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22/01/2019 - PagSeguro quer entrar na disputa pelo crédito

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VALOR

Por: Talita Moreira, Flávia Furlan e Nathália Larghi 

A credenciadora de cartões PagSeguro se posicionou em um novo patamar na "guerra das maquininhas" ao colocar as mãos em uma licença de instituição financeira. O movimento já era esperado, mas concretiza um ataque direto - e inédito - ao território dos grandes bancos.

Discretamente, bem ao seu estilo, a PagSeguro adquiriu do Grupo Rendimento o controle do Banco Brasileiro de Negócios (BBN), que tem autorização para atuar como banco múltiplo, mas não operava de forma ativa. O movimento veio um ano após o badalado IPO da credenciadora na Bolsa de Nova York, e dá a ela a possibilidade de expandir sua oferta aos lojistas.

Por meio do banco, a PagSeguro poderá oferecer crédito a seus clientes - em geral, microempreendedores e profissionais autônomos. É uma combinação perfeita com o que a empresa, controlada pelo Grupo UOL, já faz. O UOL tem como maior acionista a família Frias, que edita a "Folha de S.Paulo".

Até hoje, como instituição de pagamento, a PagSeguro só podia fazer para os usuários de suas maquininhas a antecipação do fluxo de recebíveis de cartões de crédito. É uma grande fonte de receita para a empresa, mas um negócio com limitações. Agora, poderá oferecer aos clientes uma conta corrente do banco com serviços como cheque especial, linhas de financiamento e, mais à frente, até seguros.

É o que já fazem as maiores empresas do setor com o suporte de seus respectivos bancos controladores. As grandes credenciadoras fornecem aos lojistas não só as maquininhas, mas pacotes de serviços dos bancos que estão por trás. A Cielo tem como maiores acionistas o Bradesco e o Banco do Brasil, a Rede pertence ao Itaú Unibanco e a Getnet, ao Santander.

A clientela da PagSeguro é, em boa parte, formada por um público não bancarizado. Por isso, o efeito principal pode não ser o de bater de frente com os grandes bancos, mas colocar para dentro do sistema financeiro um público que hoje está à margem dele.

Pode parecer pouca coisa, mas foi justamente comendo pelas beiradas que a PagSeguro mudou o mercado das "maquininhas" no país. A credenciadora se fez ao olhar para um nicho inexplorado, o de microempreendedores, e ao inovar na forma de distribuir as maquininhas. Em vez de alugar, a empresa vende os equipamentos de forma parcelada. O modelo foi tão bem-sucedido que, hoje, as "Moderninhas" também estão nas mãos de pequenos lojistas antes atendidos pelas companhias tradicionais.

Em consequência, as grandes empresas do setor tiveram de fazer ofertas parecidas para conter a perda de participação de mercado imposta pela PagSeguro e também por outras companhias que vieram na sequência, como Stone e SafraPay. Cielo e Rede (empresas resultantes dos tempos de duplo monopólio no mercado) e Getnet têm hoje cerca de 80% do volume de transação de cartões, estima o Credit Suisse.

As credenciadoras novatas dizem que poderiam ter uma fatia ainda maior das transações se não esbarrassem no poder de mercado dos grandes bancos. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) abriu em dezembro um inquérito para investigar se a verticalização não inibe a concorrência no setor.

É cedo para saber se a oferta de serviços bancários vai intensificar esse processo. Para um executivo do setor, a competição "está dada" e ter um banco por trás de credenciadoras como PagSeguro não necessariamente vai mudar o jogo. Essa fonte acredita que todas as principais credenciadoras terão instituição financeira.

Um interlocutor próximo a um banco afirma que a PagSeguro já tem um bom histórico de seus clientes, informações vitais para atuar no crédito. "A empresa tem marca forte, um fluxo grande de recursos e canais de autocontratação [as maquininhas]", diz. "Resta saber se vai saber dar crédito."

O movimento da PagSeguro era há algum tempo aguardado pelo mercado. Em 2017, a companhia adquiriu a Biva, uma fintech de empréstimos on-line. No ano passado, Rômulo Dias, ex-presidente da Cielo e ex-membro da diretoria executiva do Bradesco, foi contratado para presidir o Grupo UOL e liderar o processo de criação ou compra de um banco.

Segundo o Valor apurou, a empresa já estudava a compra de uma instituição financeira desde o começo do ano passado. A negociação com o Grupo Rendimento começou por volta de setembro e teria custado entre R$ 10 milhões e R$ 14 milhões, segundo fonte que acompanhou o assunto.

A operação obteve autorização do Banco Central e da Presidência da República em dezembro, mas a PagSeguro só assumiu o controle do BBN no início deste mês. O negócio foi objeto de decreto presidencial porque a credenciadora, listada em Nova York, tem acionistas estrangeiros. Comprar instituições com pouca ou nenhuma atividade é um caminho usual para quem quer entrar no setor financeiro. Abrir um banco do zero costuma ser mais demorado.

Como instituição financeira, a PgSeguro passa a estar sujeita a uma regulamentação bem mais pesada do BC, o que implicará custos mais altos para o grupo em áreas como compliance.

No modelo atual de negócio, a PagSeguro já alcançou 3,8 milhões de clientes ativos, dos quais 75% nunca haviam tido acesso a uma maquininha antes de fechar negócio com a empresa. No terceiro trimestre de 2018, a empresa lucrou R$ 231,6 milhões, alta de 57,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume de pagamentos atingiu R$ 20,2 bilhões, aumento de 89,9% na mesma comparação. Procurados, PagSeguro e Grupo Rendimento não fizeram comentários sobre a operação.

 

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