista”, dizem os analistas do Bradesco. “Mas, no processo de se tornar um canal aos clientes, os preços vão se manter sob pressão, com custos e despesas de vendas altos enquanto a competição se intensifica.”
 
No ambiente mais competitivo, adquirentes veteranas - Cielo, Rede e Getnet, do Santander - têm perdido participação de mercado. O grupo detinha fatia de 84,7% no terceiro trimestre de 2019, em comparação a 94,4% dois anos antes. Dispostas a proteger essa participação no último ano, reduzindo preços, essas empresas já começam a buscar resultados. “Cumprimos nosso papel de ter os preços adequados, e entendo que o preço que temos é justo pelo serviço que prestamos”, afirmou Pedro Coutinho, presidente da Getnet.
 
Segundo o Valor apurou, até mesmo a Cielo, que estava focada em manter a participação de mercado, agora deve voltar a olhar a rentabilidade. Uma fonte a par dos planos da companhia afirmou que a empresa precisa voltar a ter resultado. “Caso achate muito mais as margens, a empresa pode vir à lona e, portanto, a rentabilidade passará a ter mais peso neste ano”, diz.
 
Um dos segmentos mais competitivos neste ano será o de microempreendedores, formado por pessoas físicas ou jurídicas de pequeno porte, que começou a ser atacado mais fortemente por veteranos e novatas no ano passado. O modelo foi lançado pela PagSeguro, que começou a atuar originalmente com a venda de maquininhas, em vez de apenas aluguel, como fazia o mercado.
 
A Stone lança ainda neste trimestre sua parceria com o Grupo Globo para atingir empreendedores que transacionam cerca de R$ 2 mil por mês nas maquininhas, sendo que até então a empresa estava focada apenas em clientes que faturaram dez vezes mais. Já a Getnet tem reforçado as vendas da SuperGet, voltada para o público, que alcançou o pico de 100 mil unidades comercializadas por mês. “Queremos continuar a aumentar a atuação no mercado de cauda longa”, disse Coutinho. A Getnet deve fechar parcerias para vendas, a exemplo da realizada com o Banco Pine e o Original.
 
A PagSeguro tem reagido com uma ação comercial e de marketing mais forte entre os clientes. No ano passado, lançou uma campanha em que dizia ser a “líder” em maquininhas do país, retirada do ar após negociação feita no Conar resultante de reclamação da Cielo. Procuradas, as empresas não comentaram. Dados públicos impedem a comparação: a PagSeguro reporta 5 milhões de clientes ativos, com ao menos uma transação nos últimos 12 meses, mas as concorrentes consideram os últimos três meses, resultando em 430 mil clientes na Stone e 1,5 milhão na Cielo, segundo os números mais recentes.
 
 
 
 

 

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