Museu do Cartão de Crédito

22/08/2023 - Open finance agiliza transformações nos modelos de negócios

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Por Monica Magnavita, Roseli Loturco e Jiane Carvalho — Para o Valor, do Rio e de São Paulo
 
                                                                 
 
O open finance, ou finanças abertas, a etapa seguinte ao ambiente de open banking desenvolvido pelo Banco Central (BC), vem consolidando mudanças relevantes no modelo do sistema financeiro. Mais que isso, no modo como as pessoas pagam suas contas e administram seu dinheiro.
 
Lançado no início de 2021, o ecossistema criado pelo BC, que permite ao cliente autorizar o compartilhamento de suas informações entre as diferentes instituições financeiras cadastradas, chegou em julho com cerca de 24 milhões de clientes únicos, 37 milhões de consentimentos de compartilhamentos de dados ativos e mais de 800 instituições participantes de todos os portes, incluindo bancos, cooperativas de crédito e fintechs. Os números, embora tímidos em relação às 469 milhões de contas totais ativas em 2022, conforme a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), são considerados muito positivos, na avaliação do BC.
 
A velocidade das mudanças impõe desafios para todos os participantes do sistema. De olho em um mercado que só em cartões movimentou R$ 1,7 trilhão e, em transações Pix, mais de R$ 7 trilhões no primeiro semestre, os grandes bancos, por exemplo, enfrentam a chegada de centenas de fintechs, bigtechs, marketplaces e lojas de varejo oferecendo os mesmos produtos e serviços que antes pertenciam só a eles e seus pares. No contra-ataque, altos investimentos têm sido feitos.
 
O Banco do Brasil (BB), por exemplo, vem avançando nas novas funcionalidades do Pix e investiu em startups para ampliar a participação também no mercado de cartões. O banco criou em 2022 o programa de inovação aberta Corporate Venture Capital (CVC), com aporte de R$ 200 milhões. Do total, um terço já foi usado em seis startups, sendo três que atuam em meios de pagamentos. Uma delas é a Payfy, plataforma de gestão de cartões corporativos, que faz a conciliação e gerenciamento de gastos dos colaboradores da empresa.
 
No caso das bandeiras de cartões de crédito, a estratégia de aquisições se intensifica. “Investimos US$ 5 bilhões em 15 aquisições nos últimos anos. Olhamos empresas que têm capacidade de oferecer serviços globais porque operamos em mais de 200 países”, diz Marcelo Tangioni, presidente da Mastercard Brasil. O país é a segunda maior operação global da empresa, atrás dos Estados Unidos.
 
O executivo explica que a pandemia acelerou em três anos o processo de digitalização da empresa, e as transações on-line e por aproximação avançaram rapidamente. Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), só no primeiro semestre, as compras remotas com cartões cresceram 10% em relação ao primeiro semestre de 2022 e movimentaram R$ 372 bilhões. No mesmo período, os pagamentos por aproximação somaram R$ 414,8 bilhões, alta de 76,1%. “Hoje representam mais de 40% das transações na indústria e na Mastercard chega próximo a 50%. Há dois anos, eram cerca de 20%. Teve evolução muito forte”, diz.
 
Ao mesmo tempo que crescem as compras on-line, multiplicam-se as tentativas de fraudes financeiras. Os dados mais recentes disponibilizados pelo BC mostram que entre 2019 e 2021 os prejuízos ao sistema financeiro com fraudes e golpes somaram R$ 7,69 bilhões, com a recuperação de apenas 19,5% do valor.
 
Dados levantados pela empresa de prevenção de fraudes e segurança digital CAF revelam que no primeiro trimestre deste ano 1,73% das transações digitais no sistema financeiro foram criminosas. “A fraude no mundo digital evoluiu para um negócio organizado e bem financiado, com compartilhamento de dados e acesso a ferramentas sofisticadas”, afirma Jason Howard, CEO da CAF. Na edição do Mapa da Identidade e da Fraude da CAF, a biometria facial foi o principal método para identificar fraudes, com 76% de eficácia.
 
                     Investimos US$ 5 bilhões em 15 aquisições de empresas nos últimos anos”
                       — Marcelo Tangioni
 
Empresas que atuam no desenvolvimento de sistemas antifraudes e com análise de dados para detectar tentativas de golpes também veem a demanda aumentar. Exemplos dessas soluções são o Pix Antifraude, criado pela QI Tech para detectar golpes com o Pix, e o Revenue Protect, da multinacional Adyen, que usa machine learning e inteligência de dados para validar transações. Com o Pix Antifraude são analisados mensalmente 1,3 milhão de usuários, segundo a QI Tech.
 
A ferramenta já atingiu a marca de 13 milhões de cadastros validados e provas de vida, o que segundo a QI Tech evitou que mais de R$ 20 bilhões fossem fraudados. “Antifraude é uma das nossas vertentes de atuação e já representa um terço da receita e do numero de clientes”, comenta Gabriel Scherer, sócio responsável pelo núcleo antifraude, crédito e analytics da QI Tech.
 
O Pix Antifraude foi lançado junto com o meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, em 2020. “Quando o dinheiro é enviado analisamos em um décimo de segundo o risco de ser fraude. Podemos barrar a transação, mandar para a analise manual ou usar outro fator de autenticação, o reconhecimento facial”, explica Scherer.
 
“Quando uma pessoa abre conta em um dos nossos clientes, como o 99, solicitamos a foto. Se houver tentativa de uso do app em local ou horário fora do padrão e suspeitarmos, bloqueamos até que faça o reconhecimento facial”, explica. A QI Tech informa que o volume de transações analisadas no Pix Antifraude cresceu 243% de janeiro a julho de 2023 contra o mesmo período no ano anterior. Enquanto isso, o percentual de tentativas de fraude saiu de 3,27% para 5,22% se considerados os mesmos períodos, alta de 159%.
 
Na Adyen, empresa global que atua como adquirente de pagamentos, a preocupação é detectar fraudes sem que haja uma piora na experiência do cliente final. O último Relatório Varejo 2023, produzido pela Adyen em 26 países, mostra que o ataque de fraudadores é visto como o segundo maior risco aos negócios, atrás apenas da redução do poder de compra causada pela inflação. Dados específicos do Brasil mostram que, por receio, 68% dos compradores acreditam que o risco de fraude está tornando as compras on-line menos atraentes. Outros 38% afirmaram que são conservadores na hora de adotar novas formas de por medo de golpes.
 
“Combater fraudes e garantir uma experiência segura para o cliente é parte da estratégia de negócio. O desafio é ter uma ferramenta flexível que analise uma quantidade enorme e diversa de dados, mas também valide o que o cliente  (varejo) considera fraude, algo personalizado que leve em conta as características do seu ramo de atuação”, comenta Renato Migliacci, vice-presidente de vendas da Adyen, citando a Revenue Protect.
 
Como um exemplo de uso da ferramenta, Migliacci cita o resultado obtido em um dos clientes da Adyen, a Domino’s Pizza, que registrou alta de 82% nos pedidos on-line durante a pandemia e na esteira viu a preocupação com segurança das transações e dados aumentar. “Com a ferramenta, a rede viu o número de transações autorizadas crescer em 10%, sem aumento de taxas de fraude e chargeback (contestação)”, explica Migliacci. “O desafio é grande porque tem que garantir operações não fraudulentas sem demora nas validações. Uma estratégia de risco mal calibrada afeta a relação do varejista com o cliente”, afirma o executivo.

 

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