Museu do Cartão de Crédito

28/08/2017 - Cartão pré-pago vira opção para motorista de aplicativo receber

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VALOR
Por Nathália Largh


Após ficar desempregado e ver seu nome "sujar" com o atraso no pagamento de contas, o engenheiro Luciano Pereira decidiu trabalhar como motorista para aplicativos de transporte particular. Mas, com as restrições no seu CPF, ele poderia ter dificuldades para abrir uma conta em banco e receber o valor das corridas. A saída encontrada por empresas como 99 e Easy para atender condutores nessa situação foi oferecer um cartão pré-pago sem vínculo com instituição financeira.

O cartão é oferecido aos condutores assim que eles se cadastram nos aplicativos da Easy e da 99. O plástico tem bandeira Mastercard e pode ser usado para fazer compras. Se o motorista preferir, ele pode sacar os valores transferidos para o cartão em caixas 24 horas ou casas lotéricas. No entanto, há um limite de R$ 700 para saques e é cobrada uma  taxa de R$ 3,90 nas lotéricas e de R$ 7,90 nos terminais de autoatendimento por transação.

Nas lojas, o plástico deve ser usado na função crédito, mas a emissora não está efetivamente dando crédito aos usuários, já que ele só pode ser usado se tiver dinheiro no cartão, como um pré-pago. Justamente por não oferecer esse "empréstimo" ao portador do cartão, o emissor não precisa ser banco. Os cartões da Easy e da 99, por exemplo, são emitidos pela Hub Prepaid, uma instituição de pagamento regulada pelo Banco Central, que funciona como uma emissora de moeda eletrônica.

O uso na função crédito, segundo Alexandre Brito, diretor-geral da Hub Prepaid, é um benefício para o próprio usuário, que pode utilizá-lo também em comércio eletrônico e serviços on-line que não aceitam pagamento em débito. O ganho da Hub Prepaid vem da taxa cobrada dos lojistas quando uma compra é feita com o cartão da empresa. "Eu não cobro nada do portador do cartão, mas quanto mais ele usar, mais eu ganho, já que metade da taxa de desconto vem para o emissor. Se ele sacar todo o dinheiro, eu não ganho", explica o executivo.

No caso da 99, o cartão foi lançado em 2015, e desde julho do ano passado todos os pagamentos aos motoristas são feitos por ele. Cerca de meia hora após a corrida, o dinheiro já está disponível, segundo a Hub. O gerente financeiro da 99, Lucas Pimentel, explica que a ideia era facilitar a forma de pagamento para os condutores, mas também reduzir os custos da própria 99.

"Quando transferíamos o dinheiro, pagávamos DOC, TED. Era pouco eficiente, custoso e tinha um prazo maior para o recebimento, o que também era ruim para o motorista, porque ele tem que pagar a gasolina todo dia, por exemplo", afirma.

A ideia foi bem-vista por condutores como Maurício Martino, que desde que foi demitido de um banco, há um ano, trabalha dirigindo para 99, Easy, Uber e Cabify. "Essa forma de pagamento é mais prática do que aguardar o crédito em conta corrente, que acontece só uma vez por semana em empresas como a Uber e o Cabify. Com o dinheiro caindo na hora no cartão, já posso abastecer ou usar na minha alimentação", explica.

Diferentemente do que acontece na 99, na Easy o uso do chamado Easycard é opcional e o dinheiro está disponível em até 48 horas, de acordo com a Hub. Bruno Mantecón, diretor de operações da Easy, explica que a solução foi pensada para que o aplicativo conseguisse atrair quem é "desbancarizado" e, assim, aumentar o número de motoristas.

"A ideia com isso era fazer a base de condutores crescer, atraindo também quem não tem conta em banco ou está em débito com a instituição bancária. Com o Easycard, essas pessoas podem rodar e aceitar as corridas pagas com o cartão pelo aplicativo", conta Mantecón. Segundo o diretor, não foi feito um levantamento oficial para saber quantos condutores são "desbancarizados", mas, pela sua percepção, o número é "bastante relevante", assim como o número de pessoas que pagam via crédito - que são "a grande maioria".


O engenheiro Luciano Pereira, por exemplo, tem dívida com um banco e prefere receber pelo cartão. Mas critica as opções de saque oferecidas pelas empresas. "Uma vez os caixas estavam fora do ar e as lotéricas também estavam com problema. Eu precisava pagar o financiamento do carro e não consegui sacar o dinheiro. Além disso, as taxas são muito caras", diz. Mesmo assim, para ele o cartão é a forma de pagamento mais viável. "Tirando o problema do saque, prefiro o cartão. Às vezes, consigo deixá-lo com a minha esposa pra ela fazer compras, o dinheiro cai mais rápido, então posso arcar com meus custos. Na minha opinião é melhor."

O Cabify, que por enquanto só oferece como forma de pagamento o crédito em conta corrente, está estudando alternativas como o cartão. Segundo seu diretor de operações, Luiz Saicali, a empresa já está em contato com três instituições de pagamento especializadas na emissão de cartões.

A ideia, segundo o executivo, é oferecer não só uma alternativa ao crédito em conta, mas também um programa de benefícios. "Não queremos só dar o cartão, mas oferecer algum programa de pontos e vantagens no uso, mas tudo ainda está em fase de estudo e negociação", afirma.

Apesar dos planos, Saicali garante que o fato de não trabalhar com o cartão não é um "bloqueio" para os motoristas. Ele conta que muitos dos que têm restrições para trabalhar com instituições financeiras usam a conta corrente de terceiros para receber as corridas.

A Uber, que também só disponibiliza os repasses semanalmente via conta corrente, afirma que está "testando diferentes formas de pagamento" ao redor do mundo, mas sem especificar quais são elas. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa explicou que desde o mês passado oferece a opção "Flex Pay", em que os motoristas podem solicitar um adiantamento dos pagamentos, que caem na conta em até dois dias úteis após o pedido. Segundo a empresa, os condutores também podem receber o pagamento em espécie, o que lhes dá a possibilidade de "ter dinheiro disponível sempre que precisar". A Uber, no entanto, não divulga qual a porcentagem das corridas que é paga em espécie.

 

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