29/08/2023 - ´Como não existe nada sem juros, conta está sendo paga de outra forma´, diz Campos Neto sobre cartão de crédito
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Por Álvaro Campos e Victor Rezende, Valor — São Paulo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o problema do cartão de crédito é polêmico e que as autoridades estão debruçadas há muito tempo sobre isso. Ele lembrou que o Brasil tem um sistema onde o consumo é baseado em cartão, que responde por quase 40% do total. "Então talvez esse instrumento esteja tendo função além do que deveria".
Ainda assim, da carteira total de cartão de crédito, dois terços não pagam juros, o que dá cerca de 15% do crédito total no sistema financeiro. "Como não existe nada sem juros, essa conta está sendo paga de outra forma", apontou.
Campos Neto disse que nos últimos anos houve uma emissão muito grande de cartão, e disse que geralmente o novos players têm uma inadimplência mais alta. Até porque, em momentos de maior dificuldade, os bancos tradicionais saem do "mar aberto" (crédito para não correntistas).
Assim, o presidente do BC argumenta que esse cenário levou alguns entrantes a terem uma inadimplência muito alta, que por sua vez os leva a cobrarem juros muito altos, e isso acabou afetando a taxa média do sistema financeiro.
Ele apontou que, se há inadimplência de quase 50% em algum produto - no caso, o rotativo do cartão - "tem alguma coisa errada" com ele. Por outro lado, ressaltou que o parcelado sem juros é uma modalidade importante, "que não pode sofrer nenhuma ruptura".
Diante desse cenário complexo, ele afirmou que não tem como dizer qual será a solução encontrada pelo grupo de trabalho montado para discutir o assunto. Mas ressalvou que, às vezes, não fazer nada pode ser pior. Ou seja, deixar o mercado como está, com inadimplência e juros altíssimos no rotativo, poderia levar a um "ruptura" na concessão de cartões.
Dessa forma, Campos Neto defendeu que talvez seja melhor encontrar uma solução estrutural, ainda que ela seja implementada de forma faseada, no médio e longo prazo.
