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05/12/2016 - Sob críticas, Elo amplia aceitação

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Por Flavia Lima | De São Paulo | Valor Econômico

Com poucos anos de vida, a bandeira de cartões Elo se equilibra entre os avanços ancorados na força dos sócios controladores e um punhado de críticas vindas de seus pares. A joint venture entre Banco do Brasil, Bradesco e Caixa, no entanto, segue firme no processo de elevar a sua aceitação no mercado ao incluir hoje em sua operação 700 mil "moderninhas", as máquinas da PagSeguro usadas especialmente por pequenos empreendedores.

Mesmo sem a nova força, a Elo chega ao fim de 2016 com R$ 100 bilhões em compras feitas com o cartão - alta de 15% sobre todo o ano passado. O volume corresponde a cerca de 10% de um setor que movimenta mais de R$ 1 trilhão por ano e sustenta, segundo especialistas, grande potencial de expansão, além de ser fonte de receitas financeiras e de serviços.

Os números parecem modestos dado que a própria Elo previa chegar a 15% do mercado no fim de 2016. Também são bem inferiores à fatia das duas gigantes internacionais do setor, Visa e MasterCard  que, juntas, detêm cerca de 85% do mercado. Mas é preciso lembrar que a Elo constrói sua participação ancorada em três dos maiores bancos do país e rodeada por empresas do mesmo grupo de controle que, de uma forma ou de outra, atuam no segmento de cartões - como a credenciadora Cielo e a empresa de voucher Alelo.

Não que a Elo e suas irmãs sejam o único exemplo do tipo. No Brasil, os bancos não só cuidam da atividade de emissão do cartão como também são sócios das principais credenciadoras - as donas das maquininhas -, ficando com eles, no fim das contas, boa parte da cadeia de pagamentos do setor.

Apesar disso, o presidente da Elo, Eduardo Chedid, compara a bandeira ao mitológico David. "Juntando Hipercard, Amex e Diners devemos chegar próximo a 15% do mercado. Claramente é David e Golias, não tem outra explicação. Por isso que a gente comemora tanto esses marcos", diz Chedid, um respeitado executivo do setor de cartões com mais de 11 anos de carreira na própria Visa, empresa que deixou em 2008.

Segundo Chedid, é fácil criticar agora que a empresa ganha tamanho. "Mas quando a empresa era pequena, fase em que todo mundo precisava ter feito investimento, ninguém queria fazer".

O potencial da bandeira, contudo, é inegável. Desde que foi criada, em 2011, a Elo avança sobre uma base de cartões de débito. Eles correspondem a 80% dos plásticos que levam a bandeira, mas são, pelas contas da própria Elo, 15% menos rentáveis que os de crédito. Em agosto, porém, um obstáculo importante à maior emissão de crédito foi removido com a aceitação internacional da Elo, o que pode ter impacto relevante no negócio.

Outro ponto interessante é que a criação de uma bandeira local faz parte de estratégia global, compartilhada por países como China, Japão e, mais recentemente, a Turquia. Nesses países, um volume cada vez maior de transações feitas com cartões, mas processadas por estrangeiras, chamam a atenção de empresas locais. No total, são quase 30 bandeiras locais em um movimento que é acompanhado de perto pelas grandes do setor.

Ao lado das marcas irmãs, no entanto, o "David" tem incomodado credenciadoras, que de maneira reservada acusam a Elo de morosidade no processo de abertura do mercado e de fechar o cerco para deixar o maior naco possível da receita tarifária "dentro do grupo". Além de varejistas, que na semana passada denunciaram o grupo controlador por condutas vistas como abusivas e anticoncorrenciais. Sobre a questão levada, a Elo alega não ter sido notificada.

O foco, diz Chedid, é olhar à frente e dar o passo que alguns pares alegam que a empresa demora a dar: a mudança, dentro do cronograma acertado com o Cade e com o Banco Central, do modelo de negócios do setor para a chamada captura plena ("full").

Chedid assegura que o modelo novo estará 100% até abril, com os credenciadores operando a pleno vapor a partir de julho. A mudança é considerada importante porque, no modelo atual, a Cielo é o único credenciador do cartão Elo, usando as outras maquininhas apenas como capturadores e absorvendo boa parte da receita da operação.

No novo modelo, qualquer maquininha poderá receber o cartão Elo, capturar a transação, processá-la e liquidá-la. O que significa não só mais tarifas, como também uma maior fatia para a máquina que fizer a operação em um mercado hoje dominado pela irmã Cielo, pela Rede, do Itaú, e em menor grau pela GetNet, do Santander.

A Elo é crucial nesse jogo porque, no Brasil, são as bandeiras que estabelecem os arranjos do setor de cartões. São responsáveis por definir as tarifas que cobram do banco emissor do cartão e do credenciador dos estabelecimentos que aceitam a bandeira. Assim como a taxa de intercâmbio, ou a remuneração do emissor paga pelo credenciador em cada operação.

Como o grupo controlador de Elo acaba atuando em todas as pontas do setor, cresce o temor entre os críticos que a bandeira estabeleça regras que favoreçam as outras empresas do grupo.

Para Chedid, há muita lenda nessa história. "Não tem interferência [dos bancos controladores] para me dizer o quanto tenho que cobrar de ninguém", diz. "Se quiserem me criticar porque vou ser diferente de Visa e Master, por favor, o façam. Porque não quero e nem posso ser igual, dada a escala brutal que eles têm no mundo".

Uma dessas diferenças, diz ele, é a maneira como a Elo vai taxar as maquininhas. Hoje essa cobrança é feita por credenciadora e a ideia é fazê-la por tipo de estabelecimento. O que significa isonomia entre credenciadores, algo que pode descontentar os menores.

No fim de julho, Chedid fez suspense ao dizer que existiam dois contratos, um já assinado, para que outros bancos passassem a oferecer a bandeira. Hoje o executivo desconversa indicando que o acordo dependeria do novo arranjo. Especialistas, porém, dizem achar difícil que um banco grande seja esse parceiro. Estimativas apontam que BB, Bradesco e Caixa respondem juntos por 50% do volume financeiro movimentado em cartões e por 60% dos plásticos emitidos no país.

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