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30/03/2022 - Pela primeira vez, Pix supera cartão em transações

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Por Mariana Ribeiro | Valor Econômico

O número de transações via Pix superou, no quarto trimestre de 2021, o de movimentações por meio de cartões de crédito ou de débito no país. Foi a primeira vez que o pagamento instantâneo assumiu a liderança entre os instrumentos mais utilizados. A maior parte das transações ainda é formada por transferências entre pessoas físicas, mas os números indicam a forte adesão à modalidade. Para especialistas, o Pix deve continuar crescendo, mas há fatores, ligados, por exemplo, a segurança e tecnologia, que podem limitar esse avanço.

Segundo os dados mais recentes do Banco Central (BC), as transações por meio de pagamento instantâneo somaram 3,89 bilhões nos últimos três meses do ano passado, uma alta de 34% sobre o trimestre anterior. Nos cartões, as movimentações também cresceram, mas em ritmo menor. Foram 3,85 bilhões no débito (alta de 9%) e 3,73 bilhões no crédito (avanço de 12%). Os pré-pagos subiram 20%, para 1,92 bilhão de operações.

As estatísticas da autoridade monetária mostram que desde o lançamento do Pix, em novembro de 2020, quem mais perdeu espaço foram as modalidades de transferência, como TED, DOC e intrabancárias. No último trimestre, foram 294 milhões de operações por meio de TED, por exemplo, uma queda de quase 50% em um ano.

Vice-presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo Vieira afirma que não existe uma competição de quem faz mais ou menos transações e “há espaço para todo mundo”. “Todos os arranjos são bem-vindos porque trazem competição e colocam à disposição do mercado soluções ajudam nesse processo de inserir a população nos meios eletrônicos de pagamento”, diz.

Segundo os dados da Abecs, o volume transacionado com cartões de crédito, débito e pré-pagos totalizou R$ 2,65 trilhões em 2021, uma alta de 33% sobre o ano anterior. A projeção para este ano é de um crescimento de 21%, para R$ 3,2 trilhões.

Vieira chama atenção ainda para o fato de o tíquete médio das operações por cartão ser bem mais baixo que o verificado no Pix. Isso, afirma, reforça a inserção maior dos cartões em pagamentos do dia a dia da pessoa física. De acordo com o BC, o valor médio das transações por Pix ficou em R$ 495 no quarto trimestre. Enquanto isso, foi de R$ 126 no crédito, de R$ 67 no débito e de R$ 21 no pré-pago.

O pagamento instantâneo já é amplamente usado para movimentações entre pessoas, mas também vem crescendo no universo que inclui as empresas. Em fevereiro deste ano, 72% das transações instantâneas foram de pessoa para pessoa, enquanto 18% foram de pessoas para empresas. Um ano antes, esses percentuais eram de 79% e 9%, respectivamente.

Sócio fundador da consultoria JL Rodrigues, especializada em regulação do sistema financeiro, José Luiz Rodrigues afirma que, diante do baixo custo e da velocidade das transações, a expectativa é que a utilização do Pix continue crescendo. Isso principalmente à medida que novas funcionalidades forem incorporadas, como a possibilidade do parcelamento. O BC tem uma ampla lista de funções a ser implementada, mas, como mostrou o Valor, o cronograma pode ficar comprometido pela greve marcada pelos servidores do órgão.

O especialista acrescenta que, em algum momento, o sistema instantâneo deve começar a afetar os cartões de forma mais direta, principalmente os de débito. “O cartão de crédito tem uma diferença pois tem outras vantagens, como pontos e ‘cashback’, mas aí estamos falando de um público mais privilegiado. O Pix incluiu muita gente no sistema.”

João Manoel de Lima Junior, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados de Regulação do Sistema Financeiro Nacional da FGV Direito Rio, também afirma acreditar que o sistema continuará avançando sobre o espaço de outros meios de pagamento com o passar do tempo. Ele pondera, no entanto, que há fatores que podem limitar esse crescimento.

O primeiro deles é tecnológico. “Um desses fatores é a eventual incapacidade institucional de, por exemplo, fazer frente às necessidades de inovações tecnológicas justamente para manter o instrumento sempre à frente e atualizado com as principais inovações”, explica, lembrando que no Brasil o Pix é operacionalizado pelo BC.

Ele afirma ainda que há riscos relacionados a fraudes e problemas operacionais. Em pouco mais de um ano de funcionamento do Pix, foram registrados três vazamentos de chaves. Na avaliação do pesquisador, apesar dos episódios, o sistema ainda não precisou enfrentar nenhum problema “escandaloso”. “Há um fator de novidade muito grande no Pix, é uma espécie de fenômeno cultural, mas ele ainda não foi exposto a uma grande crise, como pane, por exemplo. Em tecnologia, o risco operacional está sempre presente.”

Procurado, o Banco Central não comentou o assunto.

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