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28/07/2023 - ´Alguém vai ter de abrir mão de alguma coisa´, diz Abecs sobre mudanças no rotativo do cartão

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Larissa Garcia | Valor Econômico 

Em meio a discussões no Ministério da Fazenda e no Congresso para mudar regras na tentativa de reduzir os juros do cartão de crédito rotativo, Giancarlo Greco, CEO da Elo e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), aposta que será tomada inicialmente uma medida para que a taxa caia no curto prazo, para depois ser implementada uma “agenda estruturante”.
 
“Em última instância, alguém vai ter de abrir mão de alguma coisa, que é o que deve acontecer, mas não vejo um choque vindo imediatamente. Vem uma medida para tentar trazer para um patamar mais baixo [os juros] e aí uma agenda estruturante”, disse a jornalistas ontem em um evento promovido pela Caixa em Brasília.
 
O rotativo é a linha pré-aprovada no cartão. O cliente que não paga o valor total da fatura ou faz saques por meio do cartão de crédito entra na modalidade, que é a mais cara ofertada pelo sistema financeiro: em junho, segundo dados do Banco Central (BC) divulgados hoje, a taxa média de juros alcançou 437,3% ao ano.
 
Greco apontou alguns problemas, como a oferta “absurda” de cartões e limites, mas disse que limitar a taxa de juros, como foi feito com o cheque especial, não é a solução. “Acho que o intuito de todo mundo é um só, como a gente viabiliza o consumo brasileiro de uma forma mais barata e eficiente. E, óbvio, as taxas de juros hoje estão em nível muito alto. Mas ainda não se tem nenhuma definição. A limitação da taxa é uma discussão muito sensível”, ressaltou.
 
Para ele, estabelecer um teto para a taxa do rotativo pode prejudicar o consumo e, consequentemente, o varejo. “Se vai colocar uma limitação ou não, qual é essa limitação? Vou usar a mesma do cheque especial? Mas o comportamento do cartão é totalmente diferente, hoje o cartão representa 40% do volume do consumo das famílias, tem uma importância enorme na gestão de fluxo de caixa de todos os brasileiros, então é isso que deixa a conversa sensível”, complementou.
 
Ele contou que esteve no Banco Central na última terça-feira para tratar do assunto.  “Eles estão muito preocupados com a solução que pode ser dada e vejo também o Congresso querendo conversar”, disse. “É preciso baixar a taxa de juros [do cartão] mas sem impactar tanto, porque quando eu falo do consumo estou falando do Produto Interno Bruto [PIB]”, ponderou.
 
Para o presidente da Abecs, extinguir o parcelamento sem juros também não resolveria o problema, mas o executivo defendeu algumas mudanças na ferramenta. “Se eu elimino hoje, quanto eu perco do consumo? Talvez dê para olhar alguns mecanismos do parcelado sem juros. Uma das reclamações do regulador, que eu acho que faz sentido, é que hoje a gente no Brasil parcela tudo, combustível, supermercado, farmácia.  O parcelado quando nasceu tinha intuito de pegar grandes tíquetes, compras mais esporádicas, mas o brasileiro abraçou e se tornou um mecanismo difícil [de eliminar]”, lembrou.
 
Greco disse que talvez haja uma mudança nas regras do rotativo ou uma limitação no parcelamento, que pode ser da fatura, por exemplo. “Hoje o volume de oferta de cartão e de limite é absurdo. Antes havia 1,5 a 2 cartões por pessoa há cinco, seis anos atrás. Hoje em dia são 4 ou 5 e todos eles com limite, porque entrou um volume enorme de empresas no mercado e estão fazendo oferta”, pontuou.
 
Em seu ponto de vista, criar um instrumento mais eficiente para medir a alavancagem de cada instituição tornaria a indústria de cartões “mais saudável”.
 
“Eu te dou hoje um cartão, você tem R$ 5 mil de limite, amanhã vem um novo entrante e dá também um cartão de crédito, só que não necessariamente ele tem a informação, pode saber se está negativado ou não, mas não sabe que você tem outro cartão”, frisou.
 
O executivo deu o exemplo de uma pessoa que recebe R$ 2 mil mensais e, com múltiplos cartões, tem um limite de R$ 20 mil. Isso, segundo ele, prejudica a capacidade de pagamento do consumidor. “Isso gerou na indústria uma oferta absurda de crédito e uma inadimplência também absurda. Esses componentes todos precisam ser endereçados”, completou.

 

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